Jornal Correio Braziliense

Economia

Má fase do Uber ajuda Cabify e 99 a ganhar espaço no mercado

Empresas menores, como 99 e Cabify, são mais ágeis e evitam cometer os mesmos erros do principal adversário



Tantos problemas podem dificultar a vida da empresa também no Brasil, onde a Uber tem cerca de 500 mil motoristas cadastrados e em torno de 17 milhões de usuários. A companhia não quis comentar os problemas que a matriz tem nos Estados Unidos e se isso pode levar a uma reorganização no país. No entanto, segundo especialistas, os estragos são inevitáveis. Quem tem chance de avançar nesse momento são justamente os concorrentes menores, como 99 e Cabify, que aproveitam os erros do líder do setor para oferecer alternativas aos passageiros.

;A imagem da Uber sai arranhada. Pode ser uma startup, uma empresa disruptiva, mas no final das contas é um negócio que sofre com as dificuldades de ter se tornado gigante, de manter o controle de qualidade e a estrutura adequada de atendimento;, avalia Caio Bianchi, professor de pós-graduação de Criatividade e Gestão da Inovação da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).

Para o estudioso, a 99, principal concorrente da Uber no Brasil, consegue compensar os problemas da concorrente com mais agilidade. Foi assim, por exemplo, ao oferecer o serviço de mulheres motoristas para o atendimento de passageiras depois que começaram a ser divulgados casos de assédio nos carros cadastrados na Uber. ;A empresa cresceu muito rápido e vai precisar se reinventar para estancar os problemas. Como pioneira, ela deu a cara a tapa. E quem veio depois, mesmo não tendo tanto prestígio, vai melhorando aqui e ali e consegue se destacar;, diz.

Coordenador do Centro de Estudos em Negócios do Insper, Paulo Furquim de Azevedo lembra que o modelo de negócios da Uber exigia que seu crescimento fosse rápido. Afinal, sem uma base grande de motoristas a companhia não conseguiria atender seus passageiros com rapidez e acabaria empurrando a clientela para a concorrência.

Com o passar do tempo, a empresa passou por mudanças como investir em modelos de veículos mais populares. Nesse processo, deixou de descredenciar os motoristas mal avaliados pelos clientes. ;Empresas como a Cabify, por sua vez, passaram a investir no treinamento de seus motoristas para reduzir ao máximo o risco de queixas sobre assédio. Já a 99 resolveu apostar no desconto menor do valor a ser repassado pelas corridas;, diz Azevedo. Resta saber como a gigante Uber pretende se mexer no mercado daqui para frente, apesar de ter a reboque um amontoado de problemas.