Rodolfo Borges
postado em 28/08/2017 06:30
A economia andou de lado no segundo trimestre. Após um crescimento de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) no acumulado entre janeiro e março, em relação ao quarto trimestre do ano passado ; sobretudo diante da densa recessão ;, analistas consultados pelo Correio esperam algo muito longe dessa pujança entre abril e junho. O resultado oficial, que será divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na próxima sexta-feira, deve mostrar um desempenho de estagnação da atividade.
Não será surpreendente se vier variação zero do PIB no segundo trimestre. Um ligeiro crescimento, ou mesmo uma queda, também têm grandes chances de ocorrer. De unanimidade entre as avaliações dos economistas, há apenas o fato de que a atividade só vai retomar um processo mais sustentável de reação a partir da segunda metade do ano.
A observação central entre os analistas é de que a agropecuária não ajudará a puxar a economia, como ocorreu no primeiro trimestre. Entre janeiro e março, frente ao quarto trimestre de 2016, o setor subiu 16,7%. Para o segundo trimestre, as previsões são de uma queda, até pelo efeito estatístico. ;Tem um efeito de base de comparação bastante alto. Isso daí já cria uma dificuldade para avançar a atividade mais ainda;, projeta o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito.
Só exportação
O que aflige Perfeito não é só a perspectiva de um resultado menos favorável da agropecuária, porque, para ele, o problema não está do lado da oferta, mas, sim, o da demanda. ;Os três principais componentes, os investimentos, o consumo das famílias, e o consumo do governo, devem vir baixos. O que pode continuar ajudando um pouco é o setor externo;, analisa. Nos cálculos dele, tais elementos devem provocar uma retração de 0,5% do PIB no segundo trimestre.
Outra explicação para uma geração de riquezas menor no período é atribuída a efeitos estatísticos pelo analista Artur Manoel Passos, do Itaú Unibanco. Resultados desfavoráveis de indicadores de setores produtivos de março provocaram um efeito de desaguamento no trimestre. Tal análise, prevê, deve pesar para que o PIB fique estagnado, com variação zero.
Apesar de perspectivas mais pessimistas, resultados positivos de alguns setores produtivos ao longo do segundo trimestre e o próprio resultado do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) para o segundo trimestre, que subiu 0,25%, são analisados como positivos pelo economista-chefe da INVX Global Partners, Eduardo Velho. Para ele, tais elementos apontam para uma retomada no comportamento de consumo das famílias.
;É evidente que ainda não há recuperação em termos de massa de emprego e de salários, na comparação com o cenário anterior à crise. Mas acho que o PIB pode surpreender um pouco;, pondera ele, que prevê uma alta de 0,2%. Uma reação maior poderia ser observada caso os investimentos apresentassem um sinal melhor, mas não é o caso, pondera Velho. ;Não há como puxar muito. Não é só porque os juros estão caindo que o consumo vai voltar rápido;, ressalta.
Sinais mais claros de reaquecimento da atividade deverão ser notados apenas a partir do terceiro trimestre. A inflação, que encerrou junho no acumulado em 12 meses em 3%, manteve uma trajetória de desaceleração. Embora esse ciclo deva ser interrompido em setembro, ainda é positivo para a manutenção dos cortes da taxa básica de juros (Selic).
Uma gradual melhora na demanda, por sinal, já é notada pelo economista-chefe da Opus Investimentos, José Márcio Camargo. Para ele, os últimos indicadores denotam alguma incipiente reação no consumo. ;O emprego por conta própria está crescendo muito forte. E os serviços de transporte de carga também estão subindo;, destaca.
Tais sinais levam Camargo a crer que o PIB no segundo trimestre possa subir 0,3%. Para os trimestres consecutivos, ele espera por uma continuidade do reaquecimento da economia, com auxílio das medidas anunciadas pelo governo de injeção de dinheiro na economia, como os saques das contas inativas do PIS/Pasep, e recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para micro, pequenas e médias empresas. ;Todas essas medidas são importantes a curto prazo, embora eu esteja mais otimista a médio prazo;, ressalta.