Paula Pacheco/Estado de Minas
postado em 26/01/2018 06:00
São Paulo ; A partir de 1; de fevereiro, a Embrapa coloca em prática uma parte importante de sua estratégia de reformular a forma como atua e assim se tornar uma empresa mais eficiente e adequada ao momento da ciência no mundo. Parte da transformação passará pela desativação da maioria das unidades centrais ; de 17 para 6. As unidades de pesquisa e inovação também serão reduzidas de 46 para 42. ;A crise colocou a empresa diante do desafio de se ajustar;, diz Maurício Antônio Lopes, presidente da Embrapa. ;Por isso, estamos procurando ser cada vez mais independentes de recursos do Tesouro para nos viabilizar.;
Segundo Lopes, que ocupa o cargo desde 2012, as mudanças vão ajudar a melhorar processos no dia a dia da empresa estatal, diminuir a burocracia e melhorar a relação tanto com o mercado quanto com os produtores rurais. Dentro de um ano, o executivo acredita que será possível ver os primeiros resultados. Outra alteração será feita nos nomes e atribuições de diretorias.
A que respondia por transferência tecnológica passa a cuidar de inovação e tecnologia. Além disso, foi criada a Secretaria de Pesquisa e Desenvolvimento, que, junto com a nova diretoria, servirá como embrião para outra novidade na Embrapa ; mas que ainda depende de aprovação de um projeto de lei na Câmara. Se o projeto de criação da EmbrapaTec for aprovado, a Embrapa passa a ter um braço de negociação de seus ativos, o que vai dar mais agilidade às parcerias. Será uma empresa para lidar com o mercado, administrar a propriedade intelectual de pesquisas e negociar contratos. Hoje isso já é feito, explica o presidente, mas falta um arcabouço mais comercial.
Uma das críticas que têm se intensificado neste momento em que a Embrapa enfrenta dificuldades de caixa para pesquisas é que as despesas com pessoal são muito altas, mas Lopes garante que os custos na folha de pagamento se justificam, já que ;o mais importante em instituições de pesquisa e inovação são os cérebros. Por isso, é preciso retê-los com boa remuneração;.
Segundo Lopes, no mundo, os recursos com pessoal costumam absorver 70% do orçamento das instituições de pesquisa, enquanto que os 30% restantes são destinados à operação. Nos últimos anos, por conta dos contingenciamentos orçamentários e da legislação, os salários do funcionalismo foram reajustados pelo IPCA, enquanto que o valor destinado ao custeio não subiu. Isso fez com que 80% do orçamento da Embrapa fosse absorvido pela folha de pagamento.
;Por isso, estamos correndo atrás de outras fontes de recurso. Hoje temos grandes projetos financiados pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), alguns com o setor privado, e há ainda os convênios internacionais. Mas precisamos aumentar essas parcerias;, afirma.
De acordo com o presidente da Embrapa, no entanto, a relação com a iniciativa privada recuou nos últimos anos por causa da crise econômica do país. ;Hoje, essas parcerias não compensam plenamente a queda de recursos para pesquisa porque a disponibilidade de outras verbas também está limitada. A ciência brasileira está passando por dificuldades, não é só a Embrapa;, diz.
A expectativa de Lopes é que a Embrapa passe a contar muito mais com recursos do setor privado do que aqueles vindos dos cofres públicos. Ele garante, no entanto, que isso não vai se refletir no aumento de custos para o produtor rural, que costuma pagar por royalties pelo uso de determinada tecnologia desenvolvida por uma empresa. É o caso, por exemplo, das sementes de grãos, como a soja, vendidas por multinacionais como a Monsanto.
Apesar de hoje haver menos dinheiro para o desenvolvimento das pesquisas dentro da Embrapa, como confirma Lopes, isso não deve comprometer o futuro do agronegócio brasileiro. ;Com mais recursos, estaríamos operando com mais velocidade. Mas não estamos em situação de perigo ou de comprometimento da agricultura brasileira;, garante.
;Contrassenso;
Ex-ministro da Agricultura (2007 a 2010) e coordenador da comissão que há quase 45 anos criou a Embrapa, o hoje deputado federal Reinhold Stephanes (PSD-PR) alerta para o risco de o Brasil desacelerar seus aportes para encontrar soluções para o agronegócio. ;Não investir em pesquisa é suicídio, um contrassenso. O Brasil precisa justamente do contrário, fazer uma revolução tecnológica;, adverte.Stephanes concorda com Lopes ao avaliar que o atual modelo de negócio da Embrapa se esgotou, tanto na parte de gestão como na pulverização de suas pesquisas. Segundo o ex-ministro, ;hoje são centenas (de pesquisas), por isso talvez tenham que pensar em áreas mais estratégicas;.
Os números mostram como o Brasil, graças a pesquisas como as que são desenvolvidas pela Embrapa, vem ganhando cada vez mais protagonismo no agronegócio, porque houve investimento em tecnologia, o que ajudou a aumentar a produtividade no campo. Isso fez com que o país se tornasse cada vez mais dependente desse protagonismo.
Em 2017, segundo a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), a agricultura e o agronegócio no Brasil contribuíram com 23,5% do Produto Interno Bruto (PIB), a maior participação em 13 anos. Ainda segundo a entidade, a geração de empregos foi a mais alta nos últimos cinco anos. Segundo o Ministério da Agricultura, o país faturou nas duas últimas décadas R$ 1,23 trilhão com o agronegócio.