Economia

Profissionais mulheres ganham mais que homens, em média, no DF

A explicação está no fato de o acesso ao funcionalismo ser feito por seleção pública, método que se baseia na meritocracia e favorece quem tem maior escolaridade

Anna Russi*
postado em 08/03/2018 05:44
A explicação está no fato de o acesso ao funcionalismo ser feito por seleção pública, método que se baseia na meritocracia e  favorece quem tem maior escolaridade

Em um país onde as mulheres ainda sofrem discriminação no mercado de trabalho, o concurso público pode ser uma defesa. Prova disso é que o Distrito Federal (DF), onde grande parte dos postos de trabalho estão no setor público, é único lugar do país onde as mulheres recebem, em média, um salário maior que o dos homens. Segundo a Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério do Trabalho, entre 2007 e 2016, elas ganharam, em média, R$ 5.261,80, enquanto eles receberam R$ 5.196.

Para analistas, a razão disso pode ser consequência da forte presença delas na administração pública e do fato de o acesso ao funcionalismo ser feito por concurso ; um método de ingresso que se baseia na meritocracia e favorece a maior escolaridade das mulheres. ;Não tem uma diferença por sexo, então isso é uma realidade;, diz Fernanda Schr;der Gonçalves, gerente Nacional de Carreiras do Ibmec.

Entretanto, ainda há discriminação na hora de conceder cargos de chefia para mulheres. Uma pesquisa do IBGE aponta que, em todo o país, elas ocupam apenas 38% dos cargos de comando nas empresas ou no funcionalismo. A situação ainda é pior no serviço público federal. No topo dos cargos de confiança, DAS 6, elas são apenas 16,4%, e os homens, 83,6%, de acordo com os dados do Boletim Estatístico de Pessoal, do Ministério do Planejamento. Considerando todos os níveis de DAS, elas ocupam 43% dos postos, e os homens, 57%.

Mesmo com essas discrepâncias, tem havido enorme progresso na participação feminina em cargos importantes da administração. Hoje, a ministra Cármen Lúcia, comanda o Supremo Tribunal Federal (STF), a ministra Laurita Vaz, o Superior Tribunal da Justiça (STJ), e Raquel Dodge, a Procuradoria-Geral da República. Dodge é a primeira a ocupar o cargo. E Cármen Lúcia é a segunda presidente mulher do STF, em 2006 a ministra Ellen Gracie assumiu a presidência da suprema corte pela primeira vez. No Executivo, entre janeiro de 2011 e agosto do ano passado, a Presidência da República foi exercida por Dilma Rousseff. E a ministra Grace Mendonça, atual titular da Advocacia-Geral da União, é a primeira mulher a ocupar a função.

Mariana Eugênia Almeida, analista de Políticas Sociais do Ministério do Trabalho, reforça que a melhor remuneração das mulheres no Distrito Federal decorre do fato da participação elevada delas no serviço público. No Governo do DF, 62,5% dos quase 160 mil servidores ativos e inativos são mulheres, e apenas 38,4%, homens. O motivo de diferença tão grande é, principalmente, o elevado número de profissionais do sexo feminino na educação ; o segmento reúne o maior percentual de servidoras públicas entre as carreiras do DF. Na capital, elas representam ainda quase metade do funcionalismo federal.

Fora do setor público, a situação se inverte. Somente 38% do mercado privado de trabalho do DF é composto por mulheres, enquanto 62% dos empregos estão nas mãos dos homens, ou seja, dos 1,25 milhão de trabalhadores, apenas 474 mil são do gênero feminino.

Segundo Fernanda Schr;der, as mulheres têm ganhado cada vez mais determinação, assumido novas posições e tido maior foco para lidar com novas responsabilidades. ;Não que o homem não tenha essas capacidades. Mas a mulher tem conseguido fazer isso de forma assertiva e progredido muito nos últimos anos;, destacou. Ela considerou ainda que o sexo feminino leva vantagem competitiva, que é a predisposição a mudanças.

Segregação


Em nível nacional, contudo, mesmo com um nível de instrução superior ao dos homens, as mulheres continuam recebendo menos. Dados do IBGE mostram que a maior diferença percentual está na faixa de 25 a 44 anos de idade. Nesse grupo, o percentual de homens que completou a graduação é de 15,6% e o de mulheres chega a 21,5%. No entanto, elas continuam recebendo, em média, cerca de três quartos do que eles ganham. Em 2016, o rendimento mensal das mulheres dessa faixa etária era de R$ 1.764, e o dos homens, de R$ 2.306.

De acordo com o IBGE, isso pode estar relacionado à segregação ocupacional a que as mulheres estão submetidas no mercado de trabalho. Na categoria de ensino superior completo ou mais, o rendimento das mulheres equivalia, em 2016, a 63,4% do que os homens recebiam.

* Estagiária sob supervisão de Odail Figueiredo

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