Letícia Cotta*
postado em 30/05/2018 06:00
A situação dos postos de combustíveis do Distrito Federal está longe da normalidade. O carregamento de álcool anidro, que compõe a gasolina, esperado para a manhã de ontem, não chegou e há grande risco de os postos ficarem sem combustível hoje. ;Não há nenhuma gota de álcool;, afirmou o empresário Daniel Costa, dono de posto e ex-presidente do Sindicato dos Combustíveis no DF (Sindicombustíveis-DF), em entrevista no programa CB.Poder, uma parceria entre o Correio Braziliense e a TV Brasília.
O álcool anidro é o principal componente utilizado na mistura da gasolina C, comercializada em postos. A Agência Nacional do Petróleo Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) flexibilizou a quantidade de álcool na mistura em todo país ; o que foi feito em Brasília, de acordo com Costa. ;Em vez de deixar os 27% de álcool anidro presentes na composição da gasolina, a ANP aprovou a redução para até 18%;, explicou.
A declaração de Costa é contestada pelo Governo do DF. Em nota, o GDF afirmou que, desde o início da operação montada para minimizar os impactos da paralisação dos caminhoneiros, entraram na capital 2 milhões de litros de álcool anidro. De acordo com o comunicado, ontem, duas distribuidoras contavam com 130 mil litros do produto nos reservatórios, o que garantiria a produção de 700 mil litros de gasolina tipo C, pronta para o consumo. Para hoje, segundo o governo, está prevista a chegada de 48 carretas de álcool anidro, com cerca de 30 mil litros cada uma, para garantir a produção de 8 milhões de litros de gasolina, ou uma semana de abastecimento dos postos do DF.
[SAIBAMAIS]
Na avaliação dele, os consumidores devem ter paciência, pois, mesmo que os estoques de álcool cheguem ao DF, levarão dias para que tudo seja normalizado. ;Serão necessários, pelo menos, mais quatro dias;, disse o empresário. Ele ressalta que não há perspectiva tão cedo de normalização dos preços dos combustíveis nas bombas.
Problemas
O Sindicato da Indústria de Fabricação de Etanol e Açúcar do Estado de Goiás (Sifaeg), que fornece álcool para o DF, esclareceu que está com dificuldades de produção. De acordo com a Sifaeg, inúmeras unidades estão paradas por falta de óleo diesel. ;Se a situação perdurar por mais dois dias, todas as 37 usinas do estado terão que interromper a produção;, informou.
No caso do etanol, as distribuidoras não conseguem acesso ao combustível: ;As distribuidoras não conseguem retirar o que já compraram de dentro das usinas. Sendo assim, a venda de etanol deve ser suspensa. (...) Trata-se de um problema grave porque algumas empresas poderão enfrentar, no fim do mês, dificuldades;, reconheceu o sindicato.
Professor e especialista em açúcar e álcool da Universidade de São Paulo (USP), Antônio Sampaio Batista diz que o maior problema não está na produção, e sim na distribuição do álcool. A falta de estoques de álcool anidro se deve à logística de compra dos estabelecimentos, de acordo com Batista. ;O cálculo é feito por meio da supervisão da demanda. É decidido o quanto deve ser vendido e se compra anidro para suprir essa venda;, explicou.
O professor acredita que, passada a crise, é possível que o estoque de álcool anidro seja ampliado, para evitar surpresas como o bloqueio das estradas que impediu a chegada dos caminhões-tanques. ;A falta de planejamento existiu, mas não se considerava provável, até então, o que ocorreu no país. Acho que, agora, essas estratégias devem ser revistas;, supõe.