Jornal Correio Braziliense

Economia

Em nome da sobrevivência, locadoras se unem para enfrentar o futuro

Assim como bancos, redes de varejo, instituições de ensino e vários outros setores, empresas de aluguel de carros chegaram à conclusão de que incorporar concorrentes pode ser bom negócio



Com a fusão Locamerica-Unidas, a Movida, do grupo JSL, cai para a terceira colocação. A Localiza continuará na liderança, com 19,6% de market share em tamanho de frota (ver quadro). Apenas como comparação, no mercado americano, três grupos ; a Hertz, a Avis e a Enterprise, dona das bandeiras Alamo e National ; dominam 90% do mercado. ;Há pouco risco de a fusão ser vetada pelo Cade. Afinal, existem centenas de pequenas locadoras independentes espalhadas pelo Brasil;, afirma o analista Pedro Nogueira, que acompanha o setor.



Pode-se, portanto, apostar em mais negócios entre as locadoras, especialmente de grandes adquirindo pequenas, em um futuro não muito distante. ;Esse ciclo de consolidação está se fechando para a Locamerica, por enquanto;, afirma Luis Fernando Porto, CEO da companhia. ;Após a aprovação do Cade, a prioridade será criar sinergias e aprimorar os processos de trabalho de ambas as empresas.;

Para a Locamerica, a fusão é um salto e tanto. Com as recentes aquisições, em dois anos a frota da empresa se multiplicou por quatro. Juntas, Locamerica e Unidas serão responsáveis pela gestão de 100 mil veículos, 23 endereços, 72 lojas de seminovos e atuação em todos os estados do país. A receita combinada superou os R$ 2 bilhões, de janeiro a setembro de 2017. O negócio foi fechado com a compra de 40,3% do capital da Unidas pela Locamerica, por R$ 398,6 milhões. O restante da transação acontecerá por meio de troca de ações.

A nova estrutura societária prevê participação de 39,2% dos controladores da Locamerica e 25,2% dos da Unidas, que incluem a Enterprise e a Principal, duas multinacionais do setor, além do fundo Fitpart Capital Partners, que pertence a ex-sócios do banco de investimentos Garantia. ;Estão saindo os sócios financistas e ficando gente do negócio;, afirma o economista Álvaro Frasson, analista da Eleven Financial. Após a transação, os três fundos sócios (Vinci, Kinea e Gávea) venderam as suas fatias na Unidas. O mesmo caminho foi trilhado pelo Banco Votorantim, que se desfez de 4,91% das ações para a Itaú Corretora.

Para os grandes investidores que restam, a expectativa é que a empresa combinada consiga atuar com força similar tanto na locação para empresas quanto para o consumidor final. Segundo o CEO Luis Fernando Porto, 65% dos carros deverão ficar direcionados a frotas corporativas. ;Não vejo um mercado melhor do que outro. Ambos têm grande potencial de crescimento no Brasil;, diz. ;O setor pode crescer por mais uns cinco anos, com taxas próximas dos dois dígitos.;

Diferencial

Haverá alguns desafios. ;A Locamerica é a única empresa de capital aberto do setor que lucra com a venda de seminovos;, diz Frasson. Isso é um diferencial importante, já que a revenda dos carros usados representa atualmente metade da receita das grandes empresas de locação brasileiras. Ou seja, vender seminovos não significa apenas uma forma de aliviar custos e perdas, mas sim uma fonte de rentabilidade. E ela conseguiu isso diminuindo o tempo médio de uso de sua frota para 17 meses ; segundo Porto, ao fim de 2018 esse índice baixará para 15 meses ;, o que reduz os custos de manutenção e aumenta o valor de revenda. Esse objetivo, no entanto, só foi alcançado pelo fato de a empresa se dedicar ao mercado de frotas corporativas, no qual os cuidados dos clientes com o veículo são maiores e o índice de sinistros, menor.

Outra vantagem da atuação junto às empresas são os contratos mais estáveis, de longo prazo, e um potencial grande de crescimento do nicho. Segundo a Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla), apenas 11% das empresas do país terceirizam as suas frotas. Em alguns países europeus, como a Inglaterra e a França, cerca de metade delas preferem essa estratégia. Para as locadoras que planejam se manter competitivas no setor depois da fase de consolidação, será preciso ampliar a atuação nas duas frentes. Afinal, escala é muito importante tanto para a compra de veículos junto a montadoras quanto para estabelecer uma rede de revendas de largo alcance.