Simone Kafruni
postado em 07/11/2017 12:47
O governo não desistiu de aprovar a reforma da Previdência, garantiu, nesta terça-feira (7/11), o secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, Mansueto de Almeida, um dia após o presidente Michel Temer ter admitido que a proposta pode ser derrotada no Congresso. ;O presidente não jogou a toalha. Ele falou que vai tentar passar, mas isso depende do Congresso;, afirmou, durante o evento Diálogos estratégicos, abertura econômica para desenvolvimento e bem-estar, realizado pela Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.
Para o secretário, a incerteza da aprovação já começa ter impacto negativo. ;Quando a gente olha para as negociações dos mercados futuros, vê que os juros começam a subir. Isso não era para ocorrer, porque a expectativa é de inflação baixa. O mercado espera isso pelo fator de incerteza da aprovação da reforma da Previdência;, avaliou.
Segundo Mansueto, o cenário atual é positivo para os próximos dois, três anos, com inflação em torno de 4% ao ano e juros baixos, de 7% este ano e 8% em 2019 e 2020. ;Mas alguns agentes de mercado já apostam em juros a 10% a partir de 2020 por conta da incerteza sobre a Previdência;, afirmou.
Mansueto ressaltou que se a reforma não for aprovada, vai faltar recursos para ;absolutamente tudo;. ;Só o gasto com Previdência vai crescer R$ 50 bilhões no ano que vem, de uma despesa total que vai crescer R$ 68 bilhões. Em 2019, mais um aumento de R$ 40 bilhões;, alertou.
Arrecadação
O problema para o cumprimento da meta fiscal não é a despesa, mas a arrecadação, salientou Mansueto. ;O que está ocorrendo, recentemente, com a receita é positivo. Tivemos queda de janeiro a julho, seis meses de frustração de receitas. Mas de agosto a setembro a arrecadação foi muito boa;, disse.
Segundo ele, isso reflete a melhoria recente da economia e o resultado das privatizações. ;Os leilões, tanto do setor elétrico quanto de petróleo e gás, têm sido muito positivos. Em maio do ano que vem, teremos mais. Então, na parte de arrecadação, o programa de concessão está andando muito bem;, opinou.
Ainda assim, o desafio do governo para o próximo ano é mais do lado da receita do que da despesa. ;Porque a despesa está dada. Agora, sem fazer reforma da Previdência, vai ficar cada vez mais difícil cumprir a PEC do teto dos gastos;, avaliou. Conforme o secretário, a despesa primária do ano que vem, encaminhada ao Congresso na semana passada, será de R$ 1,372 trilhão. ;Mais da metade disso, cerca de R$ 700 bilhões, é Previdência, que comprometerá 10,4% do PIB (Produto Interno Bruto), ante 19,2% do PIB em despesa, ou seja, mais de 54%;, ressaltou. O rombo previdenciário, disse ele, compromete os investimentos. ;Este ano, o investimento será de apenas 0,6% do PIB, para uma despesa programada de 19,6%. O governo não tem espaço para investir por causa da Previdência;, assinalou.
[SAIBAMAIS]O secretário ainda comparou a situação brasileira com a do Japão. ;O Brasil será semelhante ao Japão em número de pessoas idosas daqui a 40 anos, mas já gasta mais com Previdência hoje. Precisamos ajustar isso, porque cada ano que a gente atrasar da reforma, mais dura ela terá que ser;, afirmou.
Sobre o adiamento do reajuste dos servidores, Mansueto disse que o governo está conversando com os deputados e senadores. ;Tudo está dentro do programado. Se algum reajuste for aprovado, teremos que cortar o correspondente da despesa para adequar ao deficit primário de R$ 159 bilhões;, concluiu.