Economia

Resultados dos principais setores da economia frustam investidores

Todos os indicadores mostram piora na percepção da atividade econômica, prejudicando ainda mais os investimentos e a retomada do emprego

Hamilton Ferrari
postado em 08/07/2018 08:00

A confiança na economia, que já estava em ritmo de queda, despencou depois da greve dos caminhoneiros. As incertezas nos cenários externo e local deixaram os empresários e os consumidores mais desconfiados sobre as condições de melhora do país. Todos os indicadores mostram piora na percepção da atividade econômica, prejudicando ainda mais os investimentos e a retomada do emprego. Houve frustração por parte dos empresários. No início do ano, a expectativa era de que haveria crescimento econômico mais intenso do que em 2017, quando o Produto Interno Bruto (PIB) registrou alta de 1%. A projeção inicial dos analistas indicava que o Brasil teria um desempenho na casa dos 3%. No entanto, a economia andou de lado no primeiro trimestre, com indústria, comércio, construção civil e serviços sem apresentar recuperação expressiva.

Aloísio Campelo, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), afirma que, na percepção dos empresários, o cenário piorou nos quatro maiores setores. Nos três primeiros meses de 2018, o PIB avançou 0,4% frente ao quarto trimestre do ano passado, mas, devido ao desemprego elevado, o consumo das famílias continua fraco.

De acordo com Campelo, a confiança vem caindo desde abril e, em junho, a queda se acentuou por conta da greve dos caminhoneiros, que travou a economia. A produção industrial de maio sofreu um tombo de 10,9%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para o economista da FGV, são grandes as chances de que o PIB do 2; trimestre seja negativo, minando, ainda mais, as expectativas de empresários e consumidores.

;Começou-se a perceber que a economia está rateando, e, por isso, a confiança andou de lado. O cenário externo passou a ser desfavorável, e o emprego não retomou o crescimento, como se esperava. Portanto, a confiança do consumidor começou a cair e houve uma recalibragem de expectativas;, destacou. A reversão do ambiente internacional diminuiu a atratividade do Brasil para os investidores, o que gerou fuga de recursos e desvalorização do real frente ao dólar.

Os economistas ouvidos pelo Banco Central (BC) na pesquisa semanal Focus pioraram as projeções para a recuperação da atividade. A expectativa de crescimento para 2018 passou a ser de 1,55%, mas há analistas revisando a previsão para patamares ainda mais baixos, inclusive menores do que 1%. Segundo o economista da FGV, o choque adicional de junho pode ser revertido nos próximos meses, mas tudo dependerá das eleições de outubro.
;Assumindo que não se tenha outro choque na economia, é possível que tenhamos uma melhora nos índices de julho, mas, em agosto, a situação será mais complicada, porque já estaremos no período eleitoral;, afirma Campelo. ;Haverá um efeito defasado dos cortes da taxa básica de juros (Selic), o que pode fazer a economia se normalizar. Mesmo assim, o pleito traz componentes de incertezas muito fortes para consumidores e empresários. Não se sabe qual a política econômica que será adotada pelo próximo governo;, completa o especialista.

Trovoadas

Em junho, a confiança na indústria despencou 5,9 pontos, indo para um patamar inferior de 50 pontos ; o que significa que os empresários não estão esperançosos com a economia no momento. O indicador marcou 49,6 pontos no mês, na maior queda da série mensal desde 2010. O gerente executivo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco, destaca que o setor já demonstrava frustração desde que o governo federal abandonou a reforma da Previdência, que ficou para o próximo ano.

Castelo Branco também observa que o cenário internacional menos amigável provocou a piora na percepção dos empresários. ;A greve dos caminhoneiros deixou uma deterioração e uma marca no ambiente econômico. A definição sobre a tabela do frete ; uma das pautas dos manifestantes ; até hoje não está pacificada. Alguns preços vão ficar mais caros;, diz ele. ;Não sabemos mensurar quanto é o efeito permanente e quanto é o efeito temporário na confiança;, acrescenta.

Rafael Cagnin, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), avalia que o governo federal demonstrou ;fraqueza; para gerenciar conflitos, como o ocorrido com os caminhoneiros, o que aumenta o grau de insegurança sobre a economia. ;Com as eleições, teremos um teste de risco, porque à medida que a recuperação se mantiver lenta e nos aproximarmos das eleições, haverá incertezas e volatilidade maiores. É um ano sujeito a trovoadas;, explica.

Zona de indiferença

No comércio, a situação não é diferente. O vendedor Francisco Araújo, 45 anos, empregado de uma loja de papelaria e produtos de informática, conta que as vendas refluíram e, durante a paralisação dos caminhoneiros, ficaram 10 dias ;travadas;. ;Todo o ramo foi afetado. Vendemos a metade do que costumávamos vender;, lamentou. ;Até agora, 2018 deixou muito a desejar. Não sentimos melhora em comparação com o ano passado. A expectativa era de superação da crise política, o que não ocorreu. Agora, só esperamos algo positivo para o próximo ano, num novo governo;, acrescenta.

O descontentamento se reflete nos índices de confiança tanto da FGV como da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), em que o indicador atingiu 82,3 pontos em junho ; abaixo, entretanto, da ;zona de indiferença;, que é de 100 pontos.

O economista-chefe da CNC, Fábio Bentes, afirma que houve melhora na percepção do comércio em abril, por conta de resultados positivos no setor. ;No quadrimestre, houve uma abertura líquida de 2,3 mil lojas. Desde 2014, o varejo não registrava isso;, destaca. ;No acumulado de 12 meses até agosto, ocorreram 61,6 mil contratações;, completa.
Apesar disso, a greve dos caminhoneiros enfraqueceu o índice, como mostra a pesquisa da FGV. Luzia Isabel Gomes, 57, diz que não vê avanços em sua loja de móveis e artesanatos. ;Desde 2014, estamos à espera de melhora. Dispensamos dois funcionários neste período e estamos sem perspectivas para contratação. Tudo ainda está muito incerto;, relatou a microempresária.

As incertezas também predominam no setor de serviços. ;Não se consegue perceber uma recuperação efetiva. A queda de janeiro a abril foi de 0,6%. O faturamento está praticamente estabilizado. A melhora deve ficar só para o segundo semestre. Então, é natural que se fique com o pé atrás;, explica Bentes.

Todo esse movimento é resultado de uma demanda ainda baixa. O consumo das famílias não alavancou. A confiança do consumidor, medida pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), registrou queda de 5% em junho, saindo de 41,5 pontos para 39,4 pontos. O movimento também foi sentido na pesquisa da FGV.
A economista-chefe da SPC Brasil, Marcela Kawauti, frisa que a confiança é baixa porque o mercado de trabalho ainda não deu sinais de grande melhora. ;Nós tivemos boas notícias na economia. No ano passado, houve aumento do consumo com a liberação do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), os juros e a inflação ficaram bem menores. Mas esse efeito não foi sentido de forma expressiva no mercado de trabalho, que pode ficar nesse patamar, correndo o risco de ter uma queda atípica nas eleições;, diz. ;Por enquanto, a greve dos caminhoneiros puxa para baixo, assim como a alta do dólar;, acrescenta.

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