Jornal Correio Braziliense

Economia

Retomada de estoques em supermercados do país deve demorar até 10 dias

Faltam produtos, principalmente, perecíveis. Morte de animais atrasará volta à normalidade



Apesar da leve retomada no abastecimento de produtos durante o fim de semana, os supermercados ainda registram falta de alguns itens. Segundo levantamento realizado pelo Correio, hortifrútis, como banana e mamão, são raramente encontrados nas gôndolas dos estabelecimentos. Derivados de frango, como ovos, peito e coxa e sobrecoxa também estão em falta nos mercados da capital. Ontem, a Ceasa-DF recebeu apenas 35% da quantidade que costuma no primeiro dia útil de cada semana. O desabastecimento afeta principalmente frutas, como laranja, banana, melancia, pera e maçã.

A situação vivida na capital se estende à maioria dos estados. Até a tarde de ontem, a Ceagesp, em São Paulo, havia comercialzado apenas 10% do volume normal. Na Ceasa, do Rio, dos 400 caminhões que chegam diariamente para o abastecimento, apenas 37 descarregaram. Os estabelecimentos que ainda possuem mercadoria estão utilizando os estoques para levar vantagem nos preços dos produtos. O tomate está custando cerca de R$ 7,49, no DF, na semana anterior o item podia ser achado por menos de R$ 4. Já a batata que era adquirida por R$ 2,49, ontem era vendida por até R$ 7,99.

Mesmo que a greve acabe, a retomada da normalidade será lenta. Pelos cálculos da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), encerrada a greve, demorará entre cinco a 10 dias para que os estoques sejam refeitos. De acordo com o representante do setor, muitos estabelecimentos estão próximos da metade de seus estoques. E os itens que mais têm sofrido com a falta de abastecimento são os hortifrutigranjeiros, proteínas, laticínios e derivados. A instituição afirmou que está orientando suas 27 associações estaduais que evitem a prática abusiva de preços.

As perdas em importantes setores, como a cadeia produtiva da pecuária de corte, poderão impedir que os produtos voltem com rapidez às prateleiras. Nos oito dias de greve, a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) calcula que o setor deixou de movimentar entre R$ 8 bilhões e R$ 10 bilhões.

Segundo a entidade, das 109 unidades de produção, 107 estão paradas e duas operam com 50% da capacidade. Há 3.750 caminhões parados nas estradas com produtos prestes a vencerem. No segmento de frangos e suínos, o prejuízo acumulado é de R$ 3 bilhões, diz a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Há risco de morte de 1 bilhão de aves e de 20 milhões de suínos. As perdas da cadeia do leite chegam a R$ 1 bilhão, segundo a Associação Brasileira de Laticínios. A cifra inclui 300 milhões de litros de leite descartados.

O descarte de ovos fecundados e de pintinhos de um dia virou rotina nas granjas, depois que a greve interrompeu o abastecimento de ração. O Grupo Alvorada, que fornece matrizes de aves de corte para 70 frigoríficos, eliminou 1 milhão de pintinhos desde o começo da greve e teve um prejuízo de R$ 4 milhões. Na Zanchetta Alimentos, cerca de 400 mil ovos fecundados foram descartados. O plantel está avaliado em R$ 50 milhões.

* Estagiária sob supervisão de Rozane Oliveira.