Marília Sena*
postado em 10/11/2017 07:00
A gasolina teve baixa significativa neste mês, mas só nas refinarias da Petrobras. A estatal, que anunciou mais uma redução no valor do produto, a partir de hoje, promoveu um corte de 15,72% no preço do combustível desde 29 de outubro. A diminuição, porém, não tem sido verificada na mesma proporção nos postos de revenda. Em Brasília, por exemplo, nos trinta postos visitados regularmente pelo Correio, a redução média foi de apenas R$ 5,43% no período.
O litro do produto custava entre R$ 4,69 e R$ 4,39, ontem, em postos da Asa Sul, da Asa Norte e da Estrada Parque Taguatinga (EPTG) ; local em que costuma ser mais barato. Para o consumidor, a diminuição não tem sido suficiente para aliviar o orçamento. Maiki Naves, morador de Águas Claras, usa frequentemente o carro para trabalhar, mas mesmo com as reduções nos preços da gasolina, ainda precisa traçar estratégias para abastecer. ;Com a mudança constante nos valores, eu gasto R$20 ou R$30 durante alguns dias na semana pra não pagar muito caro ou perder promoções;, contou.
Os gerentes de postos alegam que as reduções promovidas pela Petrobras não chegam inteiramente até eles. ;Conseguimos reduzir o valor do produto três vezes durante 10 dias, e gostaríamos de manter isso, pois o movimento aumentou;, afirmou o administrador de um estabelecimento na EPTG. Em outro, a gerente disse que só pôde fazer a redução do preço na última semana, pois o valor mais barato demorou a ser repassado.
Custos
Segundo Pedro Tavares, presidente do Sindicombustíveis DF, vários fatores impedem o repasse total da queda aos consumidores, entre eles, o aumento expressivo do valor do álcool anidro, que é misturado à gasolina. O biocombustível, que custava R$ 1,69 em 31 de outubro, ontem tinha cotação de R$ 1,94, de acordo com sites de cotações agrícolas.
De acordo com Tavares, outro problema é Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). A cobrança sobre a gasolina subiu R$ 0,20 há um mês, no Distrito Federal. ;O preço do combustível está diminuindo porque há concorrência entre os estabelecimentos. A queda não beneficiou os donos dos postos;, alegou.
Para Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), a atualização dos preços da gasolina demora a chegar aos consumidores porque os postos têm estoque, ou seja, enquanto não compram das distribuidoras o combustível por um preço menor, não baixam o valor de revenda. Outro motivo é a falta de confiança no governo ;O mercado não acredita que o governo não vai mexer mais no preço, ou seja, tabelar o combustível como fez antes. Há uma desconfiança;, explicou. Além disso, segundo Pires, algumas distribuidoras não repassam os reajustes aos postos, isto é, vendem pelo preço antigo para aumentar a margem de lucro.
De acordo com o diretor do Cbie, a tendência é de que o preço da gasolina continue caindo, pois, com a eleição do candidato do PSL, Jair Bolsonaro para a Presidência da República, o preço do dólar deve continuar estável. Outra explicação é a queda da cotação do barril do petróleo no exterior, que estava em US$ 80 na semana passada e ontem fechou em US$ 69,15, de acordo com o site investing.com. ;Eu não vejo nenhum risco para essa realidade mudar, só se acontecer algo no mercado externo;, afirmou.
* Estagiária sob supervisão de Odail Figueiredo