Antonio Temóteo, Hamilton Ferrari
postado em 08/06/2018 06:00
Após críticas e pressões do mercado sobre como atuará para conter a volatilidade cambial, o presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, anunciou ontem que ofertará US$ 20 bilhões em swaps até o fim da próxima semana. Ele não descartou atuações adicionais nos próximos dias e deixou claro que os estoques de contratos que correspondem à venda futura da divisa podem ultrapassar a máxima histórica de US$ 110 bilhões, atingida durante a gestão de Alexandre Tombini. As medidas anunciadas ocorreram após a moeda estrangeira disparar no pregão de ontem e fechar o dia em alta de 2,19%, vendida a R$ 3,922.
Nas casas de câmbio, a divisa norte-americana é vendida a R$ 4,20 para os turistas que se preparam para viajar durante as férias escolares de junho e julho. Para piorar, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) desabou 2,98%, aos 73.851 pontos. A volatilidade, explicam analistas, começou com a expectativa de alta dos juros nos Estados Unidos, agravou-se com a decisão do Banco Central (BC) de manter os juros em 6,5% na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) e cresceu com a greve dos caminhoneiros.
Além disso, ressaltam os economistas, a crise tomou contornos preocupantes com a falta de clareza sobre quem será o próximo presidente da República. Até o momento, candidatos polêmicos da direita e da esquerda lideram as pesquisas de intenção de votos. Diante da perda de valor dos ativos no Brasil, o BC e o Tesouro Nacional realizaram ontem operações de venda de títulos públicos com compromisso de recompra para um prazo de nove meses. Com isso, o governo colocou R$ 10 bilhões em papéis para tentar conter a volatilidade nos juros cobrados pelos investidores.
Na outra ponta, a autoridade monetária ofertou ao mercado US$ 3,2 bilhões em contratos swap cambial. A medida, entretanto, foi insuficiente para conter a escalada da divisa estrangeira. Para se ter uma ideia, o real foi a segunda moeda que mais se desvalorizou entre os países emergentes, perdendo apenas para rand sul-africano.
Demanda
O presidente da autoridade monetária deixou claro que, se houver demanda, fará leilões de linha ou usará os US$ 380 bilhões de reservas internacionais. Para ele, o cenário atual decorre de uma piora do ambiente internacional. ;Houve uma mudança significativa do cenário externo em relação ao apetite dos investidores às várias economias emergentes. Nós aqui vínhamos falando que o cenário internacional era benigno, mas era um interregno e poderia mudar;, destacou.
Ilan ainda colocou fim em rumores de que deixaria o comando do BC, afirmou que o Brasil não sofre ataques especulativos e detalhou que usará todos os instrumentos existentes para conter a volatilidade do dólar. Outro boato rechaçado por ele foi o da possibilidade de convocação de reuniões extraordinárias do Comitê de Política Monetária (Copom) para revisar o percentual da taxa básica de juros (Selic), atualmente, em 6,5% ao ano. Para o presidente do BC, os encontros que ocorrem a cada 45 dias são a melhor oportunidade para avaliar se houve ou não mudança no balanço de riscos.
Mais cedo, o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, tentou acalmar os mercados ao afirmar que o Tesouro Nacional e o BC atuariam de maneira coordenada para conter a alta do dólar. Segundo ele, o movimento de escalada da divisa estrangeira é global, mas admitiu que, no caso brasileiro, a expectativa das eleições geram ainda mais incertezas. ;Existe atenção maior no caso brasileiro dado o cenário de eleições, isso agrega maior volatilidade aos mercados;, afirmou.
Clareza
A falta de clareza sobre como seria a atuação do BC no mercado cambial era uma das principais justificativas para o nível de volatilidade, explicou o gestor Guilherme Macedo, sócio da Vokin Investimentos. ;Hoje ninguém sabe se o BC vai usar reservas para conter o dólar, se vai subir juros. É um mercado de especulação, que está testando a autoridade monetária;, disse.
Para ele, a volatilidade é prejudicial para o mercado, mas não está associada à piora dos fundamentos econômicos no país. ;Nada mudou. Os prejuízos com os subsídios do óleo diesel nas contas públicas, o Produto Interno Bruto (PIB) mais fraco, o cenário eleitoral confuso, todas essas questões já estão precificadas pelo mercado;, disse. ;O que ocorre agora é que, passada a greve dos caminhoneiros, o mundo vê um cenário mais perigoso para o Brasil e a paralisação fez uma crise que deflagrou essa desconfiança;, ressaltou.
A crise atual, explica Thiago Figueiredo, gestor da GGR Investimentos, passa por uma preocupação maior do mercado com as pressões inflacionárias diante da greve e da alta do dólar. Segundo ele, esse motivo levou à expansão dos juros futuros. ;Nós temos um número muito grande de estrangeiros saindo da bolsa. Parece, agora, que o mercado prefere precificar o pior cenário. Os papéis da IBovespa estão com quedas grandes;, ressaltou. ;Isso gera apreensão para as pessoas físicas que estão desesperadas;, contou. Os juros futuros com vencimento em janeiro de 2019 subiram 0,43 ponto percentual, cotados a 7,58%. Os contratos para janeiro de 2021 subiram 0,32 ponto percentual e alcançaram 9,77%.
Na avaliação do economista-chefe da Opus Investimentos, José Márcio Camargo, a crise é uma combinação de fatores negativos que começou com a decisão do Copom de manter os juros em 6,5% ao ano quando havia sinalizado um corte de 0,25 ponto percentual. Após esse equívoco, ele ressaltou que a greve dos caminheiros mostrou a fragilidade do governo. ;Abriu-se uma Caixa de Pandora que precisa ser fechada. O BC trouxe o debate cambial para a mesa na última ata do Copom e, agora, precisa fazer alguma coisa;, alertou.