Jornal Correio Braziliense

Economia

Orgânicos despertam apetite de investidores; mercado rende R$ 4 bi por ano

Nestlé, Unilever e fundos de private equity miram o setor de produtos sustentáveis, que movimenta R$ 4 bilhões por ano no Brasil, de palmito e azeite a massas e vinho



Em 2014, a marca paranaense Jasmine, especializada na produção de alimentos funcionais, foi vendida para a farmacêutica japonesa Otsuka, que passou a exercer o controle sobre a empresa por meio da subsidiária francesa Nutrition. No ano passado, seu faturamento foi de R$ 135 milhões e neste ano foram investidos R$ 10 milhões na produção de pães sem glúten, uma das apostas da companhia no exterior e no Brasil.

Outra multinacional que busca aproveitar o crescimento consistente dos orgânicos é a Nestlé. Há pouco mais de um ano, a multinacional suíça passou a incentivar a produção de leite orgânico e começou a desenvolver um projeto com agricultores da região de Araraquara (SP). O gado leiteiro não pode consumir alimentos que tenham utilizado adubo químico ou agrotóxico e deve ser medicado com homeopatia ou fitoterápicos.

Quando o projeto foi apresentado, 50 produtores de leite se interessaram em aderir, mas apenas 11 entraram na fase inicial porque nem todos tinham condições de adequar a propriedade às exigências para obter a certificação orgânica. Agora, já são 27 fazendas contratadas, que produzem 21,5 mil litros por dia. O projeto faz parte da iniciativa da empresa, em parceria com a Embrapa Sudeste e o Instituto Mokiti Okada, de incentivar a produção de leite orgânico em larga escala no Brasil e influenciar toda a cadeia do produto. O plano é alcançar 30 mil litros por dia no primeiro semestre de 2019, quando passará a comercializar o leite orgânico.

Fiel e engajado

;Grupos como Coca-Cola, Mondelez, Danone, Kellog;s, Pepsi e Nestlé têm se movimentado nessa direção no exterior, por isso é de se esperar que haja uma procura por negócios no Brasil ligados a linhas naturais;, diz Ming Liu. O foco dos investidores, segundo ele, são empresas inovadoras em suas áreas de atuação. O problema, diz, é o tamanho que esses negócios devem ter para se encaixar nos planos dos investidores. ;Isso restringe as buscas a poucas empresas. Hoje temos marcas como a Native, do Grupo Balbo, que é a maior produtora de açúcar orgânico do mundo, e a biO2, que atua no segmento de cereais;, diz.

A Native foi pioneira no lançamento do açúcar orgânico, há duas décadas. Na época, a mudança na forma de produção da cana-de-açúcar incomodou outros usineiros, que seguiam o método tradicional e consideravam o empresário Leontino Balbo um louco por reflorestar as áreas desmatadas e fazer o controle de pragas de forma natural. Hoje em dia, a empresa tem uma família de produtos, que vai do café ao achocolatado.

Em parte, o aumento da oferta de produtos orgânicos no país tem a ver com a demanda do varejo, explica Susy Yoshimura, gerente de sustentabilidade do Pão de Açúcar. A empresa começou a comercializar esse tipo de produto há duas décadas e hoje, segundo a executiva, as lojas oferecem alternativas orgânicas na maioria das categorias ; desde itens como palmito, azeite, sucos, biscoitos e massas, até os mais inusitados, como água de coco, energético, macarrão integral e vinho. São cerca de 1 mil itens cadastrados em toda a rede, vindos de aproximadamente 100 fornecedores, e desde 2011 há gôndolas exclusivas para expor essas mercadorias.

Apesar dos efeitos do aumento do desemprego no país, Susy diz que as vendas de orgânicos ; que custam mais que os produtos tradicionais ; não estão expostas às condições da economia. ;Os compradores de orgânicos são fiéis e já consolidaram a categoria em sua cesta frequente de compras, dificilmente fazendo substituições. Trata-se de um consumidor engajado, que valoriza os orgânicos e os consideram essenciais para a saúde e o bem-estar.;