Economia

PIS/Pasep: especialistas indicam a melhor forma de usar o dinheiro

Quem teve carteira assinada ou trabalhou no serviço público entre 1971 e 1988 pode retirar o dinheiro, independentemente da idade. Aos endividados, especialistas aconselham quitar dívidas em atraso

Anna Russi
postado em 25/06/2018 06:00
Os recursos liberados e destinados aos trabalhadores da iniciativa privada poderão ser retirados nas agências da Caixa Econômica FederalCom o objetivo de movimentar o consumo e, consequentemente, estimular a economia, o governo decidiu flexibilizar ainda mais os saques dos programas de Integração Social (PIS) e de Formação do Patrimônio do Servidor Público (Pasep). A expectativa para esta fase é de que sejam liberados R$ 34,3 bilhões a 25 milhões de brasileiros de todas as idades, que trabalharam com carteira assinada entre 1971 e 1988, bem como servidores da ativa durante o mesmo período.

Para descobrir se é beneficiário e quanto tem a receber, basta que o cidadão consulte o Banco do Brasil, no caso do setor público, e, a Caixa Econômica Federal, do setor privado. Antes da lei sancionada, só podiam resgatar o recurso aposentados, homens e mulheres com 60 anos ou mais, pessoas com invalidez ou doença grave. Caso o cotista tenha falecido, o herdeiro tem o direito de reivindicar o pagamento.

Fábio Bentes, chefe da Divisão econômica da Confederação Nacional do Comércio (CNC), avalia que a medida pode ter impacto significativo na economia, mas que não mudará o rumo do consumo a curto prazo. ;Assim como o FGTS não mudou. É uma ordem de grandeza parecida e uma medida que se deu em um momento importante de dívidas das famílias brasileiras e, por isso, em vez de 80% ou 70% serem canalizadas para o consumo, a maioria foi para quitação de dívidas;, compara.

No entanto, ele não nega que a liberação do PIS-Pasep pode representar um respiro para o comércio. ;Será algo mais concentrado em um período curto. O comércio varejista projeta crescimento de 7,4% no acumulado do ano e isso é sustentável. Para manter isso, a lei sancionada tem de ser alinhada à inflação e juros baixos e retomada de empregos;, analisa. Na opinião de Bentes, o que faria com que o comércio conseguisse fechar o ano com um crescimento maior seria a melhora no mercado de trabalho.

Planejamento

Com o dinheiro extra na conta, especialistas alertam que é preciso planejar o uso do valor de acordo com a situação financeira de cada um. Reinaldo Domingos, presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin) e do canal Dinheiro à Vista, indica que há algumas opções de acordo com o perfil da pessoa: endividada, até mesmo inadimplente; sem dívida, mas sem intenção de guardar; e investidor. ;Saber o perfil é o primeiro passo para definir que caminho seguir;, explica.

Para ele, o consumidor investidor é o único que pode se dar ao luxo de uma extravagância. ;Ele já tem o dinheiro guardado, então ele pode utilizar o recurso extra para comprar sonhos, viagens, completar o valor que falta para algum objetivo ou acelerar os objetivos futuros. Esse é o caso fácil;, diz. Ele define a pessoa que não tem dívidas, mas não guarda dinheiro, como um consumidor equilibrado. ;Para ele, é uma grande oportunidade de guardar dinheiro, já que nunca fez isso. Pode ser um bom momento para se transformar em investidor, a aposentadoria é um bom começo;, sugere.

Ricardo Rocha, educador financeiro do Insper, lembra que, caso o dinheiro extra vá ser destinado ao consumo, é importante priorizar o que vai ser comprado. ;Tem que ser uma coisa que faça sentido, a família precise daquele item. É comum a pessoa receber um valor extra, comprar algo mais caro do que o dinheiro que entrou e parcelar o resto, isso representa um risco de adquirir novas dívidas. O extra não deve incentivar o consumo descontrolado;, ressalta.

Rocha não recomenda que o dinheiro seja utilizado para gastos no dia a dia. ;A não ser que seja um gasto com algo importante e que em algum outro momento já fosse ser comprado com outro dinheiro, acho interessante guardar o dinheiro, mas óbvio que vai da realidade de cada pessoa;, afirma.

Na visão de Domingos, a pessoa que está endividada e consegue honrar o pagamento não deve usar para antecipação de dívidas. ;Antecipar prestações é um erro. Você já contraiu uma prestação e isso está dentro do orçamento;, opina. Com cerca de 61 milhões de inadimplentes no Brasil, ele diz que o dinheiro pode servir para uma reserva estratégica. ;Não adianta pagar dívida vencida, você não combate a causa do problema. Uma renegociação da dívida inadimplente é interessante, mas de forma a preservar o recurso financeiro, para ser sustentável para você e não te deixar mais vulnerável;, aconselha.

A doméstica Maria Cleide Pereira Santos, 50 anos, trabalhou com carteira assinada apenas um ano do período determinado. Mesmo sem saber quanto tem a receber, garante que já sabe como vai usar o recurso extra. ;Se tiver direito mesmo a esse dinheiro, não importa o valor que seja, eu com certeza vou pagar as contas;, afirma.

A empresária Leonor Machado, 51, diz que ficou sabendo da lei pelos jornais e embora tenha achado o valor total a ser liberado bom, acredita que a cota dela será pequena. ;Nem acho que compensa, se der muito trabalho eu nem vou atrás. Seria um valor extra na conta, mas tão pequeno que nem tenho planos de onde usaria e acho que não fará falta;, diz.

Domingos analisa que não buscar esse direito é um sinal da falta de educação financeira da população brasileira. ;É imprescindível buscar os recursos disponíveis para ter melhores condições de vida. Acredito que muitas pessoas não sacaram o valor por falta de informação. Portanto, é preciso divulgar para que os que mais necessitam não percam esse direito;, explica.


Valorização

Ricardo Rocha, diz que, a partir de R$ 50, o consumidor tem que ir buscar o dinheiro. ;É lógico que se tenho R$ 10 para resgatar e a condução vai custar R$ 8, eu diria que não compensa. Mas as pessoas precisam dar mais valor ao dinheiro, ele foi adquirido por mérito e esforço;, constata.

A analista de sistemas Fabíola Bezerra Martins, 51, também confessa que ainda não foi atrás para saber o valor que poderá sacar, mas acredita que será baixo. Como o dinheiro é extra e, até o momento, ela e a família têm conseguido pagar as contas, acredita que a melhor opção é guardar o dinheiro. ;Dependendo do valor, podemos deixar em uma conta poupança mesmo ou, se for algo mais significativo, pensar em um título, que é sempre interessante;, conta.

Paulo Sain, sócio do Minhas Economias, recomenda um colchão para imprevistos. ;Nunca se sabe como vai ser o futuro, então, é bom estar prevenido para qualquer contratempo. Mas acho que essa reserva para emergências é válida para quem já quitou as dívidas e se encontra com uma maior estabilidade financeira;, pondera.

* Estagiária sob supervisão de Simone Kafruni

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