Jornal Correio Braziliense

Economia

Expansão do ensino a distância pode levar instituições a guerra de preços

Novas regras para o EAD estabelecidas há menos de um ano tornam planos de expansão das líderes do setor mais agressivos e dificultam a vida de grupos menos capitalizados



Valério aponta outro possível problema nesta nova fase de expansão do EAD: a abertura indiscriminada de polos. Segundo ele, a escolha da localização deve ser muito bem avaliada. Não basta ter a oferta de um interessado em oferecer suas instalações educacionais para uma marca de EAD. ;Nós, por exemplo, fazemos estudo de geomarketing para estudar onde vamos nos instalar. Em muitos casos pode ser melhor começar do zero do que pegar um polo pronto em uma região em que a demanda não seja a esperada;, diz o executivo da Kroton.



Para o vice-presidente do grupo, o maior de ensino a distância do país, o espaço de crescimento para o EAD no Brasil ainda é muito grande. No caso da Kroton, são cerca de 1.100 polos distribuídos por aproximadamente 500 cidades. Nos próximos cinco anos, a previsão de Valério é chegar a 3.000 polos. ;Além de cidades grandes terem demanda por mais de um polo, vale lembrar que o Brasil tem cerca de 5.000 municípios, muitos deles com uma oferta muito pequena de ensino superior e em mercados que podem ser atendidos pelo EAD;, avalia.


Demanda reprimida


Luciano Sathler, diretor da Associação Brasileira de Ensino a Distância (Abed), acredita que, só daqui a três anos, será possível ter uma ideia de qual foi a reação do mercado a essa expansão do setor. ;É fato que o EAD vai continuar a crescer mais do que o ensino presencial. A previsão é que, daqui a cinco anos, ele chegue a 40% ou 50% das novas matrículas. Há uma demanda reprimida e, ao mesmo tempo, as instituições querem marcar seu espaço. Mas não dá para saber agora como o setor vai reagir;, analisa.

Com o crescimento rápido, também já se fala da possibilidade de o setor de EAD passar por uma nova rodada de consolidação, seja por meio de fusões, de aquisições ou simplesmente o fechamento de unidades de ensino de menor porte, com atuação regional. ;Já estamos vendo isso no Paraná mesmo entre algumas presenciais. Elas acabam sofrendo mais e não resta outra solução a não ser encerrar as atividades. Por outro lado, tem gente grande com bastante dinheiro em caixa para expandir por conta própria ou para comprar concorrentes;, diz Gaio. Luiz Trivelato, sócio da consultoria Educa Insights, acredita que o mercado de EAD deverá passar por mudanças não apenas quanto ao número de polos, mas com relação aos modelos de cursos oferecidos. Para ele, o ensino semipresencial (uma variação do EAD que tem mais participação em sala de aula) deverá ter um espaço cada vez maior. Além disso, avalia Trivelato, também já é possível ver instituições de ensino mais tradicionais ampliando a oferta com cursos a distância. É o caso da Universidade Católica de Santa Catarina, de Brasília, do Mackenzie e da Uniso.