Economia

Franceses usarão Operação Carne Fraca para negociar acordo com o Mercosul

Deverão propor que as negociações ocorram num cronograma diferente. E que a questão de segurança alimentar seja incluída nas discussões

Agência Estado
postado em 17/10/2017 10:07
A carne brasileira só ingressa na União Europeia se estiver de acordo com as regras sanitárias
Os problemas de controle sanitário encontrados na Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, são o principal argumento a ser usado pela França para tentar modificar o mandato dado à Comissão Europeia para negociar o acordo comercial com o Mercosul. "O mundo mudou nos últimos anos e a segurança alimentar é um tema de grande importância", disse o embaixador francês no Brasil, Michel Miraillet.

[SAIBAMAIS]Os franceses pretendem levantar essa questão no Conselho Europeu, que reunirá os líderes do continente nesta semana em Bruxelas. Deverão propor que as negociações ocorram num cronograma diferente. E que a questão de segurança alimentar seja incluída nas discussões.

A ideia de adiar o fim das negociações foi levantada pelo presidente da França, Emmanuel Macron, na quarta-feira. Num evento com produtores agrícolas, ele afirmou que não é a favor de correr para fechar o acordo em dezembro - uma meta que havia sido aceita pelos dois lados da negociação. Agora, já se admite reservadamente que dificilmente será cumprida.

"Nós queremos o acordo", afirmou o embaixador. "Mas não a qualquer preço." Depois de ressalvar, como ponto positivo, que os problemas da Carne Fraca foram levantados pelo próprio governo brasileiro, Miraillet disse que "nada" foi feito a respeito. E que essa é uma questão que preocupa o consumidor europeu.

Fontes do lado brasileiro classificaram o movimento da França como uma manobra protelatória, reflexo das tradicionais pressões dos produtores agrícolas locais sobre o governo. Elas avaliam que a proposta francesa tem pouca chance de prosperar, porque ela é apoiada por um grupo pequeno de países. Para modificar o mandato negociador, é preciso que haja consenso dos 28 países-membros do bloco europeu.

Se a União Europeia abrir discussões sobre o mandato negociador, o Mercosul fará o mesmo, dizem fontes. Isso, na prática, jogará o fim das negociações, que se arrastam desde 1999, para uma data indefinida.

A carne brasileira, explicam, só ingressa na União Europeia se estiver de acordo com as regras sanitárias que ela aplica a seus fornecedores do mundo inteiro. Do contrário, a carga é rejeitada E não é possível ao bloco europeu estabelecer regras diferentes só para o Mercosul.

Proposta
Mercosul e União Europeia terão outra rodada de negociações entre 6 e 10 de novembro. O lado sul-americano espera uma nova oferta para o comércio de carne e etanol. Os números propostos há duas semanas foram considerados muito ruins, praticamente uma provocação. A pressão francesa pode ser um complicador para a Comissão Europeia propor cotas anuais maiores do que as 70 mil toneladas de carne e 600 mil toneladas de etanol colocadas sobre a mesa. O Mercosul esperava no mínimo 100 mil toneladas de carne e 1 milhão de toneladas de etanol. "A oferta pode piorar", diz o embaixador. "Não temos o tira bom e o tira mau. Somos todos maus " As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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