postado em 08/05/2018 06:00
A empresa começou como financeira antes de se tornar banco. O que mudou nesse processo?
Como banco, o espectro de produtos é muito maior. Na financeira, os produtos eram basicamente empréstimos para pessoa física. O banco tem inúmeras outras possibilidades.
Como surgiu a ideia de criar um banco 100% digital?
Eu tinha clientes que compravam investimentos nossos e começaram a se digitalizar. A pessoa mandava um e-mail dizendo que queria resgatar o CDB para comprar um carro. Ela já estava querendo uma experiência de autoatendimento. E então eu pensei que podia ampliar esses serviços, que podia montar um banco de varejo totalmente digital. Apresentei esse projeto no conselho e o pessoal viu que havia pouco risco nessa transformação.
Você já tinha ideia de oferecer uma conta 100% gratuita?
Sim, já nasceu assim.
É de se imaginar que isso causou algum estranhamento, porque as tarifas bancárias têm um peso brutal no negócio dos bancos.
Sim, mas mesmo assim o conselho aprovou a iniciativa. O conselho foi sábio nessa história. Ele percebeu que não tínhamos muita coisa a perder.
A plataforma digital demandou investimentos em tecnologia?
Foi um projeto com poucos investimentos em sistemas. A gente já tinha um legado de banco funcionando, não foi preciso colocar um sistema de conta-corrente para funcionar. Se a gente fosse só uma fintech, aí você teria que gastar R$ 100 milhões, ou mais. Nós adaptamos uma plataforma que já rodava há 20 anos. Já tínhamos um legado.
Como é possível conquistar a confiança do correntista para trabalhar em uma plataforma 100% digital?
O banco já tinha um nome nacional. Sempre tivemos credibilidade, boas referências. O que acontece também é que as pessoas estão machucadas com o sistema financeiro, e por isso mais abertas a mudar.
Como assim?
Você viu aquela série Medici (Medici: Master of Florence, sobre a dinastia mais influente na Renascença italiana)? Pois bem, os banqueiros já eram odiados desde lá. As pessoas sempre acharam que o banco está roubando, escondendo uma tarifa, passando a perna. Isso está no subconsciente das pessoas. Então na hora que a gente lançou a plataforma digital, fácil de abrir, com uma experiência boa e gratuita, o cara já estava predisposto, doido para ir para um banco assim.
Se é 100% digital, o que o cliente faz quando precisa falar com o gerente?
Ele fala com o gerente. Nós não somos um algoritmo. Se eu tenho uma dúvida, basta procurar o banco e nós temos uma equipe para atender. Não somos um banco virtual. O Inter é um banco digital. A gente não precisa ter agência, carro-forte, guarda armada, porta giratória para prestar atendimento de qualidade. Há pessoas por trás para dar suporte ao cliente.
O banco oferece diversos tipos de conta?
Um de nossos pilares é a simplicidade. Tentamos oferecer os produtos mais simples possíveis. Por quê? Para não ter que dar atendimento desnecessário. Nós não temos conta flex, conta universitária.
Se o cara ganha X ou Y, é a mesma conta?
A minha conta é idêntica à de qualquer pessoa. E gratuita como a de todo mundo.
É 100% gratuita? Não tem pegadinha?
100% gratuita. Nós não vamos lançar uma conta gratuita para depois da décima TED (transferência) passar a cobrar um determinado valor. Não adianta colocar uma taxa em algum lugar e não ser transparente com o cliente.
Se a conta é 100% gratuita, como o banco faz para ganhar dinheiro?
Você pega um banco tradicional, com mais de 5 mil agências, mais de 80 mil pessoas trabalhando, quase um exército. É muita energia sendo gasta. Esse é o primeiro diferencial nosso. Quando você tem uma estrutura leve, já corta esse custo todo.
O banco Inter não tem agência?
Zero agência, mas isso é só uma parte da equação. Vou dar um exemplo: o Pão de Açúcar não cobra nada para você entrar no supermercado dele, certo? Imagina se o Pão de Açúcar coloca uma catraca e cobra R$ 10 para o cliente entrar. Cliente não paga para entrar no nosso supermercado, mas ele irá fazer o crédito imobiliário, o seguro do carro, vai investir, recarregar o celular. Nós vamos ganhar dinheiro com isso e não cobrar tarifa dele.
Por que fazer o IPO agora?
Crescer um negócio sem lastro é o maior perigo que existe. Se você tiver uma dificuldade, precisa ter um colchão, um amortecedor. Quando a gente começou a ver que o banco estava bombando, pensamos que não era saudável crescer nesse ritmo só com o nosso capital.
Como será usado o dinheiro da captação?
Banco é diferente de empresa. Se uma indústria faz o IPO, ela quer dinheiro para expandir, para comprar outra fábrica. No caso do banco, é para ter um lastro patrimonial para crescer.
A médio e longo prazos, qual é a ambição do banco?
Eu acho que nós podemos ser a principal plataforma de digital banking da América Latina.