Jornal Correio Braziliense

Economia

Preço cai menos que a média e etanol não compensa para os brasilienses

Mesmo com a boa safra de cana, que reduziu os custos do álcool em todo o país, troca da gasolina pelo produto ainda não é compensadora para o motorista do DF


Com o preço da gasolina cada vez mais alto, o uso do etanol hidratado para abastecer o carro deveria ser uma opção para muitos motoristas, mesmo porque o biocombustível tem caído de preço em todo o país. No Distrito Federal, contudo, essa regra não vale. Segundo dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP), desde março, o preço nacional médio do etanol registrou queda de 6,68%. Nos postos do DF, o valor do produto diminuiu 5,83%. Nessa situação, a substituição da gasolina pelo derivado de cana-de-açúcar continua não sendo vantajosa para o consumidor brasiliense.

O valor médio do etanol nos estabelecimentos habitualmente visitados pelo Correio no DF é 19,38% mais em conta do que o da gasolina. De acordo com os dados da ANP, a diferença é ainda mais discrepante. Enquanto a média nacional indica economia de até 48,09% para o consumidor que opta pelo álcool, no DF a poupança é de apenas 16,84%. Para que o uso do biocombustível nos veículos compense, no entanto, é preciso que o preço do biocombustível não ultrapasse 70% do valor cobrado pela gasolina. Isso porque os motores a álcool consomem mais do que os movidos a gasolina.

Em alguns estados, a diferença de preço entre os dois produtos torna compensador o uso do álcool. Em Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Paraná, que concentram juntos metade da frota nacional de veículos leves, o valor do etanol em relação à gasolina chegou a 64%, 68%, 66% e 71%, respectivamente. De acordo com a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Única), a boa safra é a maior responsável pela redução do preço final do produto.

Queixas

Entre consumidores do Distrito Federal, porém, as reclamações quanto ao preço do etanol são recorrentes. A professora Keila Tatiane Formiga, de 41 anos, afirmou que, apesar dos cálculos, a substituição da gasolina pelo álcool continua não sendo vantajosa. ;Toda vez que eu coloco os preços na ponta do lápis para saber qual combustível é mais econômico, a gasolina sobressai;, disse. ;Para que eu começasse a abastecer com etanol, ele precisaria estar em torno de R$ 2 por litro, e não cerca de R$ 3,50, que é o valor encontrado por aí;, afirmou.

O motorista Cassiano Pereira Martins, 62, também reclama do valor cobrado nos postos do DF. ;Mesmo com a opção de abastecer com os dois combustíveis, sempre dou preferência à gasolina. Com ela, o meu carro percorre 12 quilômetros por litro. Com o álcool, ele só faz 9 quilômetros;, destacou Martins. ;Desde que comprei esse veículo, em 2012, só o abasteci com etanol duas vezes;, contou.

Segundo o presidente do Centro Brasileiro de Infraestrutura, Adriano Pires, faltam incentivos para a comercialização do etanol. ;Estamos em um bom momento para o produto, a safra está muito boa e estamos produzindo bastante. O que falta é incentivo, propaganda para que o biocombustível seja mais utilizado;, afirmou Pires. De acordo com ele, é questão de tempo para que o etanol seja vantajoso em todo o país. ;Ainda existem locais em que não compensa abastecer com etanol, como no DF. Mas a tendência é de que a gasolina continue em alta, então, daqui a alguns meses, o combustível será mais vantajoso no Brasil inteiro;, previu.

Marcos Jank, engenheiro agrônomo e especialista em agronegócio e comércio exterior, disse nesta semana, em entrevista ao programa CB Poder, do Correio e da TV Brasília, que, em um momento de alta do petróleo, a produção e o consumo do etanol podem se viabilizar no mercado. ;O preço da gasolina é formado a partir das cotações internacionais do petróleo e de seus derivados. Então, se o petróleo subir, isso beneficiará o etanol que, além de poder ser misturado à gasolina, é um concorrente direto desse produto, pois pode ser usado sozinho como combustível;, explicou.

Jank observou que o preço do etanol também está ligado ao valor do açúcar, que, no momento, está em baixa. ;Tivemos problemas de acesso do açúcar na China, conflitos comerciais. Infelizmente, alguns países, como os Estados Unidos, têm pressionado nossos clientes a comprar os produtos deles, e isso nos deixa fora do mercado;, explicou. Isso tem aumentado a oferta de álcool dentro do Brasil.

Competitividade

Para que surjam novos investimentos no setor, Marcelo Jank acha que é necessária uma visão de médio e longo prazos, o que os empresários não tiveram nos últimos oito anos. ;Momentaneamente, teremos esse movimento de açúcar para etanol, puxado pela alta cotação do petróleo e pelo baixo preço do açúcar. De 2005 a 2010, foram construídas muitas usinas, mas, de lá para cá, tudo parou. O setor entrou em crise, a ponto de hoje importarmos etanol de milho. Perdemos competitividade;, avaliou.

* Estagiárias sob supervisão de Odail Figueiredo