Anna Russi*
postado em 05/04/2018 06:00
Um novo capítulo da guerra comercial entre Estados Unidos e China fez crescer, ontem, a tensão entre as duas maiores potências econômicas do mundo. Ontem, o governo chinês anunciou que vai aplicar tarifa de 25% para soja, carros e outros produtos norte-americanos. As restrições devem impactar um total de US$ 50 bilhões de exportações dos EUA para a China. A medida foi adotada uma dia depois de Washington divulgar uma lista de produtos chineses que serão sobretaxados a partir de maio.
Lia Valls Pereira, professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), frisou que a disputa entre as duas maiores economias globais gera um cenário de instabilidade ruim para todo o mundo. ;Isso enfraquece o sistema multilateral, e países com pequena participação econômica precisam de regras multilaterais estáveis;, disse.
[SAIBAMAIS]Até o momento, Pequim não havia anunciado medidas contra produtos vitais da economia americana, como soja e automóveis. Um terço da produção de soja dos Estados Unidos é vendido para a China, um valor que atingiu US$ 14 bilhões no ano passado. O produto é procedente, em grande parte, de estados que, em sua maioria, votaram em Donald Trump na eleição presidencial de 2016.
Segundo Marília Castañol, da GBI Consultoria Internacional, os segmentos exportadores dos produtos bloqueados vão reagir. ;No entanto, não sabemos se o governo vai ser sensível às queixas desses setores;, ponderou. Lia Valls observou que muitas empresas americanas produzem em território chinês. ;Se esses interesses forem afetados, pode surgir, dentro dos Estados Unidos, um movimento contrário às políticas de Trump;, comentou.
Na terça-feira, o governo norte-americano havia anunciado que passará a cobrar tarifa de 25% sobre 1.300 produtos chineses, de eletrônicos a peças de aviões, uma medida, segundo Washington, para punir a atitude chinesa de forçar a transferência de tecnologia americana a empresas do país.
Carlos Gustavo Poggio, professor de relações internacionais da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), diz que quem tem mais a perder na disputa é a China, que vende uma ;infinidade; de produtos aos EUA. ;Por outro lado, temos que avaliar até onde vai a guerra comercial. As ações do presidente Donald Trump têm suporte na sociedade americana atual e isso é importante;, lembrou.
Joelhos
A lista chinesa de represálias compreende 106 famílias de produtos norte-americanos, entre eles carne, uísque, aviões, químicos e cigarros. A data para aplicação das restrições ainda será anunciada, mas Pequim se diz disposta a continuar respondendo às ações do governo Trump. ;Qualquer tentativa de colocar a China de joelhos com ameaças e intimidações nunca terá êxito;, afirmou o porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Geng Shuang.
Ontem, Trump voltou defender sua política. ;Não estamos em uma guerra comercial com a China, esta guerra foi perdida há muitos anos pelas pessoas tolas, ou incompetentes, que representavam os Estados Unidos;, disse, no Twitter. ;Agora temos deficit comercial de US$ 500 bilhões por ano, com o roubo de propriedade Intelectual de outros 200 bilhões. Não podemos permitir que isso continue.;
* Estagiária sob supervisão de Odail Figueiredo
- Cai preço do do gás de cozinha
A Petrobras anunciou ontem redução média de 4,4% do gás de cozinha, o GLP residencial. A partir de hoje, o produto será vendido, nas refinarias, por R$ 22,13, preço diferente do cobrado ao consumidor, que inclui as margens de distribuidores e revendedores. O ajuste do produto passou a ser trimestral em janeiro, para reduzir a transferência de volatilidade do mercado internacional para o bolso do brasileiro. A estatal anunciou ainda queda de 0,8% para o litro da gasolina, que passará a vender por R$ 1,6448, e alta de 0,6% para o diesel, que passa a custar R$ 1,8696 nas refinarias.