Hamilton Ferrari, Rosana Hessel, Paulo Silva Pinto
postado em 24/12/2017 08:00
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, tem planos de longo prazo para o país. Qualquer pessoa do mundo político diria que é porque ele pretende se instalar no terceiro andar do Palácio Planalto. O chefe da equipe econômica nega que, por ora, seja essa a intenção. ;A prioridade é que eu cumpra a minha missão e deixe o Brasil em uma trajetória de crescimento consolidado.; Em abril, ele vai decidir se será candidato a presidente ou não, reitera nesta entrevista ao Correio.Meirelles vê o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil crescendo 3,7% ao ano por um longo período. Para isso, considera necessária, claro, a aprovação da reforma da Previdência, assunto predileto dele e do governo. O ministro acha que os parlamentares erram ao pensar que o apoio à proposta de emenda constitucional vai lhes tirar votos em 2018. Lembra que o próprio presidente Michel Temer, quando deputado federal, foi relator de projeto de modificação das aposentadorias no governo Fernando Henrique Cardoso, em 1998. E acabou tirando disso vantagem nas urnas: passou de 71 mil votos no pleito anterior para 207 mil.
Equacionar a questão previdenciária será essencial, lembra, para conter o aumento dos gastos públicos, permitindo ao governo cumprir o teto de aumento de gastos e, assim, reduzir a carga tributária, o que tornaria mais fácil outra reforma, a tributária. O ministro fala também da necessidade de melhorar a qualidade na educação. Não é difícil ver nisso discurso de campanha, mas ele diz que está falando de melhora na produtividade dos brasileiros, preocupação essencial na Fazenda.
Candidato ou não, ele considera a próxima eleição fundamental para o país. ;Qual será a política econômica em 2019, 2020 e 2021? Isso é um fato que o Brasil vai ter que enfrentar;. Diz esperar um novo presidente reformista, capaz de aprofundar as transformações iniciadas no atual governo.
Depois de um ano e meio no cargo, a economia cresce e a taxa de juros está na mínima histórica, mas uma coisa continua pendente: a reforma da Previdência. A votação na Câmara ficou para o próximo ano. Como o senhor avalia isso?
A reforma da Previdência é difícil em qualquer país. Nós vimos a aprovação da reforma da Previdência na Argentina, que teve uma margem pequena de votos, em meio a uma greve geral. É uma luta séria em qualquer país, eu nunca achei que fosse um processo rápido e sem discussão. Em qualquer lugar é uma discussão muito séria porque é legítima. A Alemanha, por exemplo, é um país que tem uma história de austeridade fiscal consolidada e tal. E é um país no qual a reforma foi uma discussão seriíssima. É o que está acontecendo no Brasil, sempre dissemos isso. Hoje, a situação evoluiu muito, a população tem uma visão muito melhor da reforma. A mídia já tem uma posição consolidada a favor da Previdência em geral. Então, está avançando. Acho que esse adiamento de um lado é negativo, porque gera uma incerteza. Evidente que se tivesse sido aprovado hoje, seria um cenário ideal.É uma frustração para o governo?
Não é uma frustração, é uma realidade. A expectativa é de que, em fevereiro, tenhamos os votos necessários. Acredito que os próprios parlamentares, voltando às suas bases, vão ver que o ambiente de hoje é muito diferente do que o do ano passado em relação à Previdência. Existe uma compreensão muito maior, esse trabalho todo que está sendo feito pelo governo com a campanha e também pela mídia. Acho que eles próprios, os parlamentares, vão entender que é em benefício de todos. Chamei atenção até de líderes da oposição: é melhor vocês torcerem pela reforma da Previdência, porque se vocês ganharem a eleição, tendo feito a reforma, o país vai estar com uma governabilidade muito melhor.Mas por que a base não apoia?
O seu próprio partido, PSD, tem muitos parlamentares que são contrários à reforma.Isso ocorre exatamente por essa percepção de que é eleitoralmente desfavorável. Nós achamos exatamente isso, que esse período do recesso vai ajudar, fazer com que a grande maioria vote a favor em fevereiro. É uma das razões do adiamento.
[SAIBAMAIS]