Economia

Guerra comercial: retaliação da UE aos EUA afeta exportação no Brasil

Alguns negociadores brasileiros já apontam que, se tudo isso for implementado, as perdas para o Brasil poderão ser bilionárias

Agência Estado
postado em 08/03/2018 08:25
Na semana passada, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou a intenção de impor barreiras alfandegárias globais
O risco de guerra comercial entre os Estados Unidos e a União Europeia cresceu nessa quarta-feira (7/3) com o anúncio feito por Bruxelas de que vai retaliar em até três meses se Washington cumprir a ameaça de elevar as tarifas para a importação de aço e alumínio.

As áreas da economia americanas afetadas seriam tanto a indústria metalúrgica quanto setores simbólicos da indústria e da agricultura do país - com baixo impacto sobre os consumidores europeus. Em paralelo, medidas de salvaguarda contra o aço e o alumínio produzido em países como Canadá, China e Brasil poderiam ser adotadas para evitar a "invasão" do mercado europeu

A estratégia adotada pelos europeus acabará tendo um impacto negativo para as exportações brasileiras. Setores como o do aço, tabaco, suco de laranja, têxteis e calçados podem ser afetados. Bruxelas indicou que está examinando uma lista de produtos que seriam alvo de uma retaliação. O problema é que, pela lei, a imposição de uma salvaguarda exigirá que a UE aplique a mesma tarifa para todos os governos, inclusive o Brasil.

Na semana passada, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou a intenção de impor barreiras alfandegárias globais da ordem de 25% para as importações de aço e de 10% sobre o alumínio, alegando segurança nacional.

Nesta quarta-feira, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Steven Mnuchin, disse, na TV americana, que o anúncio sobre a tarifação de aço e alumínio deve ser feito hoje.

A comissária europeia do Comércio, Cecilia Malmstr;m, apresentou, nesta quarta, as linhas gerais da eventual represália europeia, que incidiria sobre uma cesta de produtos no valor de ; 2,8 bilhões - o estimado das barreiras americanas

Além do aço e do alumínio procedentes dos EUA, que também seriam sobretaxados, os produtos atingidos pela alta de impostos europeus, ainda não revelados, teriam valor econômico, político e simbólico, mas com baixo impacto sobre a economia do bloco. Jeans Levy;s, motocicletas Harley Davidson e whisky bourbon, os exemplos citados no final da semana pelo presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, foram indiretamente confirmados como parte do pacote pela comissária de comércio. Cecilia Malmstr;m, entretanto, reiterou que espera não ter de impor barreiras. "Nós poderemos decidir fazê-lo, mas também poderemos esperar. Depende das medidas implementadas (nos EUA) e por quanto tempo", afirmou a comissária.

Entre os produtos cogitados estão o suco de laranja, a manteiga de amendoim, além dos jeans, motocicletas e whisky. "Uma lista provisória está em discussão e será publicada em breve", confirmou Cecilia Malmstr;m, que não mencionou marcas ou fabricantes específicos americanos atingidos pelas retaliações. "Haverá produtos em aço, industriais e agrícolas", disse ela, referindo-se ainda a "calças de trabalho, de algodão, para homens", por exemplo.

Brasil

O Estado apurou que, dentro do governo brasileiro, técnicos começam a avaliar qual seria o impacto de uma medida europeia em determinados setores. Diplomatas brasileiros também já deixaram claro de maneira informal aos europeus sua preocupação com o impacto em cascata que retaliações poderiam ter.

A Europa é, por exemplo, o principal comprador do suco de laranja brasileiro, respondendo por cerca de 70% das vendas nacionais ao exterior. A lista preliminar dos europeus também inclui sapatos de couro, tabaco e outros produtos que também são exportados pelo Brasil.

Para completar, os europeus indicaram que irão aplicar salvaguardas contra o aço brasileiro que, numa situação normal, estaria indo ao mercado americano. O objetivo é o de evitar que a oferta extra no mercado internacional acabe inundando seu próprio mercado, com aço do Brasil e de outros setores.

Alguns negociadores brasileiros já apontam que, se tudo isso for implementado, as perdas para o Brasil poderão ser bilionárias. Por enquanto, o governo brasileiro está apenas aguardando o anúncio pela Casa Branca. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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