Agência Estado
postado em 07/06/2018 18:28
Em novo dia de nervosismo no mercado de câmbio, o Banco Central injetou mais US$ 3,2 bilhões para segurar a disparada do dólar, mas não teve sucesso. A moeda norte-americana engatou a terceira alta consecutiva e subiu mais 2%, fechando em R$ 3,9146, o maior valor desde 1; de março de 2016, quando bateu em R$ 3,94. O real foi a moeda que mais caiu ante o dólar entre os emergentes hoje. Especialistas não veem um fato novo que justifique tamanha especulação contra o real, mas destacam que os investidores seguem nervosos com a falta de previsibilidade para as eleições, faltando menos de quatro meses para a votação na urnas. Só em 2018, o dólar já subiu 18%.
[SAIBAMAIS]O mercado começou nervoso desde os primeiros negócios desta quinta-feira, 7/6, o que levou o BC a anunciar logo pela manhã um leilão extraordinário de contratos de swap, de US$ 2 bilhões, além de fazer os dois leilões regularmente previstos. Os papéis do leilão adicional foram integralmente vendidos e a moeda norte-americana chegou até a perder um pouco de fôlego após a operação, mas a alta voltou a ganhar força em seguida e o dólar encostou em R$ 3,97 no meio da tarde.
O economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, ressalta que os investidores, que antes estavam comprando bolsa e vendendo dólar, resolveram mudar estas posições radicalmente nos últimos dias, diante de um cenário eleitoral muito incerto e um quadro de deterioração fiscal sem solução à vista. Para resolver o problema fiscal, é preciso que ganhe um presidente comprometido com reformas estruturais, mas isso não está sendo sinalizado pelas recentes pesquisas. "Temos uma baita problema fiscal", disse ele, ressaltando que esse governo não consegue mais nenhum avanço na área, passando o bastão para o próximo presidente, que ainda não se tem clareza de quem será, o que alimenta o nervosismo dos investidores.
Ainda sobre as eleições, a economista-chefe da ARX Investimentos, Solange Srour, ressalta que o quadro é tão nebuloso que não se sabe com relativo grau de certeza nem quem vai para o segundo turno. Ao mesmo tempo, os candidatos de centro não estão decolando. Para piorar, ressalta ela, a greve dos caminhoneiros levou o governo de Michel Temer a tomar medidas populistas que alimentam a expectativa de que um nome com esse perfil pode ter mais chances de vencer em outubro.
Para a economista da ARX, dada a falta de clareza com as eleições, mesmo que o BC aumente o ritmo de intervenções no câmbio, a dinâmica de piora do real não muda. Pode reverter a alta do dólar um ou outro dia, mas a moeda norte-americana deve seguir fortalecida no Brasil. Um alívio nas cotações da moeda dos EUA poderia vir caso um nome mais pró-mercado consiga ir para o segundo turno e se mostrar viável.