Economia

Com Michel Temer no governo, queda de juros é sustentável

Flexibilização da taxa nos governos Lula e Dilma foram decididas sem respaldo macroeconômico. Para especialistas, existem condições de a Selic cair abaixo de 7%, porque algumas medidas importantes foram tomadas, como a reforma trabalhista

Antonio Temóteo
postado em 14/10/2017 08:00

A possibilidade de a taxa básica de juros (Selic) terminar o ciclo de cortes promovido pelo Banco Central (BC) abaixo de 7% ao ano não é descartada pelo mercado. Na avaliação de especialistas, o processo de flexibilização da política monetária promovido pela equipe de Ilan Goldfajn é sustentável e totalmente diferente do realizado por Alexandre Tombini, no governo Dilma Rousseff, e por Henrique Meirelles, quando comandava o BC durante a gestão de Luís Inácio Lula da Silva. Apesar disso, os economistas alertam que as indefinições quanto à aprovação da reforma da Previdência e o processo eleitoral de 2018 são riscos que podem atrapalhar a queda da Selic.

O recuo do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ; influenciado positivamente pela redução dos preços de alimentos e serviços ; combinado com uma taxa de desemprego ainda elevada, favorece o processo de queda de juros, explica o economista-chefe da Opus Investimentos, José Márcio Camargo. Ele detalha que, na história recente, a inflação de serviços sempre pressionou a carestia, mas deve fechar abaixo de 4%. ;Outra coisa importante é que o governo fez uma série de reformas importantes e isso ajudará a reduzir os juros estruturais da economia brasileira. A reforma trabalhista, por exemplo, vai mudar a dinâmica salarial do país e os reajustes tendem a ser mais próximos dos ganhos de produtividade;, destaca.

[SAIBAMAIS]Durante o governo Dilma, explica Camargo, a redução de juros foi feita à revelia das condições macroeconômicas, sem sustentabilidade, e a equipe de Tombini foi obrigada a elevar os juros de 7,25% ao ano para 14,25%. ;Quando o Meirelles presidia o BC, a inflação caiu porque o real se fortaleceu em relação ao dólar e gerou uma pressão deflacionária. Os três processos são completamente diferentes;, ressalta. Apesar das perspectivas favoráveis para inflação, o economista alerta que aprovar a reforma da Previdência é essencial para reequilibrar as contas públicas. ;Teremos juros reais próximos de 3% se as mudanças nas regras para concessão de aposentadorias passarem no Congresso Nacional;, ressalta.

Durante a gestão de Henrique Meirelles no BC, os juros chegaram, pela primeira vez, a um dígito. Em 2009, a Selic estava em 8,75% ao ano. Entretanto, a forte recuperação da economia, no ano seguinte, e as pressões inflacionárias obrigaram a autoridade monetária a elevar a taxa para 10,75% ao ano.

O economista-chefe da Órama Investimentos, Alexandre Espírito Santo, destaca que a sustentabilidade do processo de queda de juros promovido pela equipe de Ilan também tem como base a ancoragem nas expectativas de inflação, o que não era uma realidade durante a gestão de Tombini. Ele relembra que as políticas expansionistas de aumento de gastos promovidos por Dilma Rousseff pressionaram ainda mais o custo de vida e o represamento de preços administrados foi outro fator de instabilidade. ;Agora não há qualquer represamento ou políticas estimulativas. Também não havia perspectivas de realização de reformas como agora;, diz.

Os riscos ao processo de queda de juros, destaca Espírito Santo, estão ligados ao processo eleitoral e às mudanças no comando do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos. Para ele, a autoridade monetária brasileira não tem ingerência sobre esses fatores. ;No próximo ano também teremos uma recuperação da economia, com queda do desemprego e não há indícios de que os preços de alimentos continuarão em baixa. O BC precisa ser um pouco conversador. Há condições de os juros ficarem abaixo de 7% ao ano, mas 0,5 ponto percentual, levando a taxa pra 6,5% não fará tanta diferença;, comenta.

Retração


A recessão econômica, a maior da história brasileira, é apontada pelo economista José Luis Oreiro, professor da Universidade de Brasília (UnB), como um dos principais fatores que contribuíram para a queda do IPCA. Ele ressalta que esse processo foi favorecido pela redução dos preços de alimentos. ;Temos uma inflação de serviços baixa, algo inédito no país, diante do desemprego em alta. Tudo isso favoreceu uma rápida queda de juros, que pode cair abaixo de 7% ao ano. No governo Lula, havia espaço para que as políticas fiscal e monetária fossem expansionistas. As contas públicas estavam arrumadas. Já no governo Dilma, havia espaço para queda de juros, diante da crise do Euro, mas foi exagerada. Agora, o cenário é totalmente distinto;, afirma.

Oreiro ainda destaca que o desemprego em alta trouxe uma pressão positiva para a inflação de serviços, a mais baixa da última década. Ele avalia que o IPCA abaixo do piso da meta, de 3% dá tranquilidade ao BC para que reduza a Selic para os menores patamares da história. ;Todo esse contexto permite que os juros caiam para menos de 7%. Entretanto, esse processo precisa ser feito com cautela para que não seja necessário promover uma alta da taxa se houver uma mudança brusca no ambiente internacional ou até mesmo no país;, aleta.

Moderação

O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, afirmou ontem, em Washington, que o processo de redução de juros não terminou. ;Acreditamos que vamos moderar o ritmo de queda;, disse. O chefe da autoridade monetária detalhou que a Selic e os juros reais estão em níveis sustentáveis. Ilan ainda relembrou que o mercado está confiante de que os juros continuarão baixos em período longo. ;Talvez a gente consiga no Brasil um período de inflação e juros baixos;, projetou.

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