postado em 27/02/2018 06:00
São Paulo ; Os números apresentados ontem pela Câmara Brasileira da Construção (CBIC) sobre o desempenho do setor em 2017 são importantes por dois motivos. A primeira razão: eles comprovam que, depois de um longo período de perdas, a atividade imobiliária voltou a crescer. A segunda: a curva é ascendente. Significa que, apesar das instabilidades do país e da eleição que se aproxima, as vendas continuarão em alta ao longo do ano.
Segundo o levantamento da CBIC, que contabilizou dados de 23 cidades e regiões metropolitanas do país, o volume de imóveis vendidos no Brasil cresceu 9,4% no ano passado na comparação com 2016. Foram 94.221 unidades comercializadas em 2017, ante 86.140 no ano anterior. Já o número de lançamentos aumentou 5,2%, de 78.286 unidades em 2016 para 82.343 em 2017.
As vendas aceleraram em 14 das 23 cidades e regiões pesquisadas. Entre elas, São Paulo, Região Metropolitana de Belo Horizonte e Distrito Federal, que concentram boa parte dos negócios do setor. No campo oposto, houve queda em lugares como Rio de Janeiro e Região Metropolitana de São Paulo.
Os lançamentos seguiram lógica parecida. A expansão de novos negócios chegou a 13 regiões (São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, Distrito Federal, São Luís e Cuiabá, entre outras), ante retração em 10 lugares (Rio de Janeiro, Florianópolis, Belo Horizonte, Belém e Manaus, para citar os exemplos mais importantes). No balanço geral, as vendas superaram os lançamentos em 11.878 unidades, levando a uma redução de 12,3% no estoque de moradias disponíveis (imóveis na planta, em obras ou prontos).
Se 2017 foi o ano da retomada, 2018 pode ser o da consolidação. Segundo projeções feitas por José Carlos Martins, presidente da CBIC, tanto as vendas quanto os lançamentos de imóveis residenciais devem avançar 10% neste ano. ;Ainda estamos muito distantes dos números do período pré-crise, mas está muito claro que viramos a página;, diz Martins.
O executivo afirma que, para o setor deslanchar de vez, é preciso aumentar a disponibilidade de crédito e regulamentar os distratos, que geram enormes perdas para as empresas. Em São Paulo, o principal mercado do país, o índice de cancelamento de contratos foi de 13% nos últimos 12 meses. Trata-se de um percentual elevado, mas que já foi muito maior (de 25%, no auge da crise).
Apesar dos ventos favoráveis, a situação poderia ser melhor. É isso o que diz Celso Petrucci, presidente da Comissão da Indústria Imobiliária da CBIC. ;Se tivessem aprovado a reforma da Previdência, nossa expectativa seria muito mais positiva, mas parece que isso ficou para o próximo presidente;, diz ele.
Com a reforma da Previdência, investidores teriam mais confiança em desembolsar recursos no país, o que geraria emprego e, consequentemente, renda. Com mais renda, os consumidores se sentiriam encorajados a assinar contratos de longo prazo, indispensáveis para a aquisição de um imóvel.
A escassez de crédito é um empecilho para o setor. De acordo com os últimos dados disponíveis, a Caixa Econômica Federal responde por aproximadamente 70% do financiamento imobiliário. Sem resolver seus problemas de enquadramento de capital, o banco público acaba freando o fechamento de negócios. ;Precisamos ter outras formas para a entrada de recursos;, afirma José Carlos Martins, presidente da CBIC. ;A Letra Imobiliária Garantida (LIG) é uma delas, mas ainda requer regulamentação.;
Martins gosta de citar um número que demonstra a força do setor. Segundo ele, a relação entre o investimento feito para a compra de um imóvel e o que esse valor agrega de fato para a economia é de 1 para 5. Ou seja, para cada real aplicado na compra de uma casa, outros cinco são gerados em toda a cadeia produtiva. Poucos setores têm números tão expressivos para se orgulhar.