Economia

Especialistas dão dicas para usar bem a restituição do Imposto de Renda

Recomendação é que contribuintes priorizem o pagamento de dívidas para, só depois, pensarem em realização de sonhos de consumo ou investimentos

Anna Russi* , Bruno Santa Rita*
postado em 10/06/2018 08:00

Ilustração de leão abraçando homem

O primeiro lote de restituição do Imposto de Renda de Pessoas Físicas (IRPF) de 2018 foi o maior em 10 anos, tanto em valor quanto em número de contribuintes, de acordo com a Receita Federal. Na próxima sexta-feira, 15, estarão depositados um total de R$ 4,8 bilhões na conta de 2,4 milhões de pessoas com direito à devolução.

Jônatas Bueno, educador e terapeuta financeiro, aconselha que haja um planejamento prévio sobre o destino do dinheiro extra, já que, assim como o terço de férias e o 13; salário, são recursos que todo ano caem na conta. ;É interessante definir o que será feito com cada extra, incluir nos planos da família e no orçamento do ano. Dessa forma, é possível definir viagens, quitação de dívidas, investir na aposentadoria;, afirma.

Ele alerta que, em geral, é fácil gastar com novas aquisições, inclusive fazendo dívidas. ;Às vezes, a pessoa acha que é uma boa ideia comprar um bem a prazo e usa o valor da restituição como entrada, mas se endivida para pagar o resto;, esclarece. Para Bueno, o contribuinte deve considerar o valor como um potencializador de sonhos de curto, médio e longo prazos. ;Encarando dessa forma, fica mais fácil decidir o que quer fazer, a partir de objetivos traçados e em vez de destinar o dinheiro ao que aparecer;, indica.

Se não for para realizar um desejo, sempre há a oportunidade de acertar a vida financeira. Mas, segundo o especialista, até para quitar ou amortizar dívidas é preciso planejar. ;Isso tem de ser feito de forma organizada. Com um diagnóstico de quais são os débitos urgentes;, afirma. A orientação é que a pessoa quite primeiro as dívidas de maior valor e de risco. Escolha sempre as com juros mais altos. ;As equilibradas, com juros baixos, não são prioridades;, completa.

Sandra Batista, perita contábil e tributária, atual vice-presidente de Fiscalização, Ética e Disciplina do Conselho Federal de Contabilidade, defende que a definição de como usar o valor recebido é do contribuinte. ;Para aqueles que têm dívidas, a melhor alternativa é usar a restituição para quitação da dívida, negociando com o credor um desconto. Já os que estão em dia com as contas, a sugestão é investir o dinheiro. O ideal é escolher uma aplicação que tenha boa taxa de rentabilidade para garantir retorno no prazo estipulado para o uso do dinheiro;, indica.

Aos que desejam investir a restituição, Bueno adverte que é preciso ter uma reserva estratégica de três meses de cobertura do orçamento mensal em caso de um evento inesperado, como o desemprego. Se essa pessoa não tiver, ele aconselha que canalize o extra para a reserva e só invista o que sobrar.

Adriano Severo, educador financeiro, indica que, caso não tenha dívidas para quitar, a pessoa invista pelo menos metade do valor recebido. ;O contribuinte pode até gastar com outras coisas tranquilamente, mas investimento é sempre bom, de preferência em Certificado de Depósito Bancário (CDB) ou em títulos públicos. Poupança eu nunca indico, porque não rende;, orienta. Na opinião dele, a restituição deve ser considerada um extra no orçamento, uma margem que permite planos futuros, como aposentadoria e outros investimentos.

Sandra aconselha ao contribuinte que não foi contemplado no primeiro lote da restituição e precise do dinheiro agora, que analise as taxas oferecidas pelos bancos para a antecipação do IR. ;Negociar é a palavra de ordem. Se o dinheiro for necessário por causa de uma emergência financeira, é importante avaliar o que levou a isso para definir a melhor solução. Outra dica é instituir um fundo familiar para cobertura de gastos emergenciais não previstos, algo em torno de 5% a 10%;, aponta.

Ilustração de leão entregando moeda para homem e tabela com dicas para usar bem o dinheiro da restituição do imposto de renda

Malha fina

Em 2017, terminando o processamento das Declarações do IRPF 2017, 747 mil declarações ficaram retidas na malha fina, devido a inconsistências nas informações prestadas à Receita. O número correspondia a 2,46% do total de mais de 30 milhões de declarações. Do conjunto retido, 71,61% apresentavam imposto a restituir.

O educador financeiro Jônatas Bueno explica que a malha fiscal, apelidada de malha fina, retém a declaração para identificar alguma inconsistência entre os dados que a pessoa forneceu e a base de dados que a Receita possui. ;A Receita tem sistemas mais inteligentes que conseguem cruzar informações com os de cupons e notas fiscais, ou base de outro órgãos. Quando ocorre a inconsistência, a pessoa tem um prazo para o esclarecimento;, comenta. Muitas vezes, só precisa corrigir um erro ou comprovar um recibo.

Na visão dele, normalmente, quem tem medo de cair na malha fina são pessoas que escondem informações. ;Para quem faz tudo certinho, não tem problema, é só explicar e justificar o que precisa e está tudo certo;, afirma. As pessoas que caem na malha costumam ficar para os últimos lotes da restituição e podem achar ruim por estarem contando com aquele dinheiro.

A administradora de empresas Vanessa Figueiredo, 42 anos, teve alguns problemas com a restituição. Não conseguiu fazer a antecipação em um banco. ;Não tem nada de errado no meu nome e, mesmo assim, negaram;, reclama. Com o dinheiro extra, ela pretende fazer uma viagem. ;Eu vou tirar férias. Devo viajar com meu marido e com meu filho, já que não tenho dívidas para pagar. Estou querendo ir em uma praia, no Nordeste ou em Búzios (RJ);, diz.

Bueno sugere que as pessoas não façam planos de gastos imediatos com o dinheiro da restituição. ;Esses recursos podem fazer parte dos planos, mas não deve ser a principal base para atingir seus objetivos. A pessoa vai receber, mas pode ser que demore mais;, esclarece. Segundo ele, é importante ter um plano B e não fazer compromissos com data certa para aquele dinheiro.

Para saber se a declaração está na malha fina, a indicação da Receita é que os contribuintes acessem o Extrato de Processamento da Declaração de Imposto de Renda no sítio da Receita Federal na internet. ;É importante prestar atenção na seção Pendências. É aí que o contribuinte pode identificar se a declaração está retida em malha fiscal, ou se há alguma outra pendência que possa ser regularizada por ele mesmo;, informa o site do Fisco.

Caso a Declaração retida esteja correta e o contribuinte tenha toda a documentação que comprove as informações declaradas, as opções são antecipar a entrega da documentação que comprove as informações com pendências; ou aguardar uma Intimação Fiscal ou uma autuação da Receita Federal para só então apresentar a documentação.

;É interessante definir o que será feito com cada extra, incluir nos planos da família e orçamento do ano. Dessa forma, é possível definir viagens, quitação de dívidas, investir na aposentadoria;
Jônatas Bueno, educador financeiro

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