Economia

Com mudanças na equipe econômica, Dyogo Oliveira mostra força na Esplanada

Ministro do Planejamento frustra tentativa de Meirelles de comandar a economia e faz sucessor. Na presidência do BNDES, instituição subordinada à pasta, se mantém perto das decisões do Planalto, com um salário bem mais alto do que recebe no Executivo

Antonio Temóteo, Hamilton Ferrari
postado em 03/04/2018 06:00
Oliveira indicou o secretário executivo Esteves Colnago para sucedê-lo no comando do ministério

Na dança das cadeiras da equipe econômica, o nome do ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, não demonstrou fraqueza e se sobressaiu como um dos mais beneficiados com as alterações. Mesmo deixando o órgão, emplacou um dos seus aliados no comando da pasta, o atual secretário executivo, Esteves Colnago. Antes, considerado uma sombra do líder do governo no Senado, Romero Jucá (MDB-RR), Oliveira cresceu no governo federal, criando a própria identidade e ganhando espaço nas negociações decisivas. Tanto é que o presidente Michel Temer não acatou a indicação do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, de nomear o secretário de Acompanhamento Econômico, Mansueto Almeida, no comando do Planejamento.

A influência de Oliveira e Romero Jucá impediu que Meirelles assumisse o ;ninho; dos dois. A escolha de Colnago para o Planejamento cria uma rede de proteção para o atual ministro, já que seu sucessor reza na mesma cartilha e ele estará por perto, na presidência do Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), instituição subordinada à pasta.

O atual secretário executivo nasceu em Manaus, mas tem carreira pública na capital federal. Economista com mestrado em Ciências Econômicas pela Universidade de Brasília (UnB), Colnago é funcionário de carreira do Banco Central, mas passou por diversos órgãos, como as secretarias do Tesouro Nacional e de Políticas Econômicas do Ministério da Fazenda. Michel Temer acredita que ele servirá para dar continuidade no trabalho de Oliveira.

Reconhecimento

Dyogo Oliveira viaja para o Rio de Janeiro, onde é a sede do banco de fomento com a certeza de ter conseguido o reconhecimento pelo seu trabalho na Esplanada e com uma vantagem adicional: o salário bem maior do que o que recebia no Executivo. Para comandar o BNDES, terá remuneração de R$ 87.392, sem contar com os R$ 1.613 de vale-alimentação. Valor que jamais receberia como ministro, já que ultrapassa em 2,5 vezes o valor do teto do funcionalismo.

No banco, Oliveira focará as pequenas empresas, infraestrutura, inovação e comércio exterior, conforme combinou com o presidente Michel Temer. Grande conhecedor do Orçamento Público, o atual ministro do Planejamento quer fazer com que o banco não dependa dos subsídios do governo, fazendo que atue com recursos próprios. Na mesma linha, não criará impasse para a devolução de mais de R$ 100 bilhões que o BNDES deve ao Tesouro Nacional. O pagamento deve ser feito até o fim de 2018 para ajudar o governo a cumprir a Regra de Ouro ; legislação que impede que o Executivo crie dívidas para pagar despesas correntes, como salário de servidores.

Na Esplanada, a ascensão de Oliveira tem uma explicação prática. No momento em que o governo sofria forte cobrança por medidas concretas para estimular a economia, não somente pela defesa de reformas estruturantes, como a da Previdência, foi dele a ideia de liberar os saques das contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Isso fez com que caísse nas graças de Temer. Com um perfil técnico e discreto, o ministro do Planejamento passou a ser consultado pelo presidente de República e conseguiu se distanciar da sombra de Jucá.

Chefia em jogo

Não à toa, Oliveira deixou de ser interino, foi efetivado no cargo e alguns de seus aliados têm sido emplacados em cargos cobiçados por diversos partidos, como uma Diretoria do Funpresp, o fundo de pensão dos empregados do Legislativo e do Executivo. Além disso, ao contrário do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, o chefe do Planejamento passou a ter uma boa relação com os principais auxiliares de Temer, entre eles, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, o secretário-geral da Presidência da República, Moreira Franco.

Em algumas oportunidades, Meirelles e Jucá trocaram farpas pela imprensa, enquanto Oliveira mantinha uma boa relação com os principais auxiliares do chefe do Executivo. ;O ministro do Planejamento ganhou brilho próprio no governo e deixou de ser interino rapidamente. Não à toa passou a ser consultado para todos os temas relevantes da equipe econômica, o que provocou ciúme;, disse um assessor de Temer.

Segundo um outro interlocutor de Temer, o presidente e sua equipe escolheram Oliveira para frear as pretensões de Meirelles de continuar no comando da equipe econômica, mesmo que fora do governo. Com isso, fica claro que o prestígio do chefe da equipe econômica tem limite. ;Quem manda é o presidente Temer. Meirelles é um excelente quadro, mas não é presidente da República. Quem escolhe os ministros e presidentes de banco não é ele. É o chefe do Executivo;, afirmou o auxiliar do Planalto.

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