Jornal Correio Braziliense

Economia

Governo ignorou sequência de reclamações do movimento dos caminhoneiros

Desde outubro de 2017 os caminhoneiros têm se queixado ao Planalto

Uma sequência de reclamações ignoradas pelo governo e um acordo costurado de última hora em meio a trapalhadas políticas pararam o Brasil. Desde outubro de 2017 os caminhoneiros têm se queixado ao Planalto, mas, sem dinheiro e com outras preocupações, o governo deixou o tema de lado até que a paralisação começou. Quando a negociação foi iniciada, nesta semana, o governo ofereceu parte dos pedidos, mas o movimento já era maior que os líderes, e o acordo foi ignorado pelas estradas

Com os preços do combustível ajustados quase diariamente pela Petrobras, que segue a cotação do petróleo no mercado internacional (em alta constante), os mais de 1 milhão de autônomos começaram a sofrer achatamento da renda. O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, recebeu a primeira reclamação formal de duas entidades em 5 de outubro. Caminhoneiros dizem que foram ignorados.

Para piorar, a desvalorização do real potencializou o fenômeno. Assim, em 14 de maio, Padilha e o presidente Michel Temer receberam nova carta. Dessa vez, com ameaça: "Caso não tenhamos apoio deste governo federal, uma paralisação será inevitável". Sem resposta, caminhoneiros convocaram greve para a última segunda-feira.

O movimento começou forte e teve mais de 100 pontos de manifestação naquele dia. O governo reagiu e convocou uma reunião com as principais entidades um dia depois do início do movimento.

No Planalto, a avaliação é que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) falhou ao não prever o alcance da greve, que instalou caos no País. Sob condição de anonimato, fontes criticaram o fato de a agência não ter informado Temer de que o movimento, ao contrário dos anteriores, vinha com tanta força.

A agência não alertou sobre a previsão de desabastecimento. O governo avaliou que o diferencial, neste caso, e que também não foi detectado pela inteligência, foi o apoio dos empresários do setor aos caminhoneiros.

O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Sérgio Etchegoyen, refuta que a Abin tenha falhado.

Os mais de dez grupos de caminhoneiros chegaram sem um discurso único. Havia a reclamação comum do diesel, mas muitos traziam pautas distintas. Para o governo, essa pauta sem foco era um sinal de alerta do problema da pulverização dos trabalhadores.

Para tentar mostrar protagonismo, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), pré-candidato à Presidência, correu e aprovou na Câmara, na quarta-feira, um projeto para zerar a alíquota do PIS/Cofins sobre o diesel, com projeções erradas do custo aos cofres públicos. Maia contrariou Temer e irritou o presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE).

"Infelizmente, as palavras do presidente Temer estão tendo pouca credibilidade com a sociedade", disse Maia na sexta-feira sobre o não cumprimento do acordo.

Apesar da dificuldade financeira, o governo conseguiu costurar um pacote de medidas. Não houve dinheiro para reduzir o preço do diesel em até R$ 0,80, como pedido. O governo acenou com a redução de alguns impostos para reduzir o preço, mas muitas das medidas ainda precisam de aprovação do Congresso.

A Petrobras concedeu um desconto de 10% no diesel por 15 dias. O governo ampliou esse prazo por mais 15 dias, e criou uma câmara de compensação para subsidiar o preço até o fim do ano.

Mesmo com governo, Petrobras e Câmara cedendo aos pedidos dos caminhoneiros, eles mantiveram a paralisação e coagiram o Planalto em busca de uma redução ainda maior no preço do diesel.