São Paulo ; Poucos indicadores são tão eficientes para retratar a retomada da economia quanto a produção industrial. É verdade que o setor enfrenta uma série de obstáculos que emperram o desenvolvimento e que o caminho até a plena recuperação será tortuoso. A boa notícia, porém, é que os primeiros passos já foram dados. Segundo dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a indústria brasileira começa a respirar ; pelo menos boa parte dela.
De acordo com o levantamento, em novembro, a produção industrial nacional cresceu 0,2% e oito das 14 localidades pesquisadas mostraram taxas positivas. O Espírito Santo liderou com folga o ranking brasileiro, com expansão de 5,8%. Em dois meses consecutivos, a alta da indústria no estado foi de 7%, o que espanta definitivamente, pelo menos na região, qualquer sintoma de crise.
Na sequência aparecem Bahia (crescimento de 3,5% em novembro), Pernambuco (2,6%) e Minas Gerais (2,4%). Rio Grande do Sul (1,4%), Pará (1,1%) e Região Nordeste (0,2%) também apresentaram resultados positivos. Detentor do maior parque industrial brasileiro e responsável por 33,5% do Valor da Transformação Industrial (VTI) do país, São Paulo avançou 0,7% em novembro, o que confirma que os ventos favoráveis sopraram em quase todas as regiões do país.
A pesquisa do IBGE mostra que os resultados não são reflexo de uma recuperação momentânea. No acumulado de janeiro a novembro de 2017, a performance da indústria brasileira foi ainda melhor, com altas em 12 dos 15 locais pesquisados e crescimento médio de 2,3%. Nesse período, o Pará aparece com destaque, registrando avanço acima de dois dígitos (10,5%), à frente de Paraná (4,8%), Goiás (4,6%), Mato Grosso (4,5%), Santa Catarina (4,5%) e Rio de Janeiro (3,9%), os primeiros colocados no ranking nacional.
O desempenho expressivo do Pará se deve à expansão da extração de minério de ferro, que chegou a 10,7% entre janeiro e novembro do ano passado ante o mesmo período do ano anterior. Detalhe: a atividade responde por quase 80% da indústria local e vem sendo impulsionada pelo aumento das exportações.
No Brasil, os indicadores positivos foram influenciados pelo forte desempenho da indústria de bens de capital (especialmente no setor de transportes, construção e agrícola), bens intermediários (minério de ferro, petróleo e celulose), bens duráveis (carros e eletrodomésticos da linha marrom) e bens não duráveis (calçados, produtos têxteis e vestuário). A conclusão é óbvia: há sinais favoráveis em quase todos os setores industriais, o que demonstra que a recuperação se deve ao conjunto da economia e não a atividades específicas.
Recuos
Apesar dos avanços expressivos, algumas regiões apresentaram desempenho decepcionante. No Amazonas (estado que, vale lembrar, abriga a Zona Franca de Manaus), a produção industrial recuou 3,7% em novembro, enquanto no Rio a queda foi de 2,9% (o que eliminou parte da expansão de 13,3% acumulada entre agosto e outubro). O Ceará fechou o mês com redução de 2,3% na produção industrial, seguido por Paraná (queda de 0,9%), Goiás (0,6%) e Santa Catarina (0,1%).Se algumas regiões apresentaram avanço, é inegável que a indústria tem motivos para preocupação. A elevada carga tributária brasileira, uma das mais altas do mundo, aniquila a competitividade das empresas. Pior ainda: parece haver no Congresso pouca disposição para mudanças, apesar de os debates de uma eventual reforma estarem na pauta de 2018. Outra questão que impõe obstáculos é a falta de estímulos à inovação. Falta um plano nacional que abranja vários atores capazes de trabalhar em conjunto, incluindo governo, iniciativa privada, sociedade e terceiro setor. Enquanto isso não for feito, o Brasil continuará atrasado na corrida em direção ao futuro.