Rosana Hessel
postado em 11/06/2018 11:08
Em um momento em que o mercado financeiro anda oscilando bastante, com a bolsa registrando quedas seguidas devido às incertezas no cenário eleitoral e da rejeição recorde do governo Temer, o ministro do Planejamento, Esteves Colnago, defendeu que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) assuma mais riscos como forma de alavancar o mercado de capitais, e, consequentemente, investimentos em infraestrutura, uma vez que o cenário econômico atual tem juros e inflação baixos como nunca antes e o governo não tem capacidade mais para investir.
;Temos uma realidade dificilmente encontrada e, se continuarmos com isso, teremos uma grande revolução no mercado de crédito e de capitais;, disse Colnago durante a abertura do seminário ;Mercado de Capitais Brasileiro;, organizado pelo Tribunal de Contas da União em parceria com o BNDES, realizado nesta segunda-feira (11/06) na sede do Tribunal. ;Não sabemos qual o potencial do nosso mercado de capitais e o BNDES tem um papel para essa nova realidade. E vai ter que assumir mais risco e devera ser um promotor e catalizador do mercado de capitais;, frisou o ministro, destacando mecanismos como debêntures e fundos de investimentos em infraestrutura como exemplos para essa alavancagem.
De acordo com o Colnago o mercado de captais vem dando sinais de recuperação após a recessão, porque movimentou R$ 210 bilhões em 2017, o equivalente a 3,2% do Produto Interno Bruto (PIB), taxa próxima à de 3,37% registrada em 2012. ;Voltamos à captação de 2012 em um ano em que a nossa economia voltou a se recuperar;, avaliou ele, citando dados de captação das debêntures de infraestrutura, sendo de R$ 9 bilhões em 2017 e de R$ 6 bilhões entre janeiro e abril deste ano. ;Dos R$ 35 bilhões captados entre 2012 e 2018 em debêntures de infraestrutura, 40% desse montante ocorreram nos últimos 16 meses. Portanto, o mercado de capitais é um grande aliado para o nosso crescimento;, disse ele, acrescentando que o avanço das reformas para melhorar as contas públicas é fundamental para que esse mercado continue se desenvolvendo.
O presidente do BNDES, Dyogo Oliveira, destacou que a ampliação da atuação da instituição no mercado de capitais, além de atender uma das missões do banco, é uma forma de alavancar os investimentos em infraestrutura no país. ;Vivemos um período de restrição fiscal nunca antes visto. Com a falta de reformas e de adoção de medidas para controlar os gastos públicos, sofreremos situação de deficit (fiscal) que inviabiliza os investimentos do governo em infraestrutura;, afirmou ele, destacando que, nesse sentido, o desenvolvimento do mercado de capitais é uma necessidade para o desenvolvimento do país.
Oliveira ainda destacou que o BNDES pretende continuar vendendo a participação em ;empresas maduras; e incentivando a criação de startups, apesar de a taxa de mortalidade média das empresas no mundo ser de 50% até o quinto ano de existência. ;O papel do BNDES é fazer com que empresas se desenvolvam e façam benefício positivo para o país. É importante que haja uma compreensão de que se trata de um negócio de risco. Uma empresa que dá certo justifica todo o investimento e o esforço nas demais;, explicou.
O diretor-presidente da Roland Berger, Antônio Bernardo, destacou que o Brasil é um país interessante para investir e os investimentos em infraestrutura é uma das alavancas para o desenvolvimento de qualquer economia. No caso do Brasil, ele reforçou que o não se investe nem o necessário para a manutenção da estrutura existente tanto que o estoque atual de investimento nessa área é de apenas 35% a 36% do Produto Interno Bruto (PIB), quando o ideal seria algo em torno de 60%.
;Identificamos que há uma necessidade muito grande de investimento em infraestrutura no Brasil de 5% do PIB ao ano, o que daria R$ 300 bilhões. Nos últimos 15 anos, o volume foi de R$ 120 bilhões a R$ 130 bilhões;, explicou. ;Há muito investimento muito importante em infraestrutura para se fazer no Brasil e o mercado de capitais deve ser uma resposta para isso;, completou. Para ele, o mercado de capitais brasileiro poderá ser um polo agregador de investimentos para a América Latina.