Com prejuízos bilionários desde que perdeu seus aeroportos mais rentáveis para a iniciativa privada, a Infraero calcula um rombo ainda maior com a nova rodada de concessões anunciada pelo governo na quarta-feira (23). Principalmente, porque o terminal de Congonhas, em São Paulo, o ativo mais lucrativo da estatal, foi colocado à venda.
Segundo documento assinado pelo presidente da Infraero, Antônio Claret de Oliveira, e pelo diretor jurídico da empresa, Eduardo Roberto Stuckert Neto, se o governo conceder os aeroportos superavitários da estatal vai comprometer o Orçamento da União em mais de R$ 3 bilhões, com fluxo de caixa negativo da Infraero por mais 15 anos, em valores aproximados, de R$ 400 milhões por ano, além da necessidade de R$ 7 bilhões em financiamento para Capex (plano de investimentos).
No ofício, endereçado ao ministro dos Transportes, Portos e Aviação, Maurício Quintella, a Infraero alertou que, no caso do Bloco Nordeste (aeroportos de Maceió/AL, João Pessoa/PB, Aracaju/SE, Juazeiro do Norte/CE, Campina Grande/PB e Recife/PE), o valor da outorga fixa inicial era de R$ 1,2 bilhão, caiu para R$ 800 milhões, e até a data do documento, de 17 de agosto, estava, no máximo, em R$ 200 milhões.
"Se Santos Dumont, Congonhas, Curitiba e Recife, justamente os superavitários, forem incluídos nas concessões, a Infraero ficará dependente dos recursos do Tesouro", destacou a empresa. Dos 54 aeroportos da Infraero, 17 são superavitários, sendo que esses quatro respondem por 78% do resultado da companhia e, junto com o de Manaus, representam 38% de toda a receita.
"Conceder os três blocos de aeroportos significará perda dos superavitários, absorção de mais de 1,6 mil empregados dos blocos a serem concedidos, que têm estabilidade garantida até 2020, conforme acordo coletivo de trabalho", ressaltou a Infraero. O documento revelou ainda que a empresa aportou R$ 3,7 bilhões nas Sociedades de Propósito Específico (SPEs) dos cinco aeroportos já concedidos - Confins, Galeão, Brasília, Guarulhos e Viracopos.
O governo anunciou a privatização de 14 aeroportos, dos quais 10 são administrados pela Infraero, porém não constam na lista os terminais superavitários de Santos Dumont e Curitiba. O Executivo também divulgou que pretende alienar a participação de 49% da Infraero nos cinco aeroportos já concedidos. Procurada pela reportagem na quarta-feira (23), a Infraero ainda não respondeu.