Economia

Brasil tem longo caminho a percorrer contra desigualdade, afirma secretário

Secretário nacional de Políticas e Promoção da Igualdade Racial diz que governo trabalha em duas frentes: o genocídio da juventude negra e o racismo institucional

Ingrid Soares
postado em 18/11/2017 08:00

No dia em que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que o mercado de trabalho deixa muito a desejar, principalmente, para jovens negros e pardos no Brasil, o secretário nacional de Políticas e Promoção da Igualdade Racial, Juvenal Araújo, em entrevista ao Correio, admitiu que ainda há um longo caminho para ser percorrido para reduzir as desigualdades e a discriminação.

Ele afirmou que há grande dificuldade de perceber o negro como um ator político e que é preciso que a participação negra no Parlamento seja maior. Para Araújo, o racismo tem vários tentáculos nas vertentes estrutural, religiosa e institucional. Segundo a Pnad Contínua, do IBGE, a presença dos trabalhadores negros e pardos no mercado é superior à dos brancos apenas na agropecuária, na construção, em alojamento e em alimentação.

Às vésperas do Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, o secretário ressaltou que o combate ao racismo deve ser um compromisso de todos. Confira os principais pontos da entrevista que tratou dos desafios da luta pela igualdade racial.



Como o senhor enxerga a situação do negro no atual mercado de trabalho?

O quadro é preocupante, tem que avançar bastante, no sentido de dar à população de cor preta ou parda igualdade em relação ao que temos hoje para a população de cor branca. O negro sempre recebeu a menos. Temos muito negros capacitados, mas geralmente não ocupam posições de prestígio. Além disso, são a maioria desempregada no Brasil.

Qual tem sido o trabalho da Secretaria Nacional de Políticas e Promoção da Igualdade Racial?

Promovemos um ambiente de escuta e de valorização da participação social com a incorporação das pautas baseadas nos povos étnicos negros, ciganos, quilombolas e indígenas. Temos nos debruçado sobre duas grandes pautas: o genocídio da juventude negra (70% dos jovens assassinados são negros) e o racismo institucional. Também temos trabalhado na melhoria do diagnóstico da saúde para a população negra e na capacitação técnica da população negra LGBT. Estamos trabalhando a capacitação no atendimento humanizado também dentro da Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam). No crime de feminicídio, mais de 70% das vítimas são de mulheres negras.


[SAIBAMAIS]

Quais os principais desafios da igualdade racial?

O racismo tem vários tentáculos nas vertentes estrutural, religiosa e institucional. Não há negros em canais de ascensão no poder, como no Executivo, Legislativo e Judiciário. Há uma grande dificuldade de perceber o negro como um ator político. É necessária uma maior participação negra no parlamento brasileiro para que tenhamos representatividade, de fato. Sofremos discriminação religiosa. Um exemplo disso são as aulas de história africana, que, por lei, deveriam ser lecionadas nas escolas e não o são, muitas vezes, por conta da postura religiosa contrária do professor.

E a questão do racismo no futebol?

Não há nenhum presidente de clube negro. Temos uma proposta na CBF para trabalhar com juízes de futebol a fim de que eles entendam realmente o que é o racismo e a importância de colocar na súmula, pois é ali que está o registro para ser levado ao órgão cabível. Tem que haver também uma conscientização das torcidas sobre a questão racial e também dos dirigentes. A maioria dos clubes tem sócios e torcedores, em sua maioria, negros, mas que não são representados dentro do clube. A questão do racismo deve ser discutida aí também.


Qual a importância do Dia da Consciência Negra, comemorado no próximo dia 20?

Essa data é muito importante para conscientizar a população de que o racismo existe. Porém, a questão não deve ser lembrada apenas nesse dia, mas durante o ano inteiro. Aproveitamos o dia para contar a história de negros e negras que lutam e sentem na pele o que o racismo faz na sociedade. É um dia de luta para discutir os reflexos dessas desigualdades. Apesar de sermos maioria na população brasileira, ainda somos julgados pela pele. Isso é crime e tem que ser combatido. Nesta semana, trabalharemos com três agendas de debate do racismo na saúde, no futebol e na assistência social.


Qual o melhor modo de combate à discriminação e ao racismo?

O primeiro passo é reconhecer que existe o racismo. Precisamos de políticas públicas efetivas e permanentes e, principalmente, de educação de base de qualidade.

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