Economia

Azul e Correios criam empresa privada para atender comércio eletrônico

Companhia aérea, em ascensão no Brasil, e empresa de entregas, sufocada por um rombo crescente, estão de olho em mercado que movimenta mais de R$ 100 bilhões por ano

Lino Rodrigues
postado em 22/12/2017 06:00

Para a Azul, parceria com os Correios é uma oportunidade para a empresa aérea ampliar o volume de carga transportada

São Paulo ;
Os Correios e a Azul juntaram forças para criar uma empresa privada de logística e transporte de cargas para atender ao crescente volume de encomendas do comércio eletrônico no país. Em comunicado, as duas companhias informaram que o capital da nova empresa será dividido em 50,01% para a Azul e 49,99% para os Correios. A expectativa é de movimentar 100 mil toneladas de cargas por ano a partir de março de 2018, quando está previsto o início da operação. Até lá, a empresa terá que ser submetida à análise do Tribunal de Contas da União e do Ministério da Transparência e Controladoria-Geral da União (CGU), além do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

Ainda sem nome definido, a nova transportadora aérea, segundo Guilherme Campos, presidente dos Correios, vai trazer economia de 35% a 40% nos gastos da estatal com transporte de cargas, hoje de cerca de R$ 560 milhões por ano. Além da economia gerada com a união das cargas transportadas pelos dois sócios (70 mil toneladas dos Correios e 30 mil toneladas da Azul Cargo), diz o executivo, as empresas vão ganhar eficiência operacional, mais receita e melhorar a oferta de serviço para o consumidor, além de disputar um mercado que movimenta cerca de R$ 100 bilhões por ano. Atualmente, os Correios utilizam as empresas Sideral e Total, que continuam até o início da operação conjunta com a Azul.

[SAIBAMAIS]Apesar das dificuldades financeiras por que passam os Correios, Campos afirma que a parceria está alinhada com as sugestões dadas pela CGU, de encontrar novas alternativas de negócios para superar a crise e aumentar as receitas. ;Entre as recomendações da CGU está a busca por novas opções de negócios e a parceria vem totalmente alinhada com esse propósito;, disse o executivo, lembrando que o negócio com a Azul traz também uma redução no custo da mercadoria transportada pela estatal.

John Rodgerson, presidente da Azul, afirma que a parceria com os Correios é uma oportunidade para a aérea ampliar o volume de carga transportada e ganhar eficiência operacional. Ele destaca ainda que a companhia tem forte presença no aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP), o segundo maior hub de cargas do Brasil, e é a que atinge o maior número de cidades brasileiras.



Sobre os investimentos na nova empreitada, as empresas informam que a montagem da operação não envolve recursos, uma vez que a Azul vai utilizar aviões já existentes para transportar com exclusividade a carga de encomendas e postais dos Correios. ;Esta operação terá custo zero. Vamos juntar as aeronaves existentes da Azul com a carga dos Correios;, afirma Campos, acrescentando que pesou na escolha da Azul o fato de ela ser a companhia aérea que atende a mais destinos no país.

Mesmo depois de adotar medidas para reduzir despesas, como o fechamento de agências, corte de patrocínios e demissões de funcionários, a situação financeira dos Correios continua grave. Até novembro, a estatal acumulava perdas de R$ 2,03 bilhões, 17% acima do registrado em 2016. Segundo Campos, os gastos com o plano de demissão voluntária e as despesas com o plano de saúde da empresa vão responder por boa parte do prejuízo em 2017. Só para os planos de saúde, a empresa terá que desembolsar algo em torno de R$ 1,9 bilhão neste ano. Já as demissões voluntárias, cuja meta é atingir 8,2 mil funcionários, devem custar R$ 970 milhões no decorrer de oito anos.

O presidente dos Correios reconhece que a estatal ;passa por dificuldades;, mas diz que a sua gestão ;está virando o disco;. ;Não podemos ficar sentados, esperando que a empresa definhe até a morte;, ressalta ele, salientando que vai ;levar pancada; dos concorrentes e dos órgãos de fiscalização e controle por suas iniciativas à frente da estatal.

Companhia aérea, em ascensão no Brasil, e empresa de entregas, sufocada por um rombo crescente, estão de olho em mercado que movimenta mais de R$ 100 bilhões por ano

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