As perspectivas de boas vendas nas festas de fim de ano estão alimentando os sonhos dos varejistas. Após dois anos de recessão e de queda nas vendas do comércio, a reação da economia vai ajudar a reerguer a atividade. O setor prevê que terá, neste Natal, o melhor desempenho em quatro anos.
Motivos não faltam para sustentar o otimismo. A inflação, que tanto comprometeu o poder de compra das famílias, deu trégua este ano. Com a desaceleração dos preços, os juros também caíram. E, se há uma receita que agrada aos consumidores, é a possibilidade de comprar produtos à vista, com preços mais em conta, ou em prestações que caibam no orçamento. Devido ao cenário favorável, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) espera para o Natal de 2017 um crescimento de 4,3% nas vendas.
Outro fator que nutre as expectativas de um Natal mais gordo é a melhora do mercado de trabalho. Após o contingente de desempregados ter atingido quase 14% da população ativa, no auge da recessão, o aumento das contratações ; a princípio, em regime informal, e, mais recentemente, também com carteira assinada ; reforçam a perspectiva de incremento nas vendas. A expectativa de maior movimento nas lojas, por sua vez, terá peso fundamental para a geração de vagas temporárias no comércio, que devem crescer 9,6% em relação ao ano passado.
[SAIBAMAIS]Para o próximo Natal, a CNC projeta a geração líquida de 73,1 mil vagas temporárias. Somente o segmento de vestuários e calçados deve responder por 66,9% desses postos de trabalho, prevê o chefe interino da Divisão Econômica da CNC, Fábio Bentes. Os ramos de artigos de uso pessoal e de móveis e eletrodomésticos vão oferecer 16,4% desses empregos. ;O crédito mais barato e a inflação menor favorecem os gastos das famílias com a compra de bens semiduráveis e duráveis. Do ponto de vista de recursos para o consumo, teremos certamente um Natal com melhores perspectivas;, prevê o economista.
Outro fator que leva Bentes a apostar em boas vendas no fim de ano é a injeção de R$ 15,9 bilhões na economia, a partir deste mês, com os saques das contas do PIS/Pasep. A medida, autorizada pelo governo, deve favorcer cerca de 8 milhões de consumidores. Embora o valor e o número de beneficiários sejam menores que os envolvidos no resgate das contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), no primeiro semestre, é um montante equivalente a 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB), que, certamente, contribuirá com um fluxo extra de recursos para o consumo.
As expectativas para o Natal são positivas não apenas por um benefício exclusivo e temporário do varejo. A previsão de melhora das vendas é um sinal de que o consumo das famílias, que responde por cerca de 60% do PIB, está dando sinais de retomada, ainda que lentamente. E a perspectiva de empregos temporários reforça a confiança dos empresários, que tendem a elevar os investimentos a médio prazo. São sinais macroeconômicos fundamentais para garantir um crescimento sustentado da economia.
Reforma
O otimismo dos empresários é reforçado, ainda, pela reforma trabalhista, que começará a gerar efeitos em novembro. A flexibilização da legislação deve favorecer a manutenção de cerca de um quarto dos 73,1 mil cargos temporários a serem criados no fim de ano. A CNC prevê uma taxa de efetivação de 27% desses empregados. ;É uma consequência da reforma. Claro que a nova lei vai demorar um pouco para pegar, mas aumentará o apetite do varejista em contratar;, diz Bentes.
A expectativa de ganhos de produtividade com a reforma trabalhista deve contribuir para que as vendas no Natal cresçam 2% nos shopping centers. É o que projeta o presidente da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), Nabil Sahyoun. ;Antes, não poderíamos contratar temporários por horas determinadas, como em horários de pico. Agora, teremos uma situação bem melhor;, pondera.
A flexibilização assegurada pela regulamentação do trabalho intermitente também reforça as expectativas de segmentos da área de alimentação. Afinal, além de presentear familiares e amigos, muitas famílias fazem refeições na rua em dezembro.
O presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Paulo Solmucci, prevê, para o último trimestre deste ano, faturamento 5% maior em relação ao mesmo período do ano passado. Embora a entidade ainda esteja fechando as projeções de vagas temporárias, é certo que o setor contratará mais trabalhadores provisórios do que em 2016. ;O setor sempre contratou de maneira temporária. Teremos um impacto muito grande, sobretudo nas regiões turísticas;, destaca. ;O trabalho intermitente deve favorecer a criação de 2 milhões de empregos no setor de alimentação fora do lar dentro de cinco anos;, acredita.
"O crédito mais barato e a inflação menor favorecem os gastos das famílias com bens semiduráveis e duráveis. Teremos um Natal com melhores perspectivas;
Fábio Bentes,
chefe interino da Divisão Econômica da CNC
chefe interino da Divisão Econômica da CNC