Economia

"A educação no Brasil está amadurecendo," diz diretor-geral da Maple Bear

Diretor-geral para a América Latina da rede global de ensino bilíngue Maple Bear, executivo fala dos desafios do setor e dos projetos da Maple Bear para o mercado brasileiro

Jaqueline Mendes
postado em 07/06/2018 06:00
São Paulo ; O executivo paulista Arno Krug passou parte da vida estudando negócios e economia, inclusive na conceituada Harvard Business School, nos Estados Unidos. Dedicado a se especializar na área da educação, Krug comanda agora a operação do grupo de ensino canadense Maple Bear na América Latina. À frente da rede de escolas bilíngues, Krug vem implementando um vigoroso processo de expansão. Quando chegou ao Brasil, há uma década, a Maple Bear tinha apenas nove alunos. Atualmente são mais de 15 mil estudantes matriculados em 98 escolas em todas as regiões brasileiras, além de outras 35 em processo de implantação. Nesta entrevista, Krug analisa o mercado brasileiro de educação, fala sobre a metodologia de ensino defendida pelos canadenses e revela quais são as estratégias da organização para o país.

Diretor-geral para a América Latina da rede global de ensino bilíngue Maple Bear, executivo fala dos desafios do setor e dos projetos da Maple Bear para o mercado brasileiro

Qual é a sua avaliação sobre o nível da educação pública e privada no Brasil?
É notório que há, de maneira geral, uma grande distância qualitativa entre o ensino básico público e privado. Mas é preciso destacar que uma análise que se resume somente a isso é bastante superficial, já que no Brasil existe grande diversidade de abordagens educacionais. Por exemplo, muitas escolas, mesmo no setor privado, não foram ainda capazes de desenvolver modelos relevantes para o momento em que vivemos.

O crescimento da educação particular reflete o fracasso do sistema público de educação?

Existe a percepção de que o ensino privado possui um padrão de qualidade muito superior ao do ensino público, que se sustenta a partir de diversos indicadores. Vale ressaltar que no ensino público há escolas de excelência, e que essas escolas que são referências podem e devem servir como modelos para a evolução do sistema público de forma ampla.

O setor de educação está passando por um processo de consolidação. Isso é bom ou ruim para as empresas e, principalmente, para os estudantes?
A educação no Brasil está passando por um importante processo de amadurecimento, e isso é benéfico para todos, incluindo empresas, mantenedores, docentes e estudantes. Ainda que estejamos entre os maiores mercados educacionais do mundo, ficamos por muito tempo restritos a um modelo, fundamentado na transferência unilateral de informação. Ou seja, o professor, como detentor do conhecimento, buscava transmiti-lo unilateralmente aos alunos.

Esse modelo não funciona mais?

Na velocidade e dinâmica da atual sociedade, isso não é mais suficiente. No ambiente de hoje, o raciocínio crítico é determinante. É preciso concentrar o foco no processo de construção do pensamento, que se dá por meio da argumentação estruturada, da capacidade de conectar dados de diferentes fontes, construindo, e não consumindo, conhecimento. Nesse contexto, os professores devem motivar, inspirar e prover plataformas para que os alunos se tornem protagonistas.

Como o baixo conhecimento do inglês tem prejudicado as empresas, os funcionários e, em última instância, a própria economia?
A comunicação é um fator primordial no ambiente de negócios. O inglês hoje é uma necessidade básica no ambiente empresarial, seja para negociação com matrizes de empresas multinacionais seja em operações que envolvam países não falantes do português. Ao não dominar o inglês, os profissionais perdem oportunidades de negócios e de crescimento. Ao não gerar estes potenciais negócios, os resultados da economia também são afetados.

O Brasil é mundialmente conhecido pelo baixo conhecimento da língua inglesa. Isso tornar o país mais atraente para a sua empresa?
O aprendizado do inglês é certamente um dos principais motivos pelos quais as famílias procuram a Maple Bear. Somente o domínio da segunda língua não explica a trajetória da rede. Muitas famílias escolhem a Maple Bear pela tradição do bilinguismo canadense e por terem conhecimento de que o Canadá, país que possui dois idiomas oficiais, contabiliza mais de cinco décadas de dedicação ao desenvolvimento e aprimoramento de técnicas de ensino bilíngue.

Como estão as operações da Maple Bear no Brasil e América Latina?
S
omos hoje a maior rede de ensino bilíngue atuante no país, com 98 escolas em operação em todas as regiões brasileiras, além de outras 35 em processo de implantação. Queremos levar ensino de excelência fundamentado num dos melhores modelos educacionais do mundo, como o canadense, a cada vez mais crianças e adolescentes em toda a América Latina. Para isso, estamos focando mercados de grande potencial, como Peru, Chile, Colômbia e Argentina, onde o modelo Maple Bear, a exemplo do Brasil, será extremamente relevante.

Por que o modelo canadense de ensino se tornou referência no mundo?
Em primeiro lugar, pela eficiência. O ensino canadense é consistentemente classificado pelo Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) entre os melhores do mundo em disciplinas como ciências e matemática. Esse desempenho é decorrente de uma abordagem que motiva e desafia os alunos na medida certa, promovendo a autonomia e um verdadeiro desejo e prazer por aprender e descobrir. Em segundo lugar, pela inclusão. Mais que somente pontuar e classificar países pela qualidade de seu ensino, o Pisa avalia acessibilidade e a igualdade do ensino oferecido em todo o país. São evidenciadas, por exemplo, diferenças entre escolas públicas e privadas, entre meninos e meninas e entre diferentes etnias. E esse é o aspecto em que o Canadá mais se diferencia.

O fato de o Canadá ser um país multicultural exerceu alguma influência no ensino do país?
Sim, esse é o terceiro aspecto que tornou o modelo do Canadá uma referência no mundo. O ensino canadense é multicultural, característica que permeia o país todo. Ao desenvolver nos alunos a capacidade de aceitar diferenças, de trabalhar de forma colaborativa e de perceber positivamente a diversidade de culturas, o país forma cidadãos, estudantes e profissionais muito mais adaptáveis e preparados para serem bem-sucedidos no ambiente global.

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