São Paulo ; A dona de marcas como Epocler, Vitasay e Benegrip não se chama mais Hypermarcas. Na quarta-feira, os acionistas aprovaram em assembleia a proposta de trocar o nome da companhia para Hypera Pharma. Um dia depois, foi enviado um comunicado para ao mercado informando que a alteração passa a valer a partir de hoje também na BM, onde suas ações são negociadas. O código na bolsa, no entanto, permanecerá o mesmo, ;HYPE3;.
A troca de nome, que já havia sido comunicada em reunião em dezembro do ano passado, mas que ainda dependia do aval dado pelos acionistas em assembleia, é o ponto final de um roteiro que começou a ser escrito após a direção da companhia decidir que teria seu foco apenas no setor farmacêutico. Isso significou abandonar a atuação nas linhas de beleza, alimentação e higiene pessoal.
Para especialistas em marca, a companhia adotou uma estratégia correta ao decidir primeiro enxugar seu portfólio de produtos e vender os negócios que não tinham adesão à proposta de ser uma empresa com atuação no setor farmacêutico para só agora mudar de nome.
Marcos Bedendo, professor de Gestão de Marcas da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM-SP), diz que, se a direção da empresa tivesse mudado o nome antes de enxugar a operação, poderia haver uma depreciação no preço desses ativos. Mas ele não acredita que o novo nome possa causar algum tipo de confusão para o consumidor, que não está ligado à Hypermarcas, mas sim aos seus produtos. ;Agora eles vão ter que comunicar essa novidade para quem tem um relacionamento direto com a companhia, como fornecedores e revendedores;, avalia.
Professor da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getulio Vargas (EAESP), Francisco Saraiva acredita que agora, como Hypera, o desafio será o de construir o significado, ou seja, a personalidade dessa nova marca, assim como aconteceu com companhias como Nestlé, P e Unilever, que endossaram seus portfólios como marca corporativa. ;Uma marca se associa a outra, ainda que preserve a sua identidade. Essa pode ser uma estratégia interessante;, diz.
Nos últimos anos, seus controladores se desfizeram de muitos ativos que não faziam mais sentido na nova proposta de negócio. Foi assim que a Hypermarcas vendeu, em janeiro de 2016 a divisão de preservativos (dona das marcas Jontex, Olla e Lovetex) ao grupo britânico Reckitt Benckiser por R$ 675 milhões. Em dezembro do mesmo ano, foi a vez da divisão de descartáveis (formada pelas marcas de fraldas infantis Pom Pom, Cremer e Sapeka, além da marca de fraldas para incontinência Bigfral) ser passada adiante para a belga Ontex Group pela soma de R$ 1 bilhão. Antes, em dezembro de 2015, foi negociada a divisão de cosméticos com a francesa Coty pelo total de R$ 3,8 bilhões.
O negócio, que cresceu à base de aquisições sucessivas feitas pelo controlador João Alves de Queiroz Filho, conhecido como ;Júnior;, começou a encolher a partir de 2011. Em outubro daquele ano, foi concluída a venda das marcas de detergente e amaciante Assim e de inseticida Mat Inset à Flora, empresa do grupo J. Dois meses depois, foi a vez de negociar as marcas Etti, para a Bunge, e a Assolan, que passou para as mãos da Química Amparo, por R$ 310 milhões. Antes, para construir o grupo, foram pelo menos 20 aquisições em quatro anos.
Com a formação do novo portfólio de produtos, foi sepultado o plano de Júnior de um dia ver a Hypermarcas como uma espécie de Unilever brasileira ; como ele gostava de dizer na época em que começou a comprar vários negócios para criar uma superempresa.
Atualmente, a Hypera tem em sua carteira uma linha de medicamentos isentos de prescrição, como Apracur, Coristina D, Engov, Estomazil e Tamarine; similares e genéricos, com a Neo Química; produtos de prescrição, com a linha Mantecorp Farmasa; e dermocosméticos, com Mantecorp Skincare.
A companhia registrou um lucro líquido de R$ 177,3 milhões no terceiro trimestre de 2017 ; queda de 12,4% em relação a igual período de 2016. A receita, no entanto, subiu 17,7% e chegou a R$ 954,6 milhões. O resultado fechado de 2017 ainda não foi divulgado.