Natalia Viri
postado em 26/02/2018 10:34
São Paulo ;O Mercado Livre encerrou 2017 com uma taxa de crescimento recorde no Brasil. Apoiado numa política mais agressiva de vendas, que inclui o frete grátis, a companhia cresceu seu faturamento em 70% ; só no quarto trimestre, avançou 80%. O balanço trouxe um retrato da nova toada da companhia: há pelo menos um ano está abrindo mão de rentabilidade para ganhar mercados. Em entrevista aos Diários Associados, Stelleo Tolda, chefe da operação brasileira, afirma que, além do Mercado Livre, o foco da empresa é expandir o Mercado Pago, seu braço de pagamentos. Segundo ele, a companhia pretende investir mais em marketing e força de vendas da sua maquininha de pagamento, entrando mais forte na briga com o PagSeguro.
A que fatores o senhor atribui o aumento expressivo nas receitas no Brasil?
Nós estivemos bem nas datas sazonais, como Black Friday e Cyber Monday, e procuramos participar dessas datas mais ativamente que nos anos anteriores. O orçamento de marketing tem acompanhado o crescimento da receita ; e, portanto, o investimento cresce porque o tamanho da empresa aumentou.
[SAIBAMAIS]No último ano e meio, o Mercado Livre decidiu privilegiar crescimento em detrimento de margem. Por quê?
Estamos num estágio incipiente no mercado em que atuamos, tanto de marketplace, quanto de pagamento. A expectativa é que a gente seja uma empresa de alto crescimento. Por isso, a decisão estratégica de começar a investir mais.
Recentemente, outros players de e-commerce no Brasil, como a B2W e a Amazon, anunciaram operações de vendas de produtos usados (C2C). Vocês sentiram algum efeito de concorrência?
Falta contexto e histórico dessas companhias nesse tipo de venda. Se você perguntar para uma pessoa que quer vender um celular usado onde elas farão a venda, elas vão dizer dois nomes: MercadoLivre e OLX. Não vou vender meu telefone usado no Submarino. Com todo respeito, acho que a gente não vai ver nenhum impacto vindo deles.
O senhor costuma dizer que o Mercado Pago pode ser maior que o Mercado Livre. Qual é a estratégia para crescer fora da plataforma do marketplace?
No mundo on-line, estamos olhando para lojistas e integração de pagamento, que é algo que tem muito potencial. No mundo off-line, a grande plataforma é a maquininha: teve um crescimento exponencial ao longo do ano. Sabemos que é um mercado competitivo que a gente não lidera. Mas temos conseguido fazer isso crescer.
Vocês atuam no mesmo segmento do PagSeguro, de pessoas físicas e PMEs?
Em termos de uma pirâmide, o PagSeguro está caminhando para o topo da pirâmide, para brigar com Rede, Cielo, GetNet. E a gente está focando na base dessa pirâmide, na qual temos uma capilaridade muito grande por conta dos vendedores do marketplace. E todos os segmentos estão crescendo, mas o maior potencial está na base e menos no topo.
Vocês vão investir mais agressivamente nas maquininhas?
O PagSeguro foi muito mais agressivo ao longo do tempo. Mas, sim, vamos investir mais e o objetivo é trabalhar com lojistas, mas deixar a marca mais visível também para o consumidor. Tudo isso faz parte de uma estratégia mais ampla de pensar o Mercado Pago como uma carteira digital. Estamos procurando trabalhar nos usos de recursos para quem tem dinheiro na conta Mercado Pago. Por exemplo: com seu dinheiro em conta, o vendedor pode hoje recarregar celular, transferir dinheiro para outras pessoas que tenham conta no Mercado Pago, pagar um boleto. Não precisa necessariamente resgatar para o banco.
A empresa iniciou recentemente um programa de concessão de empréstimo para vendedores a taxas abaixo das praticadas pelo mercado. Até que ponto essa estratégia dialoga com a integração de serviços financeiros do Mercado Pago?
As duas iniciativas conversam totalmente. Os vendedores que recebem hoje e podem ter nosso crédito são do marketplace. Mas depois poderão ser vendedores que usam o Mercado Pago fora da plataforma, no mundo on-line, que tem a maquininha do Mercado Pago. E o empréstimo é um negócio rentável. O resultado ainda é pequeno, nossa carteira ainda é incipiente, mas gera um resultado positivo. Temos baixo risco, emprestando por enquanto para vendedores que estão na nossa base. Ou seja, a inadimplência é baixa.
Com o sucesso do IPO da PagSeguro, a pergunta é inevitável: vocês pretendem fazer um spin-off do Mercado Pago, ou seja, constituir uma nova empresa?
Desde que o eBay fez o spin-off da PayPal, a gente ouve essa pergunta. A diferença é que, quando o PayPal fez o spin-off, mais de três quartos do volume de pagamento ocorria fora do eBay. No nosso caso, a maioria ainda é dentro do próprio Mercado Livre. O Mercado Pago ainda tem um longo caminho para crescer. Mesmo que hoje a gente tivesse três quartos do pagamento fora, ainda assim, teríamos dúvida se essa estratégia é a melhor. Há benefícios e sinergias em operar de forma integrada.