Economia

Fabricante de armas e munições,Taurus avança no mercado

Questionada na Justiça sobre a qualidade de seus produtos, a fabricante gaúcha de armas enfrenta teste para melhorar imagem

Paula Pacheco/Estado de Minas
postado em 19/02/2018 06:00
São Paulo ; A bandeira de uma parte do Congresso Nacional pela flexibilização do Estatuto do Desarmamento e o crescimento do número de candidatos pró-armamento já vinham sendo observados com atenção não apenas pelas ONGs que defendem as restrições, mas, principalmente, por empresas ligadas direta ou indiretamente a essa indústria. Agora, com a decisão do governo federal, anunciada na sexta-feira, de recorrer à intervenção no Rio de Janeiro para conter a onda de violência, esse movimento pode ganhar apoio. Se a pressão por mudanças no Estatuto do Desarmamento crescer, empresas que produzem armas e munições serão diretamente beneficiadas. A Taurus, maior fabricante de armas da América Latina, é conhecida pelo grande volume exportado. No terceiro trimestre de 2017, 13,15% da receita veio de contratos assinados no mercado interno. A maior parte ainda vem das exportações, principalmente para os Estados Unidos.

Apesar da visibilidade como grande exportadora para o mercado americano, nos últimos anos a empresa tem se deparado com uma sequência de dificuldades e, por isso, pode não tirar vantagem de políticas pró-armamentistas. O problema mais grave enfrentado pela empresa gaúcha diz respeito a acusações de falhas em suas armas. O Exército já suspendeu a compra de alguns modelos fabricados pela Taurus e a companhia vem enfrentando processos em vários estados onde seus equipamentos são usados pelas polícias.

Depois de algumas denúncias pontuais nos últimos anos, em novembro passado, o Ministério Público Federal pediu uma investigação contra a Taurus porque, segundo os promotores, foram registrados disparos acidentais e defeitos de fabricação nos produtos, o que oferece risco para quem tem de carregar as armas. Em Goiás, a Polícia Militar tirou 2,5 mil armas de circulação. Na ocasião, a fabricante informou que recorreria, ;até porque a Polícia Militar de Goiás foi a responsável por elaborar a especificação do armamento e receber as pistolas, sobre as quais nunca havia apresentado objeções e que utilizou por cinco anos;.

Em Sergipe, o MPF pediu que seja retirada a restrição à importação de armamento e munições e que 10 modelos de armas produzidas pela Taurus sejam recolhidos para reparos, substituição ou indenização. Com o crescimento das denúncias, o inimigo da fabricante pode estar no mercado interno.

Em 2016, antes de se intensificarem as queixas sobre falhas nos equipamentos, a Taurus já tinha enfrentado outro problema. Dois ex-executivos ligados à área de exportação foram denunciados pelo Ministério Público Federal do Rio Grande do Sul por vender armamento a um traficante do Iêmen, que teria enviado o carregamento ao seu país, em guerra civil, o que é considerado um ato de violação a sanções internacionais. Na época, a empresa negou envolvimento.

Reestruturação

Nesse intervalo, em 2015, a empresa colocou de pé um plano de reestruturação com o objetivo de reduzir a dívida e aumentar a produção. Mas as queixas sobre os produtos criaram uma pressão interna para recuperar a imagem arranhada. Pouco antes da virada do ano, a Forjas Taurus, que tem ações negociadas na bolsa, anunciou a renúncia do presidente, Marco Aurélio Salvany, e do diretor financeiro e de relações com investidores, Thiago Piovesan. O motivo não foi informado. Para o cargo de Salvany foi nomeado Salesio Nuhs, diretor de vendas e marketing, que passou a acumular a diretoria de RI. O conselho de administração decidiu, ainda, eleger mais dois executivos, Eduardo Minghelli e Ricardo Machado, como diretores sem designação especial.

O novo comandante da Taurus atua há 27 anos no mercado de armas e munições e é presidente da Associação Nacional de Armas e Munições (Aniam) desde 2012. Além disso, integra o Conselho Consultivo do Sistema de Fiscalização de Produtos Controlados do Exército Brasileiro. Ele teria sido escolhido para reestruturar a companhia. A empresa foi procurada, mas não retornou o contato.

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