Economia

Petrobras derruba preços da gasolina, mas valor está mais caro nos postos

Brasiliense continua pagando valores que não refletem a redução nas refinarias da Petrobras. Nos últimos sete dias, a estatal reduziu o custo do combustível em 7%, mas revendedores não fizeram o mesmo movimento. Algumas cobram até mais caro pelo litro nas bombas

Rodolfo Costa
postado em 06/10/2017 06:00
O preço da gasolina vendida nos postos de Brasília destoa da realidade nas refinarias. Ontem, quando a Petrobras reduziu em 0,7% o preço do combustível na indústria ; a sexta queda consecutiva ;, o valor praticado no varejo pelos revendedores não contemplava o recuo de 6,3% acumulado nas últimas correções. Com a decisão da estatal, que passa a valer hoje, a retração foi para 7% no período de uma semana. Mas o que o consumidor ainda vê, na prática, são custos pouco condizentes com os recentes movimentos de mercado. Em alguns estabelecimentos, o preço se manteve; em outros, subiu.

O Correio percorreu 27 postos de combustível para comparar preços. Em nenhum deles constatou-se queda de, pelo menos, 6% no preço da gasolina vendida ao consumidor, em relação à semana passada. O que mais chegou perto de oferecer uma redução desse nível foi o posto da rede Ipiranga localizado na 115 Norte, que, nesse período, apresentou recuo de 5,5% no preço cobrado na bomba.

Brasiliense continua pagando valores que não refletem a redução nas refinarias da Petrobras. Nos últimos sete dias, a estatal reduziu o custo do combustível em 7%, mas revendedores não fizeram o mesmo movimento. Algumas cobram até mais caro pelo litro nas bombas

O estabelecimento se destaca quando se comparam o preço observado ontem, de R$ 3,74 por litro, com o valor cobrado na segunda-feira, de R$ 4. Nessa comparação, o recuo foi de 6,5%. No mesmo período, o preço da gasolina caiu 3,1% nas refinarias. Nenhum outro comércio visitado pela reportagem, porém, mostrou queda superior a 3%.

Em alguns postos, o preço da gasolina se manteve. É o caso de um revendedor da Petrobras, localizado na 103 Norte, que, ontem, cobrava R$ 4,14 pelo litro da gasolina. A situação é ainda pior em um estabelecimento da mesma rede, localizado no Setor Hoteleiro Norte. Em uma semana, o preço subiu 3,53%. Nos últimos três dias, a alta foi ainda maior, de 6,2% (veja arte).

O contraste entre os preços praticados no varejo e o movimento de queda nas refinarias deixa indignado o servidor público Eronilton de Jesus, 46 anos. ;É o mesmo sentimento de quando ouvíamos falar que o valor caía no exterior e o mesmo não acontecia aqui. É simplesmente revoltante;, criticou.

[SAIBAMAIS]Desde 30 de junho, a Petrobras segue um modelo de correção dos preços dos combustíveis que leva em conta as condições do mercado. Pesam nas análises questões como a taxa de câmbio e as cotações internacionais do petróleo e dos derivados. Os reajustes podem ser diários, ou seja, não há mais um represamento artificial, como ocorria na gestão da ex-presidente Dilma Rousseff.

Para Eronilton, o trabalho da estatal ainda é insuficiente. ;O preço da gasolina está pela hora da morte. Por mim, que o governo privatize a Petrobras se isso ajudar a reduzir o preço dos combustíveis;, disse. Com o orçamento familiar mais apertado para acomodar as despesas com o combustível, ele reduziu as viagens que fazia com a família nos fins de semana para o interior de Goiás.

Cartel

Uma vez que vigora no país a liberdade de preços, cada posto pode fixar o valor cobrado do consumidor dentro da sua visão mercadológica. Em Brasília, porém, até pouco tempo, operou um cartel de revendedores, que combinavam preços entre si. A Cascol, dona de cerca de 30% dos postos de combustível do Distrito Federal, informou que não comenta a política de preços, mas ressaltou que, desde abril, vem cumprindo rigorosamente o acordo firmado com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e o Ministério Público para suspender a prática danosa ao mercado. A empresa reiterou o ;compromisso de respeito à livre concorrência, de renovação das práticas empresariais e de implementação de rigorosas políticas de compliance.;

O peso do combustível no orçamento familiar tende a diminuir. A MacroSector Consultores avalia que não há tendência de alta no horizonte de 12 meses no preço do barril de petróleo. Diante do baixo crescimento da economia mundial, a expectativa é de que a demanda fraca pela commodity possa manter os preços baixos, efeito que deve se refletir na nova política da Petrobras. Já o impacto disso para o consumidor deve vir com o tempo. ;A tendência é que, cedo ou tarde, os preços na ponta também diminuam. É uma transição que nem sempre é instantânea;, destacou a consultoria.

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