Economia

Economista: Quase nada mudou desde que os brasileiros foram às ruas em 2013

A greve dos caminhoneiros que parou o País reforça, segundo ele, que o desejo por mudanças se mantém

Agência Estado
postado em 15/06/2018 08:01
Manifestantes de braços levantados protestam em frente ao Congresso Nacional
Cinco anos depois de os brasileiros terem saído às ruas clamando por mudanças quase nada mudou, na avaliação do economista Roberto Luis Troster. A greve dos caminhoneiros que parou o País reforça, segundo ele, que o desejo por mudanças se mantém.

Os manifestantes que saíram às ruas para mudar o País em 2013 inspiraram Troster a escrever o livro intitulado O bê-á-bá da política econômica no Brasil em 2018. Lançado em abril, o livro é uma espécie de manual para os eleitores votarem com mais conhecimento das questões econômicas. "O livro expira o dia 28 de outubro (dia da votação do 2.; turno) porque é para as pessoas votarem bem", diz Troster, doutor em Economia pela USP e, por mais de uma década, economista-chefe de entidades que representam os bancos.

A chave para as mudanças, na sua avaliação, está na política. "Hoje o start está na política e depois a economia vai se sobrepondo." Redução da pobreza e do desemprego e a promoção do crescimento sustentado são as principais demandas que devem ser cobradas dos candidatos nas eleições. A seguir, trechos da entrevista.

Por que o sr. escreveu o livro?


Pensei nos manifestantes que saíram às ruas para mudar o Brasil em 2013. As manifestações de rua são importantes na política, mas nem sempre trazem os resultados desejados. Eu fiz 18 anos em 1968. A gente protestou muito, mas fracassou. Só energia cívica não basta. Eleições são uma oportunidade para provocar mudanças. Um entendimento melhor do que pode ser feito é necessário para melhorar.

Qual é o paralelo que o sr. traça entre as manifestações de 2013 e a greve dos caminhoneiros, ambas pararam o País?


O paralelo entre as duas é a demanda por mudanças. Acho que manifestação é bom, frustração é bom, dentro de certos limites. Cinco anos se passaram entre as duas manifestações e não se mudou quase nada. A gente muda mais devagar do que o resto do mundo.

O primeiro passo para as mudanças está na política?


Hoje o start está na política e depois a economia vai se sobrepondo à política.

O livro é um manual?


Sim. Ele expira em 28 de outubro porque é para as pessoas escolherem certo o presidente, deputados, senadores.

Quais são os objetivos?


Primeiro é votar bem. Segundo é que o Brasil pode ser muito melhor do que todo mundo está achando. O potencial é muito grande. Há 30 anos o PIB brasileiro era maior do que o chinês. Hoje o PIB chinês é sete vezes o brasileiro. A diferença entre os dois países é a política econômica. A China tem objetivos, metas.

O que o sr. recomendaria em termos de política econômica para quem ganhar a eleição?


São muitas frentes juntas. Ele tem de saber o que vai fazer com a política fiscal, monetária e cambial. Tem de ter prioridades. No crédito, por exemplo, acabar com os compulsórios, parar de tributar o crédito e tributar mais os ativos. Quem trabalha paga mais imposto do que quem vive de juros. Ele tem de conduzir essas três políticas e depois crescer.

O sr. acha factível voltar a crescer rapidamente?


Acho. O choque que se pode dar é no crédito.

O sr. acha que o sistema financeiro emperra a retomada rápida da economia?


Sim. O sistema de crédito é de 30 anos atrás. Acho que o sistema financeiro lucraria mais, o País cresceria mais se tivesse cunha fiscal menor, menos compulsórios. Há ainda a questão de prazos de liquidez. Também temos de ter um sistema financeiro inclusivo

No livro, o sr. fala que às vezes a mudança é para pior. O sr acha que houve uma piora com a mudança de governo?


Sim. O déficit público aumentou, apesar do discurso, e as expectativas de crescimento caíram. Não avançamos na medida do possível, não. Tem de pensar quais são as prioridades. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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