Paulo Silva Pinto, Vicente Nunes
postado em 28/02/2018 06:00
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou ontem a devolução de R$ 30 bilhões ao Tesouro Nacional até 2 de abril. Mais R$ 100 bilhões devem ser transferidos no início do segundo semestre. A redução dos recursos disponíveis para empréstimos não é, porém, um problema, na avaliação de Carlos da Costa, o diretor responsável pelas áreas de crédito, planejamento e tecnologia da instituição. Ele concedeu entrevista ontem ao programa CB.Poder, parceria do Correio Braziliense e da TV Brasília.
O banco retorna ao patamar de crédito anterior à crise global de 2008, que será suficiente, ressaltou Costa, para manter o ritmo de crescimento do país, com desenvolvimento das empresas e da infraestrutura pública. Haverá maior foco, explicou, no aumento do financiamento privado, com ênfase no mercado de capitais.
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Qual vai ser o papel do BNDES na retomada da economia?
[SAIBAMAIS]O que sempre foi: alavancar o desenvolvimento da nossa nação, com mais investimentos, mais recursos para a qualificação das empresas e para a infraestrutura. Pela primeira vez, no último trimestre do ano passado, mais da metade dos nossos recursos, excluindo infraestrutura, foram para pequenas e médias empresas. É com elas que temos mais flexibilidade para dar grandes saltos de desenvolvimento.
Nos últimos anos, o BNDES encolheu muito o volume de empréstimos. Qual o impacto que isso teve?
Voltamos para o patamar de antes de 2008, quando houve uma expansão em magnitudes muito relevantes, evitando que o Brasil se aprofundasse em uma crise que abateu vários outros países. Hoje, voltando para o nível de R$ 80 bilhões por ano, nós vamos ter recursos suficientes para continuar crescendo. Não é nosso objetivo, pelo menos a curto prazo, voltar aos patamares da última década.
Nos últimos anos, o BNDES se envolveu em polêmicas com empréstimos às empresas escolhidas como campeãs nacionais, incluindo JBS, Oi e as empresas de Eike Batista. Isso não deu certo por quê?
Só erra quem faz. O BNDES concedeu crédito a empresas que deram certo e a algumas que não deram. O importante é que, embora esses projetos mencionados não tenham tido o êxito que se esperava na época, eles não representam nenhuma perda para o banco e para o patrimônio do povo brasileiro. E eles fizeram parte de uma política não só do BNDES, mas do governo como um todo. O banco sempre buscou financiar aquelas empresas com maior potencial para desenvolver nosso país. Hoje temos mais de R$ 1 bilhão dedicados a pequenas empresas de alto impacto, as startups.
O Porto de Mariel, em Cuba, é um financiamento muito criticado. Ele ajudou o Brasil?
Nós não financiamos e não financiaríamos o Porto de Mariel, e sim as exportações de serviços para lá. O Brasil, hoje, é reconhecido pela extraordinária capacidade de seus engenheiros. E o BNDES sempre foi o maior financiador de portos no Brasil. Projetos de infraestrutura dependem do banco mais até do que gostaríamos.
O banco deve ajudar o aumento do financiamento privado?
Esse é um dos pilares do nosso planejamento estratégico. O setor privado não gosta de acompanhar o risco da construção. Temos que garantir essa primeira fase. Além disso, o BNDES vai conseguir levar os projetos para o mercado na fase final do projeto e, depois, dar liquidez, fazendo com que mais investidores comprem títulos de empresas brasileiras para viabilizar esses investimentos.
Há corrupção dentro do BNDES?
Não sei. O que posso afirmar categoricamente é que a organização não é corrupta. Isso significa que os mecanismos de governança e de tomadas de decisão são desenhadas para que funcionem de maneira transparente, lícita e alinhada àquilo que o povo espera de um banco de desenvolvimento.
Embora o BNDES seja muito admirado no Brasil, também é visto como caixa-preta. Por que isso ocorre?
É engraçado. Até o prédio do BNDES parece uma caixa-preta. A gente tem que admitir que, durante muito tempo, o banco não teve a transparência que a sociedade brasileira merece. Isso nós estamos admitindo em todo o nosso processo de reinvenção.