Mariana Barbosa
postado em 22/06/2018 06:00
São Paulo ; A Supreme, cultuada grife de skatistas de Nova York, não tem nada a ver com tecnologia, mas já se tornou um unicórnio, como são chamadas as startups com valor de mercado superior a US$ 1 bilhão. Detalhe surpreendente: a empresa chegou a essa marca com apenas 11 lojas no portfólio.
Para se ter ideia da magnitude do fenômeno, a Abercrombie & Fitch, que também começou como uma marca cult entre jovens e adolescentes antes de entrar em decadência, hoje tem 900 lojas e vale US$ 1,8 bilhão.
A Supreme foi fundada em 1994 por James Jebbia, um americano descolado que cresceu na Inglaterra e nunca andou de skate. Sua experiência vem do trabalho em lojas especializadas nesse tipo de produto, conhecimento esse que ele acabou usando para fundar sua própria marca. Atualmente, a Supreme é venerada pela geração ;hype beast;, formada por crianças e jovens que colecionam roupas e acessórios exclusivos para impressionar os amigos.
Para ganhar seguidores, a Supreme usou a mesma fórmula de toda marca millennial: sem fazer anúncios tradicionais nem participar de desfiles, apenas investindo no boca a boca das redes sociais ; e apelando a adolescentes e adultos nostálgicos de uma juventude skatista.
Pranchas assinadas por artistas plásticos renomados, como Jeff Koons e Damien Hirst, parcerias com grandes estilistas e uma produção limitadíssima ajudaram a construir a aura ;cool; da marca, transformando streetwear em artigo de luxo.
Os fãs enlouquecem sempre que estreia uma coleção nova: filas gigantescas se formam nas portas das lojas e, às vezes, é preciso esperar horas para chegar a vez de comprar. Alguns artigos desaparecem em segundos, como a mala vermelha usada por Neymar ao embarcar para a Rússia (R$ 18 mil), uma parceria com a grife Rimowa, do grupo LVMH. A escassez tem produzido um mercado secundário altamente lucrativo, onde os produtos da Supreme chegam a alcançar 10 vezes o preço original.
Marcas como Nike, Vans, North Face e a grife japonesa Comme des Garçons já assinaram coleções exclusivas com a Supreme. Mas a parceria mais barulhenta foi com a LVMH: uma série de produtos estampados com o monograma da Louis Vuitton em branco sobre um fundo vermelho berrante, as cores características da Supreme.
O agora empresário bem-sucedido Jebbia sonhou com essa parceria há 18 anos, quando criou, à revelia da LVMH, pranchas de skate, camisetas e bonés com o famoso monograma. Resultado: tomou um processo do grupo francês. Duas décadas depois, foi a LVMH que pagou para usar a logo e as cores da Supreme.
Na coleção a quatro mãos, houve quem pagasse R$ 13 mil por uma jaqueta de couro, para depois revendê-la por R$ 60 mil na internet. No balanço da LVMH, a parceria foi apontada como um dos principais responsáveis pelo aumento das vendas.
A empresa não vende em multimarcas. A exceção é o Dover Street Market, em Nova York. Para comprar, é preciso ir até uma das 11 lojas: três nos Estados Unidos (Manhattan, Brooklyn e Los Angeles), duas na Europa (Paris e Londres) e seis no Japão. Também é possível comprar pela internet, mas uma navegada pelo site pode gerar frustração. Tirando um boné e uma camiseta básica, está quase tudo esgotado.
No final do ano passado, o Carlyle pagou US$ 500 milhões por quase a metade do negócio. Agora, o grande desafio será expandi-lo sem perder a aura de exclusividade. Numa rara entrevista ao Business of Fashion, em 2016, um ano e meio antes da entrada do Carlyle, Jebbia se dizia alérgico a investidores. ;Não precisamos de investidores e nunca faremos nada que venha comprometer aquilo que fazemos;, afirmou à época. E emendou, antes de ter que engolir as próprias palavras. ;Quero fazer algo que um garoto que venha fazer compras com os pais diga: mamãe, talvez você não devesse entrar comigo nesta loja.;