Economia

Varejo oferece armários inteligentes em vez de carteiros

Com o crescimento do comércio eletrônico no Brasil, varejo começa a oferecer o serviço de lockers como alternativa para quem não pode ou não quer receber uma encomenda em casa

Paula Pacheco/Estado de Minas
postado em 08/02/2018 06:00
Locker da Panvel, rede de farmácias do Rio Grande do Sul. A adesão ao serviço no Brasil ainda é tímida, mas empresa aposta no crescimento

São Paulo ; Diante do smartphone, você se empolga com um produto oferecido por uma empresa, saca o cartão de crédito e fecha negócio. Dias depois, na volta do trabalho, você passa por um posto de gasolina, procura por um grande armário, daquele tipo usado em vestiários, emparelha o celular diante de uma das portas, faz a leitura do QR Code e lá está o item comprado pelo site.

O uso de lockers, como são chamados esses armários inteligentes, tem sido uma das formas de o varejo melhorar a integração entre as vendas em lojas físicas e o e-commerce ao trabalhar o conceito chamado de multicanais. Só no último mês, duas grandes redes passaram a oferecer o serviço aos clientes: a Via Varejo, por meio das bandeiras Ponto Frio e Casas Bahia, e a Panvel, maior rede de farmácias do Sul do país, pertencente ao Grupo Dimed.

A adesão ainda é tímida, principalmente se for levado em consideração o fato de esse tipo de facilidade ser oferecido aos consumidores nos Estados Unidos e em alguns países da Europa há mais de uma década. Mas o crescimento do comércio eletrônico no Brasil a taxas consistentes (leia abaixo) tem animado varejistas de diferentes segmentos a pensar em alternativas para levar seus produtos até o consumidor e descolar da venda feita exclusivamente feita no balcão ou no caixa.

A Panvel, que tem cerca de 400 lojas, além das vendas pelo site, passou um mês fazendo o teste com o locker na cidade de Eldorado do Sul (RS), onde fica sua matriz. Em dezembro, seus funcionários usaram os armários inteligentes para retirar encomendas. Há um mês, foram instalados os dois primeiros lockers em Porto Alegre, ao lado de farmácias da rede. Assim, explica Samir Mesquita, gerente de novos negócios do Grupo Dimed, os funcionários podem tirar dúvidas dos clientes que desconhecem a tecnologia. ;A ideia é oferecer a oportunidade de o cliente economizar tempo. Ele pode fazer a compra pelo site e não precisa entrar na farmácia ou pegar a fila do caixa para levar seus produtos para casa;, diz Mesquita.

O gerente da Dimed lembra que esse tipo de novidade pode enfrentar dois desafios: a logística e a segurança. A escolha da instalação de um locker, explica, precisa levar em consideração o risco de depredação, por isso o ideal é que esteja em shoppings, galerias ou supermercados. Além disso, é preciso garantir, segundo Mesquita, a agilidade na entrega para que a alternativa seja atraente ao cliente.

A novidade deverá ser testada durante três meses. Posteriormente, a direção da empresa vai definir como será a expansão dos armários inteligentes. Uma das possibilidades, segundo o gerente, é que até mesmo cidades onde a Panvel ainda não tem pontos de venda possam contar com a alternativa ao serviço tradicional de entrega, feito pelos Correios ou por empresas de logística.

No caso da rede de farmácias do Sul, a entrega dos produtos nos lockers é feita pela própria empresa. Mas esse serviço também pode ser feito por empresas de logística.


Entrega no posto de gasolina


Flavio Salles, diretor da Via Varejo: Diferentemente da Panvel, que administra a novidade, a Via Varejo preferiu que a sua operação fosse feita em parceria com a startup Easy Post e com a empresa polonesa Inpost, controlada globalmente pela gestora de fundos Advent, que tem um contrato com a rede de postos Ipiranga. Por enquanto estão instalados quatro lockers, todos em São Paulo. A partir de março, o serviço será oferecido no Rio de Janeiro e, aos poucos, levado a outras capitais, como Belo Horizonte.

Diretor de multicanalidade da Via Varejo, Flavio Salles conta que este ainda é um momento para aprender como é esse tipo de entrega de produto, por isso o ganho de escala ainda não é prioritário. Para o executivo, a inclusão dos lockers é mais um movimento da companhia para unificar os canais on-line e off-line. ;A vantagem para o cliente é que ele pode retirar sua encomenda a qualquer hora e em um lugar escolhido por ele. Um posto de gasolina, por exemplo, fica aberto 24 horas, é monitorado e oferece segurança;, diz. Além dos armários inteligentes, a companhia oferece a opção de comprar pelo site e retirar em uma das lojas ou em uma agência do Correios (são 43 cadastradas).

Sócio da Inpost no Brasil, Marco Antonio Beczkowski acredita que o conceito vai se expandir com mais rapidez nos próximos dois anos. A empresa foi trazida para o Brasil no começo do ano passado. ;Era um momento em que a economia brasileira passava por uma crise, então o varejista queria saber como reduzir custos, o que não é possível nesse negócio sem que o volume seja grande. Mas esse é o tipo de alternativa que certamente vai ganhar espaço. Não falo de competir com outros canais de distribuição, mas de uma forma de melhorar as vendas, porque consumidores que moram em lugares onde não há entrega dos Correios ou onde não há quem possa receber uma encomenda serão integrados ao varejo;, detalha o empresário.

Beczkowski não acredita que haja resistência aos lockers por causa da chance de furto dos produtos. Para ele, o risco é muito grande para quem vai arrombar os armários, já que poderá encontrar mercadorias com um valor muito baixo. ;É muito diferente de um caixa eletrônico. Estamos falando de compartimentos que podem ter sim algo caro, como pode ter apenas uma meia de criança;, explica.

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