Jornal Correio Braziliense

Economia

Tecnologia permite baratear custos e melhorar atendimentos de saúde

Governo investe em incubadora de empresas voltadas para o setor e reconhece a importância da pesquisa



As startups na área da saúde respondem, atualmente, por 6% do mercado. É o terceiro maior segmento entre essas empresas ; empatado com outras atividades ;, de acordo com a Associação Brasileira de Startups (ABStartups). E não é para menos que seja um nicho em evidência. A oferta de alternativas ao atual e convencional serviço de saúde está quebrando paradigmas e ajudando milhares de brasileiros.

A empresa Mais Leitos atua em uma outra ponta. Auxilia hospitais a fazerem um mapeamento do fluxo de leitos. Com o uso da plataforma, há uma melhora de mais de 30% na fluidez dos leitos ante os hospitais que não utilizam o sistema, possibilitando que mais pessoas consigam atendimento médico e internação. ;Até então, a internação era vista pelo viés de hotelaria, no qual existem processos relacionados ao controle e acompanhamento de situações como monitoramento das camas para limpeza e disponibilidade. Mas toda a parte estratégica era desconsiderada;, ressalta o presidente da companhia, Paulo Pequeno.

O grande desafio das startups na saúde é inovar no setor público. É o que avalia o especialista na criação de soluções digitais e consultor de startups Yan Trindade. Em um país com proporções geograficamente continentais, onde 161,3 milhões de brasileiros não contam com plano de saúde, um obstáculo e tanto. ;Esse mercado tende a agregar mais quando o movimento de inovação chegar ao setor público, para trazer uma maior eficiência, transparência e melhor gerência de recursos;, diz.

Para Trindade, existe uma falha governamental na resolução dos problemas e no acesso à saúde, e isso poderia ser resolvido em conjunto, por meio das inovações tecnológicas fornecidas pelas startups. ;O sistema, atualmente, é falho e carece de métricas para entender a fundo os problemas que temos na sociedade;, sustenta. Apesar disso, ele reconhece a tentativa de entendimento do governo sobre o tema. ;O Estado busca entender o que é o ;movimento startup; e fomentar editais, concursos de inovação. Mas as falhas ainda existem;, ressalta.


Parcerias

A tecnologia pode, quer e tem capacidade para auxiliar o sistema de saúde, prega Trindade. Mas as startups só terão papel fundamental se conseguirem na reduzução de custos de consultas, procedimentos e na compra de medicamentos. ;Essas mudanças somente serão possíveis mediante parcerias de longo prazo entre os setores público e privado. Apesar de termos tantas soluções e inovações, nosso sistema ainda é muito lento e burocrático;, lamenta.

Na capital paulista, a integração entre as startups e o Estado começa a virar realidade. O presidente da Consulta do Bem, Marcus Gimenes, afirma que a startup iniciou conversas com a prefeitura, que têm evoluído. ;Os diálogos estão amadurecendo e fazendo parte de projetos pilotos. E só vejo esse modelo crescendo daqui para frente;, analisa.

A união entre as redes pública e privada é um tema com o qual Gimenes está familiarizado. Médico cirurgião cardíaco, ele participou do programa de inovação em cirurgia minimamente invasiva e da Parceria Público-Privada (PPP) da Cirurgia Cardíaca da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Para ele, esse tipo de integração é mais do que essencial.

;Temos visto que o sistema público pensa em como utilizar a estrutura privada para dar vazão aos serviços. Uma boa parte das infraestruturas já existe, principalmente nas grandes metrópoles. Não faz sentido ter uma estrutura separada em público e privado. Não vejo problema em setor público comprar algum espaço do privado, e vice-versa;, pondera Gimenes.

Inovação na mira do governo


O governo federal está antenado às mudanças que as startups têm promovido na saúde e disposto a participar ativamente desse processo. Para o secretário da Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE) do Ministério da Saúde, Marco Fireman, a inovação é o principal mecanismo de desenvolvimento do país e das soluções para a cura de diversas doenças.

Em vista disso, a pasta tem apoiado os Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs), que funcionam como incubadoras de diversas startups em saúde. Em 2017, o ministério fechou parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) para destinar R$ 150 milhões a pesquisas na área da saúde.

A expectativa é de que o investimento seja traduzido em produtos que tragam avanços tecnológicos não só em medicamentos, mas em processos e equipamentos para melhorar a rotina do sistema de saúde. ;E ainda este ano, temos a meta de fechar parceria com uma aceleradora para identificar projetos de startups que sejam estratégicos para o Sistema Único de Saúde (SUS);, destaca Fireman.
Para o secretário, não há dúvidas de que a inovação tecnológica possa trazer ganhos para melhorar a qualidade do atendimento em saúde. ;E, nesse sentido, o trabalho das startups na área pode trazer benefícios, tanto em atendimentos quanto em tecnologias que resultem na melhora de tratamento e prognóstico em saúde. Além de trazer para uma escala de produção nacional produtos de importação. Desenvolver tecnologia pode ampliar nosso acesso, na medida em que torna custos menores;, sustenta.

* Estagiários sob supervisão de Rozane Oliveira