O presidente Michel Temer completou ontem seu segundo ano de governo com melhora em setores da economia, mas ainda longe da promessa de plena retomada do crescimento. A gestão Temer conseguiu se equilibrar nos 24 últimos meses. A avaliação de analistas ouvidos pelo Estado, contudo, é de que a gestão será "burocrática" até o fim do mandato, sem a perspectiva de aprovação de reformas estruturais como a da Previdência.
Conforme levantamento feito pelo Estado em parceria com a Tendências Consultoria, com base no documento Uma Ponte para o Futuro - redigido pela Fundação Ulysses Guimarães com as diretrizes para a nova gestão - e no primeiro discurso de Temer como presidente, das 15 promessas feitas, metade foi cumprida pelo governo do emedebista. O foco das metas atingidas está na área na área econômica.
Com rejeição recorde entre os presidentes desde a redemocratização, Temer conseguiu reduzir inflação e taxa de juros. O desemprego se mantém em patamares ainda elevados, apesar de apresentar uma pequena redução no último ano.
Das promessas de reformas estruturais, apenas a trabalhista foi aprovada. As denúncias de corrupção deixaram a base de Temer frágil para a aprovação de leis impopulares em um ano eleitoral. Para o cientista político do Insper Carlos Melo, a gestão Temer "vai andar de lado". "Será uma gestão burocrática, com a equipe econômica fazendo o que dá e está ao alcance."
As acusações envolvendo não apenas o presidente como seus aliados mais próximos teriam sido decisivas, segundo Melo. Temer anunciou um Ministério de "notáveis". Nestes dois anos, porém, a Operação Lava Jato atingiu o "núcleo duro" do governo e ex-ministros foram presos. A Câmara barrou a autorização para o julgamento de duas acusações formais contra o presidente.
Claudio Couto, professor de Gestão e Políticas Públicas da FGV-SP, acredita que o governo não deve conseguir aprovar mais nada até o fim do ano. "As dificuldades têm a ver com a própria fraqueza do governo, são mais consequência que causa. As denúncias tornaram Temer um líder tóxico do qual ninguém quer se aproximar."
Já o professor de Ciência Política da Universidade de Brasília Ricardo Wahrendorff Caldas vê com menor impacto as denúncias contra Temer, as quais avaliou como "mal formuladas, de forma corrida" e que não teriam afetado tanto sua imagem.
O governo, segundo Caldas, cumpriu promessas de controle da inflação, aprovação da lei da terceirização e a reforma trabalhista. "As dívidas foram a não aprovação da reforma da Previdência e o combate ao desemprego. Achavam que postos de trabalho seriam criados naturalmente e não foi bem assim."
A assessoria de imprensa do Planalto afirmou que a atual gestão persistirá na aprovação de projetos essenciais para o País, como o Cadastro Positivo aprovado na semana passada .
Temer disse ao Estado que está "disposto a fazer um acordo" com o presidente eleito para tentar aprovar a reforma da Previdência ainda neste ano.