Economia

Incerteza provocada por greve dos caminhoneiros faz bolsa cair 5% na semana

Só as ações da Petrobras recuaram mais de 20% nos últimos cinco dias, reduzindo o valor de mercado da empresa. Dólar vai a R$ 3,666

Simone Kafruni
postado em 26/05/2018 06:00
Homem observa painel na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa)
O mercado tensionou ainda mais o nervosismo provocado pela crise da paralisação dos caminhoneiros com uma influência negativa do cenário internacional nos negócios. Ontem, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), teve queda de 1,53% e fechou aos 78.898 pontos. Na semana, a perda acumulada chegou a 5,04%. O dólar continuou sua escalada: subiu 0,49% e alcançou R$ 3,666 para venda.

As ações da Petrobras, que têm forte influência no índice, derreteram mais um pouco, com desvalorização de 1,39% nas preferenciais, cotadas a R$ 19,80, e de 0,73% nas ordinárias, precificadas em R$ 23,03 no fim do pregão. Os papéis da petroleira despencaram mais de 20% no acumulado da semana. Desde 16 de maio, quando atingiu a maior valorização recente, de R$ 388,8 bilhões, a companhia perdeu R$ 106,5 bilhões em valor de mercado. Ontem, valia R$ 282,3 bilhões, segundo levantamento de Einar Rivero, da empresa de informações financeiras Economática. ;A companhia perdeu o equivalente a um Santander;, comparou.

Liquidez

As quedas do petróleo e das bolsas de Nova York e de países emergentes colaboraram para um pregão bastante tenso, com investidores temerosos deixando suas posições e preferindo manter a liquidez até a imprevisibilidade passar. O momento mais nervoso ocorreu à tarde, após a declaração do presidente Michel Temer de que o governo usaria as Forças Armadas para acabar com os bloqueios nas rodovias. Rumores sobre a eventual saída de Pedro Parente do comando da Petrobras aumentaram o clima de incerteza e jogaram uma pá de cal na tentativa de recuperação dos papéis da estatal, que mantinham estabilidade na parte de manhã, ensaiando até leve alta.

Para o analista da Ativa Investimentos Lucas Claro, a situação é preocupante, porque o mercado não tem noção do que pode acontecer. ;Quando as notícias se tornam imprevisíveis, os investidores saem do mercado. Vão para a renda fixa ou mesmo tiram seus recursos e preferem ficar líquidos, esperando uma posição do governo;, avaliou. Como a Petrobras está no centro da crise dos caminhoneiros, os ativos romperam o suporte de R$ 20. ;Na máxima, as ações chegaram a R$ 21,27 e passaram um tempo no positivo. Mas nas duas horas finais do pregão perderam tudo e mais um pouco;, comentou.

Além disso, Claro explicou que o fato de ser sexta-feira piorou o quadro. ;São dois dias sem pregão pela frente e não há nada que se possa fazer. É esperar para ver. Se eu fosse investidor, talvez estivesse líquido;, opinou. ;Mas tem gestor falando que vai aproveitar a queda para fazer posição e comprar Petrobras barato;, ressaltou.

Bazuca

Para piorar, o petróleo caiu no mercado internacional. André Perfeito, economista-chefe da Spinelli Corretora, destacou que o momento impõe muita cautela. ;O dia foi difícil no mundo. O barril do Brent caiu 3,20% e o WTI, 4,43%. Isso afeta ainda mais a Petrobras, que já está tendo que lidar com a possibilidade de abandonar a política de preços alinhados ao mercado internacional;, avaliou. Perfeito disse que o fim de semana será ;emocionante;.

Segundo o economista, a crise chegou de uma forma mais forte porque o governo é altamente impopular. ;Por mais que a população esteja sofrendo, também vê o presidente Temer com maus olhos. O anúncio sobre usar as Forças Armadas foi um tiro de bazuca no pé. Se usarem violência com um caminhoneiro, acabou. Não é assim que funciona;, lamentou. Perfeito também sugeriu aos investidores ficarem líquidos e vendidos no Brasil.

Derretimento

Em nove dias, Petrobras perdeu R$ 106,5 bilhões em valor de mercado

Dia - Valor (em R$ bilhões)
16/5/18 - 388,8
17/5/18 - 370,2
18/5/18 - 368,0
21/5/18 - 357,2
22/5/18 - 349,9
23/5/18 - 332,4
24/5/18 - 285,1
25/5/18 - 282,3

Fonte: Economatica

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