Economia

Empresas brasileiras ainda ignoram consumidores da terceira idade

Levantamento mostra que idosos estão atentos às novas tecnologias, mas sentem falta de opções de cursos, roupas e alimentos específicos para eles

Lino Rodrigues , Paula Pacheco/Estado de Minas
postado em 19/04/2018 11:49
Desenho de dois idosos com semblante sério. A mulher se apoia em um carrinho de mão
São Paulo ; O mercado dos chamados ;maduros; ; aqueles a partir de 50 anos, ainda não é plenamente atendido, tanto na parte de produtos quanto na de serviços. Esses consumidores, mostra o instituto de pesquisa MindMiners, sentem falta, por exemplo, de cursos livres para a sua idade e alimentos específicos. Nem os setores de beleza e de vestuário escaparam das críticas dos seniores. Para a maioria dos 863 entrevistados, há uma carência grande também desse tipo de produto.

Para 57% dos entrevistados, a atual oferta não atende à sua expectativa de consumo, já que têm de compartilhar de produtos e serviços que não foram pensados para eles, mas sim para uma faixa etária genérica.

De acordo com Danielle Marques de Almeida, coordenadora da pesquisa e gerente de marketing da MindMiners, o consumidor maduro está muito antenado e procura marcas e serviços que se encaixem em suas vidas. Hoje, segundo a executiva, ele está à margem do consumo e não se sente representado nas empresas nem na publicidade.

Essa pesquisa, diz Danielle, é a primeira e tem como objetivo abrir uma discussão sobre como atender esse consumidor de mais idade. ;É preciso que as empresas saiam da zona de conforto e partam para atender a essa camada de consumidores sem preconceito ou estereótipos.;

O levantamento, feito em parceria com a Hype60%2b, consultoria de marketing especializada em consumo sênior, aponta ainda que o serviço de TV paga é o que os maduros mais compram, mas isso varia de acordo com a faixa etária. Entre 50 e 59 anos, serviços de entretenimento, como Spotify e Netflix, são os mais acessados. Já entre aqueles acima dos 60, os serviços mais consumidos são os de mobilidade e saúde.

Tecnologia

Os maiores gastos pessoais entre esses consumidores são com alimentação e com plano de saúde. Depois de desembolsar com a casa, chega a vez das necessidades pessoais. A maioria da população sênior pesquisada tem moradia própria (73%), um terço divide o teto com mais uma pessoa e 21% vivem sós.

A internet é a principal fonte de pesquisa quando buscam informações sobre produtos. Ainda segundo o levantamento, 47% fazem suas compras tanto em lojas físicas quanto pelos sites das lojas, o que confirma que os sêniores são bem ligados à tecnologia. Na hora de gastar, a grande maioria busca informações no Google/buscadores (85%) ou em sites especializados (83%), enquanto que em 63% das vezes as consultas são feitas junto a amigos.

Sílvio Laban, coordenador do mestrado em administração do Insper, acredita que as empresas estejam se adaptando a esse mercado à medida que ele avança e fica mais relevante. ;Se ainda há aqueles que se queixam da atual oferta, pode ser que não estejam suficientemente ativos ou estejam se satisfazendo com o que é desenvolvido para outros perfis de consumo;, analisa.

O especialista lembra que para as empresas há um grande desafio quando se fala do consumidor sênior: a valorização da maturidade, mas sem que ele seja colocado em uma posição como se apresentasse ;defeito de fabricação;. ;É algo difícil de ser feito, porque não se pode, em hipótese alguma, remeter a comunicação sobre aquele produto ou serviço a algo que traga preconceito ou estereótipos;, comenta Laban.

O resultado da pesquisa revela uma oportunidade para as empresas que ainda não olharam para esses consumidores insatisfeitos. Algumas já estão oferecendo o atendimento diferenciado para o público maduro. É o caso da Encontre Sua Viagem, rede de franquia especializada em serviços de turismo. Segundo Henrique Mol, diretor-executivo, o grupo de pessoas acima dos 60 anos já está entre os principais clientes da companhia. ;É um público fiel, que hoje corresponde a 30% da nossa clientela;, diz. De acordo com a pesquisa da MindMiners, 4% das despesas dos entrevistados ;maduros; são com lazer e viagens. No entanto, para 37% faltam serviços turísticos específicos.

Em 2017, a rede de serviços turísticos registrou crescimento de 20% no número de viagens vendidas para a terceira idade em relação ao ano anterior. Mol acredita que a tendência é de que as vendas continuem a crescer em 2018, em parte pelo sinal de melhora na economia. Mas o executivo também acredita que no médio prazo esse segmento continue a crescer, já que a população de idosos vem aumentando no Brasil.

A preferência desses consumidores, segundo o executivo, é por cruzeiros pelo litoral brasileiro e viagens para Porto Seguro (BA) e Fortaleza. Mas o destino mais desejado é a Europa. ;Temos um público estimado de 90% de idosos que são movidos até lá principalmente pelo turismo religioso;, conta Mol.

Ainda segundo o diretor da rede de franquias, esse é um público muito fiel aos prestadores de serviço. Se gostam do serviço, diz, eles voltam. ;Temos clientes de anos conosco. O hábito desse público é fechar as compras com antecedência e realizar viagens pelo menos uma vez por ano. E por ter flexibilidade de tempo, a busca ocorre de forma distribuída durante os 12 meses. Eles viajam quando querem e muitos aproveitam as baixas temporadas para comprar pacotes com preços menores;, explica o executivo.

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