Depois de muitas idas e vindas à Justiça, a diretoria da Oi espera aprovar, na assembleia da próxima terça-feira, o seu novo plano de recuperação judicial, apresentado no início desta semana à 7; Vara Empresarial do Rio de Janeiro.
Um dia após o anúncio, na quarta-feira, o valor de mercado da empresa foi reduzido em R$ 663,1 milhões, segundo levantamento da consultoria financeira Economatica. Na Bolsa de Valores de São Paulo (B3), as ações ordinárias da companhia despencaram 22,9%, atingindo a maior desvalorização desde 14 de junho de 2016, quando as perdas chegaram a 23,49%. Os papéis preferenciais também fecharam com forte queda, de 12,47%, abaixo apenas dos 13,01% negativos de 24 março deste ano. Ontem, os papéis da Oi registraram baixa e a perda no valor de mercado totalizou R$ 949 milhões em apenas dois dias. No dia 12, a Oi valia R$ 3.191.753.000 e ontem fechou o dia com valor de mercado de R$ 2.242.698.000.
Construída pelo atual presidente da Oi, Eurico Teles, e sem a interferência do Conselho de Administração, controlado pelo empresário Nelson Tanure e pelos portugueses da Pharol (antiga Portugal Telecom), a nova versão da proposta tem como foco reduzir pela metade a dívida de R$ 64 bilhões da empresa. Também prevê o aporte de mais de R$ 4 bilhões pelos credores em troca de 75% do capital da Telecom. Embora a nova versão do plano (a quinta desde junho de 2016) tenha sido vista por especialistas como uma saída para resolver os graves problemas de caixa da operadora, a proposta acabou sendo mal recebida pelos investidores, com o valor das ações despencando.
Votos de apoio
Paralelamente ao comportamento do mercado acionário, a Oi acredita que as propostas no plano, que ganharam o apoio do governo e da maioria dos credores, podem dar os votos necessários para aprovar as mudanças na assembleia da próxima terça-feira. ;Independentemente de quem está certo nessa história longa da Oi, reduzir a dívida da empresa é fundamental para aumentar a sua capacidade de investimento e torná-la viável novamente;, diz o economista José Barrionuevo, especialista em regulação na área de telecomunicações.Barrionuevo pondera, no entanto, que a briga jurídica com os portugueses da Pharol e o empresário Nelson Tanure, do fundo Société Mondiale, que no novo desenho terão suas participações bem diluídas na companhia, ainda está longe de acabar, e isso pode ter repercussões negativas no caminho de recuperação da Oi. ;Em termos de sustentação da empresa, a proposta é muito boa e melhora bem a situação econômica da Oi. Mas o que de fato vai acontecer e o que a Justiça vai considerar nesse imbróglio são uma incógnita;, avalia o economista.
Além da parte financeira, o plano prevê uma série de medidas de governança no sentido de diminuir a força do atual Conselho de Administração, controlado por Tanure e os portugueses, barrados pelo juiz da recuperação de participarem na elaboração da nova proposta. Mas tudo isso passa pela aprovação da assembleia e Tanure não deve desistir de manter a briga acesa na Justiça.
O empresário tem dito a interlocutores próximos que o plano de Eurico Teles não tem validade por prever uma redução injustificada dos atuais sócios sem a aprovação de uma assembleia de acionistas. Esse é um dos argumentos que ele usou ontem no pedido à Justiça do Rio para adiar a assembleia dos credores. De acordo com a nova proposta, a redução da dívida de R$ 64 bilhões para R$ 23,9 bilhões será realizada por meio de conversão da dívida em ações e em novos títulos da dívida e de aportes de novos recursos pelos sócios. Nesse novo desenho, a Oi teria espaço para aumentar os investimentos de R$ 5 bilhões para R$ 7 bilhões, valor próximo ao praticado pelas concorrentes TIM, Claro e Telefônica e suficiente para garantir a qualidade dos serviços da operadora.
Longo caminho
Os principais pontos do novo plano de recuperação da Oi1 Troca de dívida por até 75% do capital da operadora, o que permite que a Oi seja adquirida pelos credores.
2 Redução do valor de face da dívida financeira em cerca de 50%, de R$ 49,4 bilhões para R$ 23,9 bilhões.
3 Aporte de R$ 4 bilhões de recursos novos por credores e possibilidade de capitalização de R$ 2,5 bilhões adicionais via mercado de capitais.
4 Comissão aos credores e acionistas que participarem da capitalização no percentual de 8% em dinheiro ou 10% em ações.
5 Pagamento da dívida com a Anatel em 20 anos, indexado à Selic e não mais ao IPCA.
6 Pagamento das dívidas trabalhistas em cinco parcelas mensais, com seis meses de carência.
7 Pagamento da dívida com o BNDES em 15 anos, com seis anos de carência.
O retrato do rombo
Dívida total: R$ 64 bilhões
Principais credores* (em bilhões de reais)
Mercado de capitais internacional 33,4
Mercado de capitais nacional 4,8
Bancos de Desenvolvimento 9,3
Bancos comerciais 4,4
*Tem as dívidas trabalhistas e com a Anatel