Rosana Hessel
postado em 12/06/2018 09:59
O mercado de crédito brasileiro está cada vez mais concentrado. É o que mostra o Relatório de Economia Bancária (REB), divulgado nesta terça-feira (12/06) pelo Banco Central. A última edição desse estudo tinha sido publicada em 2015, mas não tinha um comparativo do mercado em geral. Tratava-se do Relatório de Economia Bancária e Crédito (REBC), de periodicidade anual, mostrando apenas aspectos relacionados ao crédito bancário, como volume, taxas de juros e decomposição do spread bancário (diferença entre as taxas captadas pelos bancos e as ofertadas para o mercado).
[SAIBAMAIS]O mapeamento de 138 páginas feito pela autoridade monetária indica dois bancos públicos dominam esse mercado de crédito pessoal, com 39,8% de participação. Já os três maiores bancos privados do país detêm 36,3%, totalizando 76,1% do bolo. O Banco do Brasil ficou na liderança desse setor nesses três anos, com 22,7%, mas com uma fatia menor do que a registrada em 2015, de 24,2%. Em segundo lugar, a Caixa Econômica Federal, também passou de 18,2% para 17,1% no mesmo período. O terceiro lugar no ranking ficou com o Itaú Unibanco, que reduziu sua fatia de 15,7%, em 2015, para 14%, em 2017, mesmo percentual do Banco Bradesco, que detinha 12,3% em 2015. O Banco Santander, na quinta colocação, ficou com 8,26% em 2017, percentual bem acima dos 5,5% de 2015.
Já no crédito direcionado, a concentração é maior ainda. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é dono de 73,7% da oferta, percentual levemente menor do que a taxa de 76,9% de 2015. O restante do mercado de 2017 dividido entre Banco do Brasil, com 7%, Caixa, com 5,3%, Itaú, 2,9% e Bradesco, com 2,7%.
Em um comparativo com outros países o relatório do BC mostra ainda que o índice médio de concentração bancária dos cinco maiores bancos do país chegou a 82%, em 2016. Esse percentual é bastante acima dos 60% registrados em 2006. Nos Estados Unidos, esse percentual é bem mais baixo, de 43%. Entre os emergentes, o Brasil também se destaca com maior concentração. No México, por exemplo, essa taxa é de 70%. China, Índia e Coreia do Sul, têm um índice de concentração bancária é de 37, 36% e 62%, respectivamente.
O estudo do BC também mostra o crescimento de 5,3% no crédito para a pessoa física em 2017, totalizando R$ 1,6 trilhão. No entanto, o ritmo do avanço foi menor do que a alta de 7,1% registrada em 2015.
Spread elevado
A metodologia de cálculo do spread mudou em relação ao relatório anterior, dificultando a comparação da evolução dessa margem de custo do mercado financeiro que deixa as taxas de juros no Brasil sem qualquer comparativo com as praticadas no exterior, pois, em vários casos, superam 300% ao ano.
Conforme dados do relatório do BC deste ano, o Indicador de Custo do Crédito (ICC) tem como principal componente do custo do crédito o custo de captação, em média, de 39,2% ao longo dos três anos, seguido da inadimplência, de 22,7%. Na sequência, despesas administrativas (15,2%), tributos e Fundo Garantidor de Crédito (FGC), de 13,8%, e, finalmente, margem financeira do ICC (9,0%).
Mas se olharmos apenas a evolução anual do spread médio, apesar de a taxa de juros básica (Selic) ter diminuído drasticamente em quase dois anos, a percepção é que ele continua crescendo. Em dezembro de 2014, o spread bancário das operações de crédito do sistema financeiro alcançou 14,9 ponto percentual, registrando alta de 1,1 ponto na comparação com o ano anterior, segundo o último relatório do BC. Já o relatório deste ano indica que, em dezembro de 2016, atingiu o pico de 22 ponto percentual e, no ano passado, ficou em torno de 20 ponto percentual.
Inadimplência em queda
Conforme o estudo do BC, a inadimplência, um dos principais componentes dos custos bancários, recuou em 2017 na média geral. O percentual de operações com atrasos superiores a 90 dias caiu 0,5 ponto percentual no ano passado, chegando a 3,2% ao final de 2017. O custo médio das operações de crédito, medido pelo ICC, recuou 1,3 ponto em doze meses, chegando a 21,3% ao ano em dezembro de 2017.