Fugindo do modelo tradicional de negócios, startups têm ganhado espaço no mercado de locação e venda de imóveis. Usando a tecnologia, elas conseguem aumentar a quantidade e a qualidade das informações oferecidas aos clientes, simplificar o processo e reduzir burocracia e custos para quem procura alugar, comprar ou vender uma casa ou apartamento.
Para Hugo Giallanza, presidente da Associação das StartUps e Empreendedores Digitais do Brasil (Asteps), essas empresas são ferramentas eficientes para ajudar as pessoas a transpor dificuldades no processo de locação. Brasília oferece um cenário propício para o desenvolvimento das startups do ramo imobiliário. Cerca de 38 milhões de brasileiros moram de aluguel. E a capital é a cidade que tem o maior número de inquilinos no país: 23% das pessoas vivem em imoveis alugados, contra 18% da média nacional.
Desenvolvido por André Penha e Gabriel Braga em 2012, o site e aplicativo QuintoAndar promete facilitar a intermediação entre inquilinos e proprietários. Segundo João Gonçalves, diretor de Marketing e Expansão da empresa, um dos diferenciais fica por conta de um modelo que, mediante uma análise de crédito que avalia a capacidade de pagamento do candidato a inquilino, elimina a necessidade de apresentação de fiador, seguro fiança ou depósito caução. O contrato é de até 30 meses e pode ser rescindido sem pagamento de multa após o 12; mês.
Há vantagens também para o proprietário: mesmo que o inquilino caia em inadimplência, o dono do imóvel recebe o valor mensal do aluguel até o fim da ação de despejo ; e a startup também cuida desse processo. Além disso, o dono recebe uma proteção contra possíveis danos ao imóvel. Há ainda uma vistoria no final do contrato para reparo de paredes e cobertura contra danos. ;O QuintoAndar cresceu cinco vezes nos últimos cinco anos e cerca de 60 mil imóveis já passaram pela plataforma;, explica Gonçalves. Além do Distrito Federal, a empresa opera em São Paulo, Rio de Janeiro, Goiânia e Belo Horizonte.
O modelo de negócio também proporciona economia de tempo. Pelo site ou pelo aplicativo, o cliente consegue agendar o melhor horário para visitar o imóvel, por exemplo, e pode assinar o contrato por meio eletrônico, onde estiver. Para facilitar a decisão do cliente, o site traz fotos detalhadas do imóvel, em 360;. ;Dessa maneira, o cliente consegue ver o imóvel como ele realmente é, evitando visitas improdutivas;, explica Gonçalves.
Renda extra
Pessoas que vão viajar por um longo período também podem usar a plataforma para deixar o apartamento alugado, obtendo, assim, uma fonte de renda extra. Foi o que fez o executivo Paschoal Lourenço Paione, 74 anos, de São Paulo. ;Soube da empresa há um ano e a contratei. É uma maneira moderna de trabalhar. Mesmo se o inquilino não pagar o aluguel, eles cobrem. Mandaram um fotógrafo profissional, com fotos realistas e colocaram no site deles. Todo mês o dinheiro cai na minha conta. Não tive problema algum;, diz.
Moradora do bairro do Recreio, no Rio de Janeiro, a executiva comercial Juliana Faria, 31 anos, gastava quatro horas todo dia para ir e voltar do trabalho. Por meio do aplicativo, ela conseguiu alugar, sem fiador, uma casa mais próxima do emprego. ;Tinha dificuldade, porque minha família é de Minas e não tenho parentes na cidade. Hoje moro em Botafogo, na Zona Sul, e o processo de documentação foi ágil, em torno de 10 dias da análise do crédito até pegar a chave;, conta.
Precauções
O economista da Universidade de Brasília (UnB) Roberto Piscitelli afirma que as startups podem facilitar o processo de aluguel. No entanto, observa que nada é isento de riscos. ;É preciso tomar precauções em relação à empresa que vai contratar, procurar antecedentes;, alerta.Imobiliárias e instituições financeiras também se beneficiam dos aplicativos. Em São Paulo, a plataforma Infoprop, lançada em janeiro, oferece gratuitamente informações como data e preço transacionado de imóveis na cidade.
;É uma plataforma de preços transacionais, tanto para aluguel quanto para venda de apartamentos. Coletamos não o preço pedido, mas o valor fechado dos imóveis e repassamos os dados para clientes que precisam da informação final. Isso também ajuda os consumidores, pois a falta de informação torna o processo mais lento. As pessoas se sentem mais confortáveis para tomar decisões;, diz o presidente da empresa, Júlio Viana.
Em Brasília, outra plataforma gratuita, a UbiPlaces, que trabalha com a análise de dados e big data, também lançada em janeiro, auxilia quem procura por um imóvel com dados sobre preço médio dos apartamentos. O diferencial fica por conta das informações completas, com fotos e indicadores de ofertas de serviços no bairro, como custo de vida, tempo de deslocamento até o centro, linhas de ônibus, metrô, segurança, educação e até mesmo estado civil dos moradores da região. A atualização é diária e são 35 mil imóveis cadastrados.
Cofundador da UbiPlaces, Fábio Buiati conta que a startup nasceu de um projeto na UnB. ;Oferecemos informações sobre a vizinhança para ajudar o cliente a decidir. Tudo vai depender do que ele procura. As pessoas alugam não apenas o imóvel, mas também o local em que ele está situado;, diz Fábio. ;Se o cliente gosta de uma vida mais agitada, locais como Park Way e Lago Norte não são os mais indicados, pois não oferecem muitas opções de diversão. No site, ele consegue identificar opções na Asa Sul, Asa Norte ou Águas Claras, por exemplo.;
Para Hugo Giallanza, da Asteps, as startups chegaram para revolucionar o mercado. ;Como a tecnologia chega a vários lugares, a barreira geográfica não existe. Com os celulares, os aplicativos permitem que as pessoas acessem as informações sem se deslocar pela cidade, no conforto de casa. Além disso, o cliente tem maior argumento na hora de negociar. Esse modelo bate de frente com as imobiliárias tradicionais. É um momento em que tudo o que é tradicional está morrendo ou tendo que se reinventar para não ficar para trás;, afirma.