Economia

Governo admite que protestos em rodovias estão ganhando cunho político

A análise do governo encontra respaldo em declarações de líderes de entidades representantes dos caminhoneiros

Rodolfo Costa
postado em 29/05/2018 15:10
Greve dos caminhoneiros, em São Bernardo do Campo, São Paulo
A paralisação dos caminhoneiros não tem mais um viés meramente trabalhista. Pelo menos na visão do governo. Para o Palácio do Planalto, os protestos estão ganhando contorno político. O ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da República, Eliseu Padilha, reconhece que ainda profissionais da categoria entre os manifestantes. Mas avalia que há uma grande parcela de infiltrados que constrangem os transportadores, incentivando-os a permanecerem nos pontos de aglomeração.

[SAIBAMAIS]O governo avalia que as áreas urbanas são os principais focos de infiltrações nos protestos. O crescimento de participantes nesses pontos se deve, sobretudo, à participação de populares, pondera Padilha. "A predominância é de populares nesses perímetros urbanos. É claro que tem caminhoneiro ainda parado, mas há pontos de aglomeração em que os caminhoneiros estão esperando para voltar, mas são constrangidos a permanecerem na linha de movimento", ponderou.

A análise do governo encontra respaldo em declarações de líderes de entidades representantes dos caminhoneiros. Na segunda-feira (28/5), o presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), José da Fonseca Lopes, declarou que entre 70% e 80% dos caminhoneiros que participavam das manifestações nas rodovias haviam iniciado o processo de desmobilização. Ele avaliou que as manifestações não estão mais relacionadas às reivindicações da categoria, mas por pessoas que querem "derrubar o presidente Michel Temer".

Para Padilha, não resta dúvidas de que o governo foi sucedido nas negociações com a categoria. "A paralisação acabou e o que temos são manifestações que envolvem populares e outras pessoas que não são caminhoneiros, embora haja também alguns casos de caminhoneiros. Mas o cunho da manifestação já extravasa as questões e reivindicações dos caminhoneiros e ganha um contorno de manifestações políticas", ponderou.

O Planalto não descarta a possibilidade de movimentos sociais pedindo a saída de Temer e a liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estarem por trás dos protestos atuais. É o que avalia o ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência da República, Carlos Marun. E, para ele, são situações naturais da democracia. ;Pode existir um movimento ;Fora, Temer; e ;Volta, Lula;? Pode existir um por "Intervenção (militar) já"? A democracia cabe e protege até aqueles que se manifestem contra a democracia;, declarou.

A intenção do governo não é coibir as manifestações sociais, garante Marun. Mas ele deixou claro que o governo não vai tolerar que tais atos tranquem estradas e provoquem desabastecimento. ;Isso é crime. Existem forças oportunistas que estão fazendo, em muitos casos, os caminhoneiros de reféns. Já teve gente levantando a blusa e mostrando uma arma. Quem está agindo dentro da lei tem que ser protegido e respeitado. Mas quem age fora da lei tem que sofrer os rigores da lei;, advertiu.

O rigor está sendo tomado com quem obstrui comboios e caminhoneiros que desejam seguir viagem. Em rodovias no Maranhão, sete pessoas foram presas por esses bloqueios. Nenhuma delas era caminhoneiro, afirma Marun. "Os caminhoneiros estavam na boleia dos caminhões tentando ultrapassar o bloqueio. E foi necessário o uso da força, como bem coloca na medida absolutamente necessária, através de uma integração entre Forças Armadas e a Polícia Rodoviária Federal (PRF)", disse.

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