postado em 10/04/2018 06:00
Ou as empresas se adaptam desde já às mudanças que virão no mercado de trabalho ou perderão a competitividade. Em pouco mais de quatro décadas, o mundo terá mais profissionais seniores do que jovens. Em 2060, em cada 10 brasileiros, um terá mais de 60 anos e essa mão de obra precisará ser bem aproveitada pelas organizações. Estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV/SP), em parceria com a Aging Free Fair, entretanto, mostra que o país não está preparado para o novo contexto demográfico. E pior: não inseriu esse público no mercado por preconceitos e conservação de estereótipos.
;As organizações são o microcosmo da sociedade. A discriminação está presente, principalmente em relação às mulheres. Porém, no futuro, teremos poucos jovens disponíveis. As empresas que entenderem logo isso ganharão vantagem competitiva em relação às concorrentes;, explicou Vanessa Cepello, professora e pesquisadora de Organizações e Pessoas da FGV e coordenadora da pesquisa Envelhecimento nas organizações e a gestão da idade, que será apresentada hoje, no 1; Fórum de Talentos Grisalhos. O estudo aponta contradições. Das 140 empresas pesquisadas, 75% preferem os jovens. Entre os motivos, 30% afirmaram que os seniores oneram os custos com planos odontológicos e de saúde.
Investimento
Um contrassenso, disse Vanessa, porque, ao mesmo tempo, 84% admitiram que os mais velhos têm boa condição de saúde, 74% disseram que eles sofrem menos acidentes de trabalho e, para 69%, têm mais capacidade de solução de problemas. ;Com todas essas características, não são mais caros. O que falta é incentivo e investimento nas relações intergeracionais. Mas 88% das empresas nem sequer desenvolvem campanhas específicas para seleção de talentos grisalhos;. De acordo com o estudo, os principais benefícios em contratar idosos são experiência profissional e conhecimentos técnicos (70%); e comprometimento e senso de responsabilidade (54,29%).
Entre as barreiras que impedem a contratação, foram citadas dificuldade de lidar com novas tecnologias (62,14%); falta de flexibilidade e adaptação às mudanças (48,57%); dificuldade de reconhecer liderança dos mais novos (45%) e de atualização às exigências do mercado (42,43%). Para as mulheres, a situação ainda é mais difícil. ;As executivas se sentem velhas aos 40 anos, 10 anos mais cedo que os homens. A partir dessa idade, têm mais medo do desemprego e mais contratempos na recolocação, embora vivam mais e sejam mais qualificadas;, lembrou Vanessa Cepello.
Fátima Nery, 56 anos, percebe nos olhares que a idade incomoda. Começou a trabalhar em 1983, como assistente. Hoje é dona de um salão. ;Apesar de reconhecida pelo meu trabalho, até hoje, quando participo de algum curso, olham-me como se eu fosse um ET;, contou Fátima. Ela é colorista, com várias especializações no exterior. ;E me reinvento a cada dia. A experiência é importante até no momento do erro. Porque, aí, o fundamental é saber consertar;, orgulha-se. ;Reinventar-se; é o que faz a maioria de suas colegas de salão. Com 35 anos de profissão, não aceito que achem que sou apenas uma senhora. Isso é muito ruim;, reclama.